Se tornou o pioneiro de uma nova especialidade, por ele trazida ao país depois de um estágio na Europa, nos anos 40 – a reumatologia
Recurso à saída de emergência
Pedro da Silva Nava (1903-1984), o maior memorialista brasileiro. Poeta e pintor nas horas vagas, médico por mais de meio século e, fecundo escritor e memorialista mineiro. Uma obra extensa e sólida, talvez a mais poderosa obra literária que vinha sendo construída no Brasil nos últimos anos – o ciclo de memórias que, iniciado com “Baú de Ossos”, publicado em 1972, quando o escritor já avançava para os 69 anos, em 1983 atingiu seu sexto volume com o surgimento de O Círio Perfeito.
Extremamente ativo, e no auge de seu prestígio, o escritor trabalhara naquele que seria o sétimo volume da série, “Cera das Almas”. Formou-se em Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais em 1927 e participou da geração modernista de Belo Horizonte. Como escritor tornou-se o maior memorialista da literatura brasileira, autor de seis livros.
A vida e o mundo, nas frases de Pedro Nava
“Eu sou um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais.” (Baú de Ossos)
“Ouvi pela primeira vez a palavra greve – dita por uma de minhas tias, tão baixo e com um ar de tal escândalo, que pensei que fosse uma indecência (…) e corei até as orelhas.”
(Baú de Ossos)
“Eu faço é memórias. Autobiografia, só quem podia fazer era Napoleão Bonaparte. E assim mesmo resultou num péssimo livro.”
(Entrevista à imprensa)
“Foi um bom e sábio pontapé. Dele, nunca me arrependi. Arrependi-me, sim, dos que não dei por essa porca da vida afora – com tanta canela precisando.”
(Balão Cativo)
“Ninguém esquece coisa nenhuma.”
(Entrevista)
“Sou mineiro de propósito.”
(Entrevista)
“Digo sempre ‘seja o que Deus quiser’, ‘graças a Deus’, ‘Deus me livre disso ou daquilo’, mas não passam de expressões de momento. Sei que estou pedindo socorro em vão.”
(Entrevista)
“De piora em piora, vi o Brasil cair até a situação em que está hoje. É um país pelintra, caloteiro, sem saída, à beira do caos, e, no entanto, ninguém percebe isso.” (Entrevista)
“Só me falta uma experiência: morrer.” (Entrevista)
“Eu gosto da vida, apesar de não ser feliz. Gostaria de prolongar a vida um pouco mais, mesmo sabendo que muita coisa vai diminuindo com a idade.”
(Entrevista)
“Não dou a mínima importância ao chamado amor puro. O amor que interessa é o amor físico.” (Entrevista)
“Ele era político. Como político, capaz de idas e vindas, avanços e recuos, dos embustes, das negaças, das fintas, dos pulos-de-gato, dos blefes que são o lote de todos os que pertencem a tal estado – do Príncipe de Maquiavel, de Luís XI, Churchill, ao último vereador de Santo Antônio do Desterro.”
(Galo das Trevas)
(Fonte: Veja, 23 de maio, 1984 – Edição 820 – Memória/ Pág; 80 – Datas – Pág; 75)