Gomide: a influência cubista
Antonio Gonçalves Gomide (Itapetininga, São Paulo, 3 de agosto de 1895 – Ubatuba, 31 de agosto de 1967), pintor, escultor e professor, foi um dos grandes nomes da Primeira Geração de Modernistas.
Falecido em agosto de 1967, aos 72 anos, o paulista Antônio Gomide foi uma das descobertas do emergente mercado brasileiro, que pouco a pouco destaca suas obras e salienta uma revisão em seu valor.
De suas obras destacam-se pequenas aquarelas inéditas, que pertenciam à família do artista. Na maior parte, são obras de circunstância, estudos para painéis decorativos para carnaval, para afrescos, para vitrais. Mas são interessantes justamente pela despretensão e pelo período que documentam, na carreira do autor.
Pintadas nas décadas de 20 e 30, as mais antigas em Paris, elas registram a presença do artista brasileiro junto a algumas tendências mais avançadas da época, como o “Art Déco”, com seus elementos decorativos característicos, e o cubismo – a influência predominante sobre Gomide.
Sua obra apresenta mudanças de rumo ao longo de quase 50 anos de produção, particularmente depois dos anos 30.
Pertencente a elite paulista, era um homem cultivado de bela aparência física e esportista; praticava o boxe inglês e a esgrima. Filho de um jurista, sua formação artística se deu em Genebra, onde já vivia com a família antes da Primeira Guerra Mundial. Frequentando com a irmã a Academia de Belas Artes, foi aluno do simbolista Ferdinand Hodler (1853-1918) e colega do pintor John Graz, que se tornaria seu cunhado.
Entretanto, o que marcaria profundamente sua obra seria a experiência parisiense, a partir de 1923. Nesta oportunidade, convive com os modernistas brasileiros Tarsila do Amaral e Victor Brecheret, que lá estavam. Entra em contato também com a arte de Pablo Picasso, Georges Braque, Francis Picabia, Gino Severini, André Lhote, entre outros.
Gomide destacava-se no grupo da Primeira Geração de Modernistas por sua experiência com a técnica do afresco, a partir de 1924, quando teve com mestre Marcel-Lenoir, em Toulouse. Neste período, aborda temas religiosos, como faziam Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret.
Voltando ao Brasil, em 1928, Antônio Gomide passa a integrar-se cada vez mais ao panorama nacional, residindo em São Paulo. Participa do cenário artístico e político da cidade; alista-se nas tropas constitucionalistas da Revolução de 32. Neste mesmo ano, funda o CAM (Clube dos Artistas Modernos), juntamente com Flávio de Carvalho, Carlos Prado e Di Cavalcanti. Como Oswald e Tarsila, torna-se socialista e sua arte volta-se, no decorrer dos anos 30, à temática nacional e popular, com ênfase na sensualidade e no ritmo das figuras africanas.
Sua pintura percorre os esquemas decorativos cubistas do Art Déco – como nos cartões de estamparia, nos estudos de painéis e vitrais e na arte religiosa dos anos 20 -, bem como uma fatura expressionista – nas figuras toscas, com ausência de desenho. Além desta participação efetiva na modernidade paulistana, pode ser recordada sua significativa produção de painéis em afrescos e vitrais espalhados pela cidade, mantendo os esquemas estilizados do Art Déco.
Nos anos 60, a perda de sua visão o obriga a mudar novamente seu destino como artista. Em uma relutância em abandonar a arte, dedica-se à lecionar, transmitindo para novas gerações a herança modernista. É a escultura, no entanto, que permite o artista a continuar sua produção, apesar da dificuldade em enxergar. Com a visão bastante comprometida, retira-se para Ubatuba, onde vive em reclusão até a sua morte, em 1967.
(Fonte: Veja, 5 de dezembro de 1973 Edição 274 ARTE/ Por Olívio Tavares de Araújo Pág: 126/130)
(Fonte: http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/artistas/gomide)