Em frases de Marielle Franco, resistência, favelas e críticas a machismo e violência
Acervo reúne 15 declarações da vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, assassinada junto com o motorista, publicadas em entrevistas e artigos. ‘Quantos mais vão precisar morrer?’
Marielle Franco (1979-2018), militante dos direitos humanos, da igualdade de gênero e racial, vereadora carioca (PSOL)
A jovem vereadora, de 38 anos, deixou um legado àqueles que acreditam na promoção da igualdade e na prioridade que deve ser dada à educação no país. Após frequentar um pré-vestibular de uma ONG oferecido na Maré, Marielle Franco se formou socióloga na PUC-Rio e, depois, tornou-se mestre em administração pública pela UFF, chegando a coordenar a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Durante uma década ela foi assessora do deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL.
Eleita em 2016, Marielle obteve 46.502 votos e foi a quinta vereadora mais votada na capital fluminense. O Acervo O GLOBO listou 15 frases marcantes de Marielle, publicadas no jornal em entrevistas e artigos nos últimos anos, além de registros feitos nas redes sociais.
1) “As rosas da resistência nascem no asfalto. A gente recebe rosas, mas vamos estar com o punho cerrado falando de nossa existência contra os mandos e desmandos que afetam nossas vidas.” – Em 08/03/2018, ao receber flores de um homem no plenário da Câmara dos Vereadores do Rio enquanto fazia um pronunciamento sobre o Dia Internacional da Mulher.
2) “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?” – Em 13/03/2018, ao desabafar, em uma rede social, sobre a morte de mais um jovem em comunidades do Rio, dessa vez no Jacarezinho.
3) “De jeito nenhum (entraria para a política). Quero ser pesquisadora.” – Quando ainda era assessora do deputado estadual Marcelo Freixo e ouviu de seu orientador de monografia, o professor da PUC-Rio Ricardo Ismael, que acabaria entrando para a vida pública.
4) “É preciso garantir que as favelas sejam também cidades. Já que elas estão por todo o município.” – Em 19/09/2016, ao comentar suas propostas para o município durante a campanha eleitoral daquele ano, em entrevista ao GLOBO.
5) “É preciso romper com a naturalização do assédio no carnaval.” – Em 13/02/2018, ao comentar os diversos casos de assédio sexual ocorridos durante o carnaval na cidade, em artigo publicado na seção de Opinião do GLOBO.
6) “Fiquei impressionada com a falta de cuidados nas indicações (às secretarias do Rio). Esse caso na área de direitos humanos não combina com a promessa do novo prefeito de cuidar das pessoas e fazer uma nova política.” – Em 18/01/2017, ao criticar a nomeação de Arthur Fuks para a Subsecretaria de Inclusão Produtiva da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos, feita pelo prefeito Marcelo Crivella. Fuks foi afastado logo após a nomeação por postagens no Facebook com mensagens que não combinariam com a filosofia do órgão.
7) “Me proponho a atuar coletivamente para garantir direitos num espaço tão machista como o Estado.” – Em 20/09/2016, durante a campanha eleitoral, ao comentar suas propostas para a Câmara dos Vereadores do Rio.
8) “Eu debato o feminismo no sentido mais amplo, de que esse governo do PMDB agride as mulheres diariamente, na defasagem de vagas nas creches, no caos do transporte público.” – Em 04/10/16, ao comentar a agressão do então candidato à prefeitura do Rio Pedro Paulo (MDB) à sua ex-mulher Alexandra Marcondes.
9) “As ações (alteração nas atribuições da Guarda Municipal) deveriam ser para garantir melhores condições de trabalhos dos agentes, aumento de seus rendimentos e efetivos.” – Em 09/01/2017, ao criticar a decisão do prefeito Marcelo Crivella de utilizar a Guarda Municipal nas ações de segurança na cidade do Rio, em artigo publicado na seção de Opinião do GLOBO.
10) “No Rio, já tivemos várias experiências de intervenções desastrosas, como a do Exército na Maré. Ela durou cerca de um ano, no período de Copa e Olimpíadas. Gastou-se R$ 600 milhões, um investimento enorme que poderia ser usado em políticas efetivas.” – Em 19/02/2018, ao criticar a intervenção federal na segurança do Rio, em um post no Twitter oficial da vereadora.
11) “O general da intervenção disse que o Rio de Janeiro é um laboratório para o Brasil. E nós somos as cobaias?” – Em 27/02/18, ao criticar a intervenção federal na segurança do Rio, também em um post no seu Twitter oficial.
12) “O corpo negro é elemento central na reprodução de desigualdades. Está nos cárceres repletos, nas favelas e periferias designadas como moradias.” – Em 01/12/2017, ao lamentar a situação da população negra no Brasil, em artigo publicado na seção de Opinião do GLOBO.
13) “Um dia (o prefeito Crivella) diz que vai cuidar, no outro dá rosas e no seguinte chega destruindo os quiosques onde trabalhadoras e trabalhadores tiravam seu sustento.” – Em 10/03/18, ao criticar, em um post em seu perfil oficial no Facebook, uma ação de funcionários da Prefeitura do Rio, que removeram quiosques em praça da Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio, onde o Exército fez operações.
14) “Fico muito indignada quando ouço essas histórias. Esquema de propina envolvendo transporte, saúde, moradia. É a vida da população em jogo, e esses mercenários só querem saber de dinheiro e poder.” – Em 23/01/2018, ao comentar, em um tweet em sua conta oficial, um desdobramento da operação Lava-jato que prendeu o ex-secretário de Obras do Rio Alexandre Pinto da Silva.
15) “Que tal procurar em outras malas, que estão em mansões e helicópteros?” – Ao questionar o fichamento realizado pelo Exército de moradores da Vila Kennedy, no dia 23 de fevereiro de 2018, no início da intervenção militar na segurança do Rio, que, para a vereadora, “é uma farsa”.
(Fonte: http://acervo.oglobo.globo.com – EM DESTAQUE / Por Luciano Ferreira* – 16/03/18)
* estagiário sob supervisão de Gustavo Villela, editor de Acervo e Qualificação