Betty Prado, musa dos anos 1980
Ex-modelo, adorada por Calvin Klein e Dolce & Gabbana
Foi a primeira brasileira a participar do Supermodel of the World, em 1981, ficando na segunda posição.
Antes de Linda Evangelista, Naomi Campbell e Cindy Crawford despontarem no cenário internacional, Betty Prado já era relevante no mundo da moda. A paulistana, que surgiu no começo dos anos 1980, após ficar em segundo lugar no Supermodel of the World, concurso organizado pela agência Ford, era vista com frequência nos desfiles das grifes Calvin Klein, Giorgio Armani e Dolce & Gabbana.
Mas ela gostava mesmo da irreverência da Moschino e de vestir as criações conceituais dos japoneses Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo, da Comme des Garçons. Frustração, só teve uma: nunca foi escalada por Gianni Versace para um desfile da casa italiana.
A ex-modelo, que fez história num tempo em que o exotismo, definitivamente, não era o look da vez. — No início da minha carreira, o visual era bem comercial. E eu não me encaixava. Não era perfeita. Tanto que perdi o concurso da Ford para a Renée Simonsen, uma dinamarquesa que representava o padrão vigente, já que era loura e tinha olhos claros e bocão. Meu trunfo era a minha personalidade.
O fotógrafo alemão Helmut Newton, é o autor de algumas das fotos mais emblemáticas de sua carreira.
— Ele me escolheu para fazer a campanha de um perfume masculino de Karl Lagerfeld, em 1985, da qual acabei virando a protagonista. Ele se apaixonou por mim, no bom sentido, e me transformou em sua musa. Foi um encontro de almas — recorda a paulistana. — Quando deixei a carreira, em 1994, já tinha construído uma amizade com Newton e sua mulher, June. Estava sempre com eles em Monte Carlo ou Los Angeles. Lembro que passava tardes inteiras no estúdio com o Newton aprimorando o meu olhar.
A ligação entre eles era tão forte que o alemão não hesitou em chamar Betty num canto, no dia em que estavam fotografando uma campanha para Yves Saint Laurent, para lhe dar um conselho de cunho sentimental.
— Ele disse que eu não era uma mulher para homens, que eu era mulher para outra mulher. Que a delicadeza do meu amor, só uma mulher poderia acolher; e que gostaria que eu fosse feliz. Sempre fui gay, mas não era algo que eu compartilhava. Depois desse momento, fiquei mais aberta — lembra Betty, que não vê problema algum em assumir numa entrevista que está apaixonada.
‘A IDADE NÃO PEGA’
Betty voltou aos holofotes ano passado com a divulgação de fotos inéditas feitas por Newton, em 1986, para o Calendário Pirelli. As imagens foram publicadas na 50ª edição da concorrida folhinha. Para a surpresa de todos:
— Recebi uma ligação da Pirelli me convidando para o lançamento do calendário, em Milão. E não entendi o motivo. Cogitei não ir, pois estava muito atarefada. Só fiquei sabendo que eu seria a estrela do The Cal na coletiva de imprensa. Fechou com chave de ouro minha trajetória na moda como modelo.
Betty acompanhou de perto o nascimento de todas as supermodelos dos anos 1990. Era comum a paulistana, já com status de top internacional, desfilar ao lado de Linda, Cindy e Naomi.
— Elas eram new faces e tinham muito respeito por todas que estavam instituídas. A relação era tranquila — comenta Betty, muito fã da controversa top americana Gia Carangi. — Trabalhamos bastante juntas, pois o mercado achava que éramos parecidas. Ela era deliciosamente louca. O filme estrelado por Angelina Jolie fez jus a ela. Gia caiu nas drogas e morreu cedo, aos 26, mas deixou sua marca. Outra que me impressionava era a Inès de La Fressange. Sempre teve atitude. Linda também foi um marco.
Ao contrário de muitas colegas, Betty não foi descoberta na porta do colégio ou enquanto dava uma voltinha na Avenida Paulista. Ela começou a fotografar incentivada por uma amiga. Como estava desempregada, topou. Dois meses após o primeiro clique, foi apadrinhada por Eileen Ford, que veio ao Brasil escolher uma menina para representar o país no Supermodel of the World, em Nova York. Como ficou entre as três mais bem colocadas, foi morar na casa de Eileen, onde ficou dos 17 aos 20 anos.
— Fui para Nova York sem saber o que iria acontecer. Lembro que levei apenas o meu skate. Morei oito anos na cidade. Foi difícil ficar longe da minha família, dos meus amigos. Não falava inglês. Mas a projeção que o concurso me deu foi incrível — conta ela, que fez sua estreia nos estúdios nova-iorquinos com Steven Meisel. — Fiz também muitos desfiles e uma campanha de underwear para a Calvin Klein. Em seguida, participei de shows de Valentino e de vários outros designers na Europa. Eu era uma exceção. Na minha época, era raro ter moças tão novas nas passarelas de estilistas renomados. As estrelas eram Jerry Hall, Dalma Callado e Iman.
Betty entrega que está pesando 66 quilos — o que ela considera uma vitória, já que passou dos 50. Nos tempos em que dava seus pivôs em Paris, a balança apontava 58. Mas nada que a impeça de sair por aí com peças vintage da Comme des Garçons, sua grife favorita. Ela, aliás, não acha o fim do mundo envelhecer.
— Tenho um espírito muito moleque, meio Peter Pan. A idade não pega.
Desde que voltou para o Brasil, na década de 1990, procurou colocar em prática tudo o que aprendeu lá fora. Foi diretora do Phytoervas Fashion (que mais tarde se tornaria a São Paulo Fashion Week) e teve a oportunidade de provar que não era apenas um rosto bonito. Trabalhou também com branding, na TV Globo, e fez recentemente o Bemglô, um híbrido de site e e-commerce, feito em parceria com Glória Pires e Orlando Morais.
— O portal é inspirado no lifestyle da Glória, de quem sou amiga há 30 anos. Seguimos os moldes do Goop, de Gwyneth Paltrow.
(Fonte: http://ela.oglobo.globo.com/vida -14894452#ixzz3hOzbkmvV – VIDA/ Por GILBERTO JÚNIOR – Publicado: 22/12/14)
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