Pierre Verger, foi fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador dos costumes e das religiões de matriz africana

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Artista e etnólogo, estudou relação entre o candomblé da Bahia e o africano, do Benin, e deixou 62 mil negativos e biblioteca especializada de 3 mil volumes

Pierre Edouard Leopold Verger era francês de nascimento, mas baiano “de alma e honra”, como ele mesmo costumava definir. 

Pierre Edouard Leopold Verger (Paris, 4 de novembro de 1902 – Salvador, 11 de fevereiro de 1996), foi fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador dos costumes e das religiões de matriz africana.

Verger nasceu em 4 de novembro de 1902, numa tradicional família burguesa francesa. Em 1932, com a morte da mãe, começou a viajar e a fotografar, após ter recebido os primeiros ensinamentos de fotografia do amigo Pierre Boucher, e também uma câmera Rolleiflex, que lhe acompanharia durante toda a vida.

Ainda nos anos 1930, Verger passou a viver como fotógrafo profissional, trabalhando para várias publicações, para financiar suas viagens pelo mundo. Durante 16 anos andou pelos quatro continentes até aportar em Salvador, no período do pós-guerra, passando a viver e registrar as relações entre o candomblé da Bahia e o africano, em Benin.

Quando descobriu o candomblé, acreditou ter encontrado a fonte da vitalidade do povo baiano e se tornou um estudioso do culto aos orixás, procurando sempre respeitar as obrigações de segredo da religião. Esse interesse pela religiosidade de origem africana lhe rendeu uma bolsa para estudar rituais na África, para onde partiu em 1948. Foi na África que Verger viveu o seu renascimento, recebendo o nome de Fatumbi, “nascido de novo graças ao Ifá”, em 1953. A intimidade com a religião, que tinha começado na Bahia, facilitou o seu contato com sacerdotes e ele acabou sendo iniciado como babalaô — um adivinho através do jogo do Ifá, com acesso às tradições orais dos iorubás.

Mas Verger foi mais que fotógrafo, deixando publicados importantes estudos sobre a cultura afro-brasileira, como “Orixás, fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos” e “Notícias da Bahia – 1850”. O reconhecimento de seu trabalho lhe valeu o título de doutor em Etnologia pela Universidade de Sorbonne, mesmo tendo abandonado os estudos formais aos 17 anos. Em entrevista ao GLOBO em outubro de 1995, Verger, que estava no Rio para o lançamento do seu último livro, “Ewé: o uso das plantas na sociedade iorubá”, disse:

— Eu era apenas um fotógrafo fazendo fotos. Felizmente, não era um intelectual de ponta com uma hipótese de trabalho pronta. Não tive que provar nenhuma teoria prévia.

Em 1988, Verger transformou sua casa vermelha, na Ladeira da Vila América, em Salvador, em sede da fundação que leva o seu nome. Não é uma casa grande, mas lá está abrigado todo o seu acervo: 62 mil negativos, uma biblioteca especializada de cerca de três mil volumes, 3.500 espécies de plantas catalogadas, mais de mil horas de gravações de músicas e depoimentos sobre a cultura iorubá, documentos e sua coleção de objetos afro-brasileiros. Convidou amigos ilustres, como o pintor Carybé, o escritor Jorge Amado e a arquiteta Lina Bo Bardi, para integrarem o primeiro conselho da fundação, que continua a divulgar e manter a sua obra.

Pierre Verger, Jorge Amado e Carybé, em 1981 (Foto: Amigos de uma vida inteira)

Pierre Verger, Jorge Amado e Carybé, em 1981 (Foto: Amigos de uma vida inteira)

Pierre Fatumbi Verger morreu em 11 de fevereiro de 1996, aos 93 anos, de insuficiência cardíaca enquanto dormia em sua casa do Morro do Corrupio, em Salvador, onde viveu por opção e paixão desde 1946. Na véspera da sua morte, recebeu Gilberto Gil e uma equipe de cineastas para aquela que seria sua última entrevista, parte do processo de produção do documentário “Pierre Fatumbi Verger: mensageiro entre dois mundos”, dirigido por Lula Buarque de Holanda e lançado em 1999. Nessa entrevista, publicada pelo GLOBO em 22 de dezembro de 1996, Verger assim descreveu seu encantamento pela Bahia que ele adotou:

— A Bahia tem um certo charme que você talvez não perceba tanto por ter nascido aqui. Eu passei cinco anos no Peru, entre os índios, que são interessantes, mas muito fechados. Ao chegar aqui na Bahia encontrei um povo muito aberto. Foi algo que me lembrou o tempo muito agradável que passei na França, quando frequentava os bailes dos negros das Antilhas.

Pierre Verger clicou foliões de 1941 em um bonde para Cascadura

(Fonte: http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos -18645335 – FATOS HISTÓRICOS – CULTURA – 10/02/16)

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