A primeira cena de nudez em Hollywood
Annette Kellerman quebrou barreiras ao aparecer nua em “A Daughter of the Gods”, de 1916
Annette Kellerman (Sydney, Austrália, 6 de julho de 1886 – Queensland, Austrália, 5 de novembro 1975), nadadora australiana ficou famosa por filme, mas fez carreira que inspirou feminismo e transcendeu o mundo do showbiz.
Nua, sentada em um tronco de árvore, braços lançados para cima. Os cabelos longos cobrindo os seios.
A pose pode não parecer ousada para os dias de hoje, mas em 1916 a cena fez parte de um importante evento na história do cinema. Annette Kellerman é considerada a primeira estrela – masculina ou feminina – a aparecer nua em uma grande produção de Hollywood.
O drama A Daughter of the Gods (Uma Filha dos Deuses em tradução livre) teve a atriz no papel de Alícia, uma mulher que se apaixona por um príncipe e pede ajuda dos habitantes da Terra dos Gnomos. O elenco do filme mudo incluiu um sultão, uma Bruxa do Mal, uma Fada do Bem, e diversos eunucos. Acredita-se que não existam mais cópias da produção, mas os arquivos dos jornais mostram que houve grande interesse.
Um anúncio promovendo o filme para donos de cinema dizia: “A produção teve lucro por onde quer que passou. Reserve a sua (cópia) agora”.
Natação
Quando A Daugther of the Gods estreou na Austrália, o país natal de Kellerman, uma revista local exaltou o filme ao dizer que aqueles que não o viram “tinham perdido um dos maiores eventos na história” australiana.
Mas se foi inédito para a Hollywood, o filme foi apenas um de uma série de eventos notáveis na vida de Kellerman. Campeã de natação, pioneira do teatro vaudeville, estilista de trajes de banho, dublê e mesmo guru de saúde e boa forma.
Kellerman deteve todos os recorde mundiais femininos de natação
Ela simbolizava o corpo feminino em forma, ativo e espetacular. Ela conclamou outras mulheres a jogar fora seus corpetes e investir numa vida saudável, algumas pessoas a viram como um ícone da feminilidade moderna.
Nascida em Sydney, em 6 de julho de 1887, de pais músicos, Kellerman sofreu raquitismo na infância e fez natação para cuidar da fraqueza nas pernas. Aos 13 anos, já estava curada. No início do novo século, a australiana se tornou a detentora de todos os recordes mundiais femininos.
Kellerman estava a par do interesse despertado por seus êxitos, então organizou exibição em que nadava com peixes em um aquário e mesmo praticava saltos ornamentais dentro de um teatro.
Em 1905, Kellerman se mudou para o Reino Unido e nadou 27 km no Rio Tâmisa. No mesmo ano, ela tentou, sem sucesso, tornar-se a primeira mulher a cruzar a nado o Canal da Mancha. Percorria teatros britânicos e americanos fazendo exibições aquáticas, combinando balé aquático com saltos de trampolim. Em Chicago, por exemplo, ela saltou do alto de um mastro de um navio, a 21 m de altura. Em 1914, a australiana já ganhava US$ 2500 por semana – o equivalente a mais de US$ 60 mil nos dias de hoje.
Suas inovações também chegaram ao mundo da moda. Em 1905, quando ia se apresentar à família real britânica, em Londres, Kellerman foi avisada pelo organizadores que não poderia usar o traje curto que costumava. A solução foi costurar meias-calças ao maiô, criando um traje mais longo que abriu caminho para o mercado feminino das roupas de banho – dois anos mais tarde, ela criou até sua linha de maiôs, em um estilo que ganhou seu sobrenome.
Foi também em 1914 que Kellerman começou a participar de filmes. No primeiro, Neptune’s Daughter, ela usou um macacão cor de pele para as cenas aquáticas. A Daughter of the Gods veio em seguida e, na época, teve um dos orçamentos mais caros da história – US$ 850 mil. Segundo a revista especializada Variety, o filme arrecadou quase US$ 1,4 milhão.
Em algumas cenas, a atriz usou um maiô, mas não em outras. Mas o filme teve uma recepção crítica favorável, apesar de algumas cidades americanas e australianas terem tentado barrar sua exibição.
Sua fama fez com que buscasse voos mais altos: em 1920, ela até desenvolveu uma rotina transformista, algo bastante ousado para a época, interpretando o papel de um gentleman chamado English Johnny. O último filme de Kellerman foi Venus of the South Seas, filmado na Nova Zelândia e lançado em 1924. Foi um dos primeiros a ser filmado em cores.
Nessa época, Kellerman já explorava o lado personal trainer, fazendo palestras sobre saúde e boa forma, oferecendo aulas de ginástica por correspondência e mesmo abrindo uma loja de produtos naturais na Califórnia. Mas ela ainda é mais lembrada por ter tirado a roupa na frente das câmeras.
Ela nunca se definiu como uma feminista, mas de muitas maneiras era uma. A feminilidade no Ocidente no início do século 20 era algo complexo e que estava mudando.
Em 1952, a nadadora, atriz e empresária foi tema de um filme, Million Dollar Mermaid (A Sereia de Um Milhão de Dólares, em tradução livre), estrelando outra atriz vinda das piscinas, Esther Williams. Kellerman achou o filme biográfico meio “água com açúcar”. Ela, que era capaz de dar chutes altos mesmo em idade avançada, morreu em 1975, aos 88 anos. Não sem antes dizer que A Daughter of the Gods fora a melhor coisa que já tinha feito.
(Fonte: http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2016/02 – CINEMA/ Justin Parkinson Da BBC News Magazine – 22/02/2016)
(Fonte: http://gente.ig.com.br/cultura/2016-02-22 – GENTE – CULTURA – Há 100 anos, Hollywood tinha sua primeira cena de nudez – 22/02/2016)