Foi a primeira a usar a classificação de MPB

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Foi a primeira a usar a classificação de MPB

Nara Leão (1942-1989), artista que sempre assumiu um compromisso com o pioneirismo e com a coerência musical. Capixaba, nascida em Vitória no dia 19 de janeiro de 1942, filha de uma professora, a dona Tinoca, e de um advogado, o Dr. Jairo Leão (que entrou para a história por ter sido o dono do apartamento que serviu de berço a bossa nova), Nara surgiu ofuscada pela exuberância de Danuza, a irmã mais velha e que, já nos anos 50, era uma modelo famosa e casada com o jornalista Samuel Wainer. Intimidada, Nara preferiu ressaltar o seu jeito calado, mas sem esconder o bom humor. Ano depois ao ser rotulada como musa da bossa nova, rejeitou a honraria e preferiu se classificar como “muda” da bossa nova.
Cresceu no panorama musical brasileiro como a intérprete com um talento inato para produtora. Era inquieta e inovadora. Nasceu na bossa nova, cresceu nos shows universitários, subiu o morro para ouvir sambistas tradicionais, foi a primeira a usar a classificação, hoje corriqueira, de MPB, protestou (cantando e falando) contra a ditadura que se instalava no país, entrou em disputas com a contemporânea Elis Regina, ajudou a revelar dezenas de compositores, aliou-se aos tropicalistas e foi um dos ícones da fase áurea dos festivais da canção. Traduzia de forma pessoal canções otimistas (O Sol Nascerá, de Cartola) e pessimistas (Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes); interpretações engajadas (Opinião, de Zé Kéti) e alienadas (Nasci para Bailar, de João Donato e Paulo André), clássicos de repertório cubano (Guantanamera) e pérolas do cancioneiro americano (My Foolish Heart).
Nara fez muito em muito pouco tempo. Nos últimos 10 anos, foi assombrada por um tumor cerebral que se manifestou pela primeira vez em 1979, quando ela tomava banho e passou a sentir tonturas. Chegou a procurar um médico, que diagnosticou um câncer, mas não falou nada a ela, explicando a gravidade da doença ao pai da cantora, que se suicidou dois anos depois e não contou o que sabia a ninguém.
Na fase final, Nara conviveu com o sofrimento, teve tonturas, amnésias e ausências. Na luta contra o câncer, tratou-se com médicos no Brasil e nos Estados Unidos, buscou cuidados convencionais e alternativos e, ao apresentar sinais de melhora, acreditava que ficaria recuperada. Infelizmente, não teve tempo. Foi internada no dia 18 de maio de 1989 e morreu 20 dias depois. Tinha apenas 47 anos.

(Fonte: Zero Hora – N° 15.985 – Ano 46 – 7/06/09 DONNA ZH – Memória/Por Márcio Pinheiro – Pág; 15)

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