Julio de Mesquita Neto (São Paulo, 1922 São Paulo, 5 de junho de 1996), representante da terceira geração dos Mesquita, família quatrocentona de grandes cafeicultores paulistas. Diretor responsável do jornal O Estado de S. Paulo. Ele assumiu a direção do jornal em 1969, com a morte do pai, Julio de Mesquita Filho. Na época, o país se encontrava sob o regime ditatorial do AI-5. Enquanto outros barões da imprensa praticavam a autocensura e adulavam o regime militar, Julio de Mesquita Neto optou por colocar os interesses do país, e a tradição liberal de sua família, acima dos interesses comerciais da empresa: sob sua direção, O Estado de S. Paulo exibiu durante anos a fios as cicatrizes do arbítrio, publicando versos de Luís de Camões para deixar claro que havia censores na redação, vetando reportagens e artigos. Em reuniões internacionais, Julio de Mesquita sempre denunciava a censura e a perseguição de presos políticos no Brasil. Independente, também apoiou muitos aspectos da política econômica da ditadura e atacou o terrorrismo de esquerda, que chegou a praticar atentados contra o jornal.
Ao contrário dos antecessores, que se envolveram diretamente na vida política do país – o avô foi deputado na República Velha, o pai lutou no movimento constitucionalista de 1932, teve de se exilar durante a ditadura de Getúlio Vargas e foi o principal articulador civil do 31 de março de 64 -, Júlio Neto exerceu a influência da família nos editoriais publicados na página 3 do Estadão. Julio de Mesquita Neto não escrevia: algumas vezes ditava suas ideias aos articulistas ou sugeria um tema para ser desenvolvido.
Sua grande obra, no entanto, foi outra: ter defendido a liberdade numa quadra da vida nacional em que isso era perigoso. E não por marketing, ou para vender jornal, mas porque acreditava que certos princípios eram inegociáveis. Com sua atitude, contribuiu para dar uma dimensão cívica, republicana, à imprensa brasileira e enobreceu a profissão de jornalista.
Pessoalmente, Julio de Mesquita Neto era um homem retraído, tímido, que praticamente vivia para o jornal. Metódico, acordava cedo, lia os jornais e seguia no começo da tarde para a redação do Estado, já com todos os erros anotados. Com os amigos, vencia a timidez, tornando-se afável e bem-humorado. Julio de Mesquita Neto deixa uma lição de liberdade. O jornalista Oliveiros S. Ferreira, assumiu seu lugar na direção do jornal. Julio de Mesquita Neto, morreu no dia 5 de junho de 1996, aos 73 anos, de câncer, em São Paulo.
(Fonte: Veja, 12 de junho de 1996 – ANO 29 N° 24 – Edição 1448 – Datas – Pág; 111)