Castor Gonçalves de Andrade Silva, bicheiro carioca. Castor herdou sua banca de bicho da avó materna. Tinha 20 anos, não entendia nada de jogo, sua mãe o ensinou tudo. Ele aprendeu logo a lição. À frente do negócio ilegal, tornou-se figura de destaque do submundo da contravenção e, durante muito tempo, foi uma espécie de chefe dos bicheiros do Rio de Janeiro. Para o cidadão comum, quendo se falava em jogo do bicho, o primeiro nome que vinha à mente era o de Castor de Andrade. Vaidoso, formado em direito, ele gostava de badalar em casas noturnas e de freqüentar restaurantes de luxo. Era amigo de socialites e empresários. Nunca me senti rejeitado. Sempre fui um gastador, alardeava. Presidente do Bangu e da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, Castor definia-se como um senhor de respeito, cumpridor dos deveres.
Sou um cidadão disciplinado, respeitador das autoridades, dizia.
Num livro apreendido pela polícia em 1994 estavam registradas as propinas que dava regularmente para não ser incomodado. Da lista dos subornados constavam os nomes de 45 oficiais da Polícia Militar, 49 delegados da Polícia Civil, dois juízes e um promotor. Ele também era benfeitor de diversas igrejas. Somos ecumênicos nas ações de caridade, afirmava, com inabalável cinismo.
Em 1993, juntamente com outros bicheiros importantes, Castor foi condenado a seis anos de prisão por formação de quadrilha. Permaneceu foragido até ser reconhecido no Salão de Automóvel, em São Paulo, apesar dos cabelos tingidos e do bigode que lhe serviam de disfarce. Há nove meses, em função dos problemas cardíacos de que sofria, o Superior Tribunal de Justiça concedeu-lhe o direito à prisão domiciliar, em regime semi-aberto. Casado por duas vezes, pai de quatro filhos, Castor protagonizou, com sua mulher, Ana Cristina Bastos Moreira, um festival de baixarias em maio de 1996. Acusado por Ana Cristina de ser mandante de assassinatos e outros crimes, o bicheiro rompeu em público com a mulher. Sinto-me como o personagem central da trama de Dostoievski em Humilhados e Ofendidos, chegando mesmo ao desespero de achar que viver passa a ser pior do que morrer, comparou. Apesar da troca de acusações e desaforos, os dois reconcliliaram-se poucos meses depois.
Castor de Andrade, morreu no dia 11 de abril de 1997, aos 71 anos, de parada cardíaca no Rio de Janeiro.
(Fonte: Veja, 16 de abril de 1997 – Edição 1491 Datas)