O homem que viveu dobrado
Namoros, resenhas, gols e o polêmico impacto da morte do “atacante-papagaio” da Copa de 1986
Galã dos anos 80
Edivaldo Martins Fonseca (Ipatinga, 13 de abril de 1962 – Boituva, 14 de janeiro de 1993), jogador de futebol nascido em Volta Redonda, no Rio de Janeiro.
Ponta-esquerda ofensivo e driblador.
Edivaldo começou sua carreira profissional no Atlético Mineiro em 1982, jogou no São Paulo e no Palmeiras e disputou a Copa do México em 1986.
Edivaldo iria para o Japão onde assinara um contrato com o time Panasonic Gamba, de Osaka.
Edivaldo foi um habilidoso ponta-esquerda com passagens pelo Atlético-MG, São Paulo e Palmeiras, entre outros, e que também atuou no futebol mexicano, pelo Puebla.
Telê Santana o levou para a disputa da Copa do México, em 1986.
Jogador da seleção com passagem por grandes clubes do Brasil, empresário e, ainda, um jovem bonito. Edivaldo Martins da Fonseca era o que se chamava, nos anos 80, de um “partidão”. Não foi à toa que sua vida pública chamava mais atenção do que o que ele fazia dentro de campo. Celebridade, ocupou muitas manchetes de jornais e revistas por suas conquistas…na vida pessoal.
Ao longo da década de 80, o jogador que defendeu clubes como Atlético-MG, São Paulo e Palmeiras teve relacionamentos amorosos com algumas das brasileiras mais famosas daqueles tempos. Quer um exemplo? Mariette, assistente de palco do “Viva a Noite”, de Gugu Liberato, no SBT, era sua namorada e uma das mulheres mais cobiçadas do país na época. A fama de mulherengo acompanhou Edivaldo até 1993.
Foi nesse ano que ele morreu, aos 30 anos, solteiro e sem filhos. Vinte e cinco anos depois do trágico acidente de carro nunca esclarecido, o UOL Esporte revisita sua trajetória. Namoradas, resenhas, gols, títulos e até a Copa do Mundo de 1986, da qual fez parte pelo Brasil.
Em 1987, ele chegou ao São Paulo mais ou menos na mesma época do também atacante Lê. Enquanto um vinha do Atlético-MG, o outro havia sido contratado da Inter de Limeira. Por comodidade e desconhecimento da capital paulista, os dois decidiram alugar um apartamento e morar juntos. Até aí tudo normal. O problema, como conta Lê anos depois, é que o imóvel só tinha um quarto com cama. Um dos moradores sempre acabava no sofá-cama da sala. Quer dizer, um problema para Edivaldo, não para Lê.
“Nós combinamos que quem chegasse primeiro dormiria no quarto. O outro, na sala. O que aconteceu é que ele passou todo o tempo dormindo na sala. Só chegava tarde, enquanto eu só dormia na cama do quarto”, diverte-se Lê, hoje empresário e gestor de futebol na cidade de Limeira, no interior de São Paulo.
Na imagem do São Paulo campeão paulista de 1987, Edivaldo é o último agachado à direita. Lê, o dono da cama na época em que eles moraram juntos, é o terceiro agachado da esquerda para direita.
Boa noite a todos
Edivaldo era considerado falante e irreverente pelas pessoas próximas, o que gerou o apelido “Papagaio” que o acompanhou por toda a vida. E foi por falar e brincar tanto que surgiu uma das diversões mais recorrentes do dia a dia na Copa do Mundo de 86: apresentar o Jornal Nacional, da TV Globo. Edivaldo era Cid Moreira, um dos mais longevos apresentadores do programa. Enquanto isso, Edson Boaro, o Edson Abobrão, interpretava o repórter Hélio Costa. Walter Casagrande Júnior fazia as vezes de outro repórter, Paulo César Araújo. Na concentração, às 23h, Edivaldo dava boa noite como se fosse Cid Moreira. E todos iam dormir.
“O Edivaldo era um cara super divertido, brincalhão o tempo todo, gente boa para cacete. Era sem maldade nenhuma, um puta companheiro. Estive com ele na Copa de 86 no México e depois que eu saí do time do Telê nós ficamos bem próximos, porque ele também não jogava. Nesse lance do Cid Moreira, que ele imitava, eu fazia um repórter e também fazia a sonoplastia”, conta Casagrande, hoje comentarista da Globo.
Uma vida abreviada
14 de janeiro de 1993
Depois de brilhar no São Paulo, Edivaldo teve passagens por Puebla (MEX), Palmeiras e Atlético-MG antes de fechar com o Gamba Osaka, do Japão. Por lá, vivia um momento de estabilidade da carreira: sem ambição de seleção, mas recebendo um bom salário e encaminhando o fim da carreira, já que estava com 30 anos.
De férias, passou as festas do fim de 1992 com a família na cidade mineira de Ipatinga, voltou ao Japão rapidamente para negociar um novo contrato e retornou ao Brasil. Em São Paulo, passaria o fim do período livre em seu apartamento no bairro do Itaim Bibi.
Já na capital paulista, o jogador foi convidado a disputar um jogo festivo em uma cidade chamada Cesário Lange, a cerca de 140 km de São Paulo. Era um evento patrocinado pela Prefeitura, que se estendeu por tarde e noite. A organização da festa queria que Edivaldo ficasse por lá e dormisse em um hotel. Mas ele decidiu retornar para São Paulo de madrugada.
Edivaldo não bebia, mas naquela noite chovia e a visibilidade era baixa. Ainda havia outra razão, até então desconhecida, para aumentar o perigo, e que parte da família não aceita mesmo 25 anos depois. Próximo de 3h da manhã, no sentido interior-capital da Rodovia Castello Branco, à altura do km 130, o Tempra do jogador colidiu com a parte traseira de um caminhão que carregava lenha. Edivaldo, sozinho no carro, morreu no local.
Dentro das quatro linhas
Edivaldo começou no futebol com oito anos na Associação Esportiva e Recreativa USIPA, em Ipatinga. Aos 11 anos, foi tentar a sorte em Belo Horizonte, mas acabou rejeitado pelo Cruzeiro porque o consideraram “raquítico”. No Atlético-MG, ficou. No time de aspirantes, jogava como ponta esquerda, mas sabia que não ia ter chance no time principal porque a lenda Éder Aleixo era a estrela da posição. Por isso, ficou um ano emprestado ao Taquaritinga. Só voltou para Belo Horizonte quando Éder não era mais titular do Galo.
Foi pelo Atlético-MG que recebeu a convocação de Telê Santana para a Copa do Mundo de 1986, mas o auge técnico da carreira viria mesmo a partir de 87, quando foi contratado pelo São Paulo: foram três temporadas, 123 jogos, 26 gols e os títulos estaduais de 1987 e 1989. Depois, saiu para jogar no Puebla, do México, voltou para o Brasil no Palmeiras, com quatro gols em 22 atuações em 1991. Ainda teve mais uma passagem discreta pelo Galo antes de ir para o futebol japonês.
Ao longo da carreira, Edivaldo passou da ponta esquerda para o meio campo e, do meio, para o centro do ataque. “Sempre gostei de jogar só atacando e os treinadores veem que eu sou disciplinado taticamente”, disse à Placar, em 88, quando foi “adotado” por Cilinho no São Paulo e viveu a melhor fase em 11 anos de carreira. Só 11 anos.
Na Copa, ele + 10
Edivaldo vivia bom momento pelo Atlético-MG quando foi convocado para a Copa do Mundo de 1986, no México, como bicampeão estadual. A lista de Telê Santana tinha grandes nomes do futebol nacional, como Junior, Casagrande, Careca, Sócrates, Falcão, Muller, Zico e Leão, e algumas jovens apostas. Edivaldo era uma delas.
Ele foi um dos seis jogadores que não entraram em campo entre os 22 jogadores levados por Telê ao Mundial. O grupo tinha ainda Oscar, zagueiro do São Paulo, Paulo Vitor, goleiro do Fluminense, Mauro Galvão, zagueiro do Internacional, Valdo, meia do Grêmio, e Leão, goleiro do Palmeiras.
A convocação era para completar o elenco, mas Edivaldo não deixou barato. Na apresentação do elenco, brincou com os jornalistas: “Na seleção, seremos eu e mais dez”. O Brasil caiu para a França nas quartas de final, Edivaldo não jogou um minuto sequer, mas o apelido de “Papagaio” foi honrado como nunca.
Ele morreu no dia 14 de janeiro de 1993, aos 30 anos, num acidente de automóvel, na Rodovia Castelo Branco, no município de Boituva, São Paulo quando se acidentou a bordo de seu Fiat Tempra.
(Fonte: Veja, 20 de janeiro de 1993 – ANO 26 – Nº 3 – Edição 1271 - Datas - Pág; 72)
(Fonte: https://www.uol/esporte/especiais – ESPORTE – ESPECIAIS / Por Gabriel Carneiro e Vanderlei Lima Do UOL, em São Paulo – Publicado em 26 de fevereiro de 2018)
Edição: Bruno Doro; Pesquisa: Bruno Freitas; Reportagem: Gabriel Carneiro, Vanderlei Lima.