Empresário fez parte da direção do “Jornal do Brasil” por mais de 50 anos
Manoel Francisco do Nascimento Brito (Rio de Janeiro, 2 de agosto de 1922 – Copacabana, Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 2003), jornalista e empresário, foi ex-diretor executivo do Jornal do Brasil
Nascimento Brito era casado com dona Leda, filha do conde Ernesto Pereira Carneiro. Foi ele que levou Nascimento Brito para o jornalismo, em 1949, quando o convidou para dirigir a rádio Jornal do Brasil.
Nascimento Brito assumiu funções executivas no JB em 1948 e, em agosto de 2000, passou seu último cargo, de presidente do Conselho Editorial, para o filho José Antônio, dizendo-se cansado das decisões cotidianas. Na época, com a saúde debilitada, o jornalista disse que havia tomado a decisão por não querer mais obrigações administrativas. Afirmou que continuaria indo à empresa, onde manteria sua sala e atuaria como consultor e acionista.
Brito nasceu no dia 2 de agosto de 1922 no Rio de Janeiro. Filho do engenheiro e empresário José do Nascimento Brito e da inglesa Amy Avoegno do Nascimento Brito, e ele sempre cultivou essa ascendência. Durante a Guerra das Malvinas, em 1982, as ilhas disputadas pela Argentina e pela Grã-Bretanha eram chamadas no “Jornal do Brasil” pelo nome britânico -Falklands.
Manoel estudou no Colégio São Bento e, mais tarde, na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, concluindo o curso de direito em 1946. Formado em direito pela Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), Nascimento Brito era procurador do Banco do Brasil quando foi chamado por Pereira Carneiro para ser consultor jurídico da Rádio JB.
Em 1946, casou com Leda Marina Marchesini, enteada do conde Ernesto Pereira Carneiro, dono de empresas de navegação e aviação, que (ganhou do Vaticano o título de conde ajudando o Rio de Janeiro a enfrentar a gripe espanhola em 1918), diretor-presidente do Jornal do Brasil. Em 1949, foi convidado pelo conde e tornou-se consultor jurídico do jornal, e, em 1952, foi nomeado superintendente do sistema “”Jornal do Brasil”, que incluía o jornal, a agência de notícias, uma gráfica e as emissoras de rádios.. Com a morte de Pereira Carneiro em 1954, a direção do JB passou à viúva Maurina Abranches Pereira Carneiro, que deu início a várias reformas no jornal. Nascimento Brito ganhou poder e foi encarregado da compra de novos equipamentos gráficos, necessários à expansão.
Em 1956, Nascimento Brito foi nomeado diretor-executivo da empresa. Sob o comando de jornalistas como Janio de Freitas, hoje membro do Conselho Editorial da Folha, Reinaldo Jardim, Odilo Costa, filho, e Amílcar de Castro (na parte gráfica), o jornal ganhou credibilidade e conquistou o público mais intelectualizado. Data dessa época o Caderno B, o primeiro caderno de cultura da imprensa brasileira, que chegou a ter dez críticos de cinema.
O jornalista Alberto Dines foi o editor-chefe que mais tempo ocupou o cargo na nova fase do jornal. Ficou quase 12 anos, de janeiro de 1962 a dezembro de 1973, e, segundo Nascimento Brito, consolidou a reforma do “JB”. Em 1973, driblou a censura com a célebre capa sem manchete que noticiou o golpe militar no Chile.
Em 1956, tornou-se superintendente do jornal, contratando o jornalista Odilo Costa Filho para coordenar a reformulação do JB. Ainda em 1956 foi eleito membro do conselho executivo da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e diretor-secretário da União dos Proprietários de Jornais e Revistas. Em 1960, assumiu o cargo de diretor-executivo do jornal e das empresas associadas. Nesse período, foi representante do Brasil na XVI Sessão da Assembleia Geral da ONU em Nova York. Um ano depois comprou a Tribuna da Imprensa, jornal carioca que pertencia a Carlos Lacerda, então governador do Estado da Guanabara. Na época, Nascimento Brito pretendia transformar a Tribuna em um jornal “de gabarito”, contratando profissionais como Paulo Francis, Milôr Fernandes e Carlos Castelo Branco. Mas a tentativa fracassou e, em março de 1962, o jornal foi vendido a Hélio Fernandes.
Em 1964, após a deposição do governo do presidente João Goulart pelos militares, Nascimento Brito denunciou em uma reunião da SIP os riscos a que estavam expostas as liberdades públicas no Brasil, entre elas a liberdade de imprensa. Naquele ano, ele tornou-se acionista majoritário do Diário de Minas e ficou na direção do periódico mineiro até 1966. Mais tarde, em 1967, depois de uma viagem ao Vietnã, iniciou a publicação simultânea – no Jornal do Brasil e no jornal argentino La Prensa – de uma série de artigos intitulada “O Vietnã que Eu Vi”. Em 1972, promoveu a mudança do JB para sua nova sede, um prédio na área portuária do Rio de Janeiro. No mesmo ano, foi escolhido para compor o quadro do Centro para Relações Internacionais, nos Estados Unidos.
Em 1975, assinou um acordo de cooperação técnica com o jornal chileno El Mercúrio, envolvendo o intercâmbio de notícias e a criação de uma agência de notícias latino-americana sob a forma de sociedade de economia mista. Por causa do acordo, o JB passou a circular no Chile. Em 1970, Nascimento Brito foi escolhido presidente da Associação Interamericana de Imprensa, a AII. Após tomar posse escolheu para presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa o diretor de O Estado de S. Paulo, Julio de Mesquita Neto. Era a primeira vez, que pessoas do mesmo país, que não os Estados Unidos, ocupavam as duas posições mais importantes na história da AII.
Foi Membro do Conselho Internacional do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e do Conselho Cultural do Centro de Relações Interamericanas, Presidente do Conselho Curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e membro do Conselho de Desenvolvimento da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Como jornalista, recebeu os prêmios Maria Moors Cabot, Alberti Sarmiento e Jules Dubois.
Nascimento Brito era defensor da qualificação profissional para o jornalista. “A tarefa jornalística, em todos os setores que a definem, já não pode ser exercida, como outrora, pela vocação pura e simples”, disse em uma palestra na faculdade de comunicação da PUC – MG, em 1971. Dizia que a profissão era uma arte moral. Um dos episódios mais lembrados foi o ocorrido durante a ditadura. Em 1971, no regime do AI-5, Nascimento Brito foi chamado à Polícia Federal para explicar por que o JB publicara a lista de presos políticos que seriam trocados pelo embaixador da Alemanha, sequestrado no Rio de Janeiro. Como relata a edição comemorativa de 110 anos de jornal em 2002, Nascimento Brito ouviu do delegado que dormiria no xadrez. A ameaça não se consumou. Mas o diretor do jornal disse: “Agora vou lhe contar quem deu a informação, só para mostrar como são as coisas”. E revelou a fonte: o ministro da Justiça.
As dificuldades financeiras do jornal começaram no fim da década de 70, quando o concorrente “O Globo”, ancorado na audiência da TV, derrubou sua liderança no mercado de classificados. A crise foi agravada por problemas administrativos e pelos custos da construção de uma nova sede para o jornal, inaugurada em 1973 na zona portuária do Rio de Janeiro.
Desde o final dos anos 50, sob a presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961), Nascimento Brito tentara, sem sucesso, obter uma concessão de TV. Na última vez, foi preterido pelo governo de João Baptista Figueiredo (1979-1985), em favor de Sílvio Santos.
O empresário não foi bem-sucedido em algumas apostas políticas. Nos anos 70, chegou a apoiar o ministro do Exército, general Sílvio Frota, contra Figueiredo, o chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações) e favorito do presidente Ernesto Geisel à sua sucessão. No início da década de 80, com a dívida do “JB” crescendo, apoiou Paulo Maluf, que viria a ser derrotado por Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em 1984.
Durante a CPI que investigava o governo Fernando Collor (1990-1992), o “Jornal do Brasil” publicou manchete que avalizava a “Operação Uruguai”, manobra pela qual auxiliares do presidente pretendiam justificar a movimentação de dinheiro na conta de “fantasmas” a partir de um suposto empréstimo feito em Montevidéu para financiar a campanha de 1989.
Na época, Nascimento Brito tratava com Lafayete Coutinho, presidente do Banco do Brasil, da renegociação de uma dívida calculada pelo banco em US$ 90 milhões. Não obteve sucesso, e o endosso à “Operação Uruguai” afetou a credibilidade do jornal.
Apesar da crise financeira, o “JB” havia se mantido em posição de destaque no jornalismo. Teve papel importante na investigação da bomba do Riocentro, detonada por militares em um show comemorativo do 1º de Maio, em 1981, e desvendou a fraude eletrônica que tentou impedir a vitória de Leonel Brizola na eleição para o governo do Rio, em 1982.
Na década de 90, a decadência econômica do “JB” parecia irreversível. Tentativas de vender o jornal tinham fracassado, em parte por divergências internas na família Nascimento Brito. Em 1992, o empresário se afastou da administração direta do diário para assumir a presidência do conselho.
Em 1994, tornou-se presidente do conselho editorial, responsável pela área política de todo o sistema. No ano seguinte, transferiu a José Antônio do Nascimento Brito as principais funções executivas. José Antônio já tinha ocupado a direção do “JB” no final dos anos 70 e início dos 80, depois que o pai sofreu o primeiro derrame. Na época, chegou a lançar duas revistas, “Viva”, dedicada a esportes, lazer e forma física, e “Brasil S.A.”, que pretendia ser uma espécie de “Fortune” brasileira.
Mesmo sem função executiva, Nascimento Brito manteve o hábito de se reunir todo dia, às 15h, com a equipe de editorialistas. Segundo o depoimento de chefes de Redação que passaram pelo “JB”, não costumava interferir na edição das notícias, mas manteve influência sobre a página editorial. Só se afastou do jornal em 2000.
Em janeiro de 2001, a família Nascimento Brito fechou contrato com o empresário Nelson Tanure, que arrendou o título do jornal por um período de 60 anos, renováveis por mais 30 anos, e duas emissoras de rádio do grupo -Cidade e JB-, por dez anos. Tanure comprou ainda a Agência JB e o site JB Online.
Conhecido por comprar empresas em estado pré-falimentar para recuperá-las e vendê-las, Tanure pagou R$ 70 milhões à família. Para administrar o negócio, criou uma nova empresa, a Companhia Brasileira de Multimídia, da qual detém 77% do capital -os outros 23% pertencem a José Antônio do Nascimento Brito.
A antiga empresa, Jornal do Brasil Ltda, ficou com a sede e com uma dívida estimada em cerca de R$ 750 milhões na época da venda -grande parte dela com bancos, além de débitos trabalhistas e previdenciários. Hoje, o “JB” tem um acordo operacional com o diário carioca “O Dia” para unir suas atividades administrativas e comerciais -as redações são independentes. Ambos já são impressos na gráfica de “O Dia”.
Nascimento Brito, de 80 anos, morreu às 7h40 de falência cardíaca. Ele estava internado no Hospital Copa D’Or, em Copacabana (zona sul) desde o dia 20 de janeiro, por causa de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Por 52 anos, Nascimento Brito ficou no comando do JB, de onde se afastou aos 78 anos, em agosto de 2000, com uma breve carta aos leitores publicada na primeira página. Nascimento Brito perdera os movimentos do lado direito do corpo em 1978, quando sofreu um derrame durante uma viagem à Venezuela. Ele pescava quando sentiu-se mal. Desde então, sua saúde manteve-se relativamente estável e ele levou uma vida normal, até o outro AVC.
(Fonte: Veja, 19 de fevereiro de 2003 – ANO 36 – Nº 07 – Edição 1790 – DATAS – Pág: 100)
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil – BRASIL – PERSONALIDADE /FOLHA DE S. PAULO – DA SUCURSAL DO RIO – 9 de fevereiro de 2003)
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(Fonte: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral – NOTÍCIAS – GERAL – POLÍTICA – 8 Fevereiro 2003)
Agencia Estado