Allan Bloom, professor da Universidade de Chicago e especialista em filosofia política

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O filósofo grego de Chicago

O professor anônimo torna-se astro

 

 

Allan Bloom (Indianapolis, Indiana, 14 de setembro de 1930 – Chicago, 7 de outubro de 1992), professor da Universidade de Chicago e especialista em filosofia política. Em 1987, Bloom escreveu o best-seller O Declínio da Cultura Ocidental, em que critica o relativismo moral reinante nas universidades americanas.

Simbolizou as transformações ocorridas no mundo na década de 60, em que transformou o mundo. Celebrou-se do advento à onda de contestação dos jovens, e, a última das obras que se debruçou sobre os anos 60 – O Declínio da Cultura Ocidental, do professor americano, onde se dedicou a colecionar argumentos, teorias, diatribes e xingamentos que apontam os anos 60 como um período negro para as ideias nos Estados Unidos e no Ocidente, uma espécie de abismo que tragou os principais avanços dos meios intelectuais e acadêmicos das décadas anteriores e instalou o obscurantismo.

Lançado sem maiores pretensões, no final de 1987, que esperava vender algo em torno de 6 000 exemplares, o livro transformou-se rapidamente num best-seller que esgotou meio milhão de exemplares. Ele afirmava que a sociedade americana, na sua esmagadora maioria, era composta de uma quantidade de beócios, de professores e estudantes desqualificados para entender raciocínios abstratos, de gente que só conseguia fruir rock, televisão e obras culturais extremamente primárias, milhares de jovens matriculados em universidades não para obter conhecimento, mas à cata de um diploma que lhes dê dinheiro, consumo veloz e vazio de tudo quanto é novidade.

O sucesso do livro de Bloom nos Estados Unidos comportou duas ironias. Primeiro, porque ele foi escrito por um desconhecido professor de Filosofia – que antes já havia publicado a tradução de A República, de Platão, e Émile, de Jean-Jacques Rousseau – para um público de iniciados em Filosofia.

O livro de Bloom foi praticamente massacrado por entendidos em Filosofia, onde detectaram interpretações que contrariam toda uma tradição milenar de estudos das obras de Platão, Sócrates e Aristóteles. Bloom disse, que o conceito de Ego de Sigmund Freud foi decalcado da filosofia de Friederich Nietzsche.

Freud não foi influenciado por Nietzsche, cansou de ironizar os filósofos e fez do Ego uma instância da mente e não uma categoria de pensamento, que é a visão do autor de Assim Falava Zaratustra. Em outra passagem, Bloom afirmava que a teoria marxista da “revolução permanente” foi desenvolvida por León Trotsky e Mao Tsé-tung. A revolução permanente é uma tese exclusivamente trotkkista. Mao era contra ela.

Se as críticas de Bloom foram ácidas, nem por isso são originais. Críticas radicais da massificação e padronização do pensamento ocidental no século XX foram feitas com especial profundidade pelos alemães Theodor W. Adorno e Herbert Marcuse. Nos anos 60, e depois, Charles A. Reich, Cristopher Laasch, David Riesman (1909-2002) e Richard Sennett tocaram em temas semelhantes aos de Bloom.

Mas com uma diferença significativa: o autor de O Declínio da Cultura Ocidental era um conservador consciente, um elitista, um feroz defensor da manutenção de uma elite pensante, desvinculada do mundo do trabalho. A originalidade de Bloom estava na virulência com que reunia as ideias mais estapafúrdias. Ele chegava a responsabilizar a filosofia alemã – de Kant a Nietzsche, passando por Hegel – pela poluição do debate cultural nos Estados Unidos.

As transformações ocorridas no meio universitário nos anos 60, principalmente as que passaram pelo caminho da violência nos campi, influenciaram decisivamente sua vida e sua carreira. Em 1963, ele conseguiria seu primeiro posto de destaque na vida acadêmica como professor-assistente na prestigiada Universidade de Cornell.

Para o autor, a capitulação dos professores e administradores de Cornell no confronto com os militantes negros marca o início do colapso do ensino americano. As mudanças ocorridas em Cornell a partir de então o levaram a pedir demissão da Universidade em 1970 e a transferir-se para a bem meis modesta Universidade de Toronto, no Canadá.

Dois anos depois ele sofreria um ataque cardíaco. Foi durante a convalescença que se dedicou às traduções de A República, de Platão, e de Émile, de Rousseau. Afinal, em 1977, depois de rápidos períodos nas universidades de Yale, de Paris e de Tel Avive, tentou entrar para a Universidade de Chicago, que havia cursado e onde iniciara sua carreira de professor. Sua admissão foi discutida durante dois anos, e afinal aceita.

Nascido em Indianópolis, no Estado de Indiana, filho de judeus, Bloom visitou a universidade pela primeira vez aos 15 anos, depois de ler um artigo sobre ela na revista Seleções do Reader’s Digest. Ainda assim, teve de vencer a resistência dos pais, que não vislumbravam um filho intelectual, para ingressar no curso superior. Mais tarde, milionário com o êxito de seu livro, Bloom se divertia com o próprio sucesso.

“É como se eu tivesse me transformado em Cary Grant, ou num astro de rock – há toda uma energia me cercando”, dizia. Solteirão convictérrimo, ele vivia sozinho num suntuoso apartamento de Chicago com vista para o Lago Michigan, cercado por sofás de couro e tapetes persas.

Bloom recebia cerca de 10 000 cartas por mês e semanalmente era convidado para uma média de cinco conferências. Até em 1987, ele era apenas um professor respeitado, mas anônimo. Depois, mais tarde, tornou-se a grande sensação dos meios intelectuais, o grego de Chicago, com sua paixão pelo pensamento de Sócrates e Platão.

Bloom faleceu no dia 7 de outubro de 1992, aos 62 anos, por insuficiência hepática, em Chicago.

(Fonte: Veja, 14 de outubro de 1992 – Edição 1257 – Datas – Pág; 92)

(Fonte: Veja, 15 de março de 1989 – ANO 22 – Nº 11 – Edição 1071 – Livros – Pág: 96/98)

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