Herbert von Karajan (Salzburgo, Áustria, 5 de abril de 1908 – Anif, Áustria, 16 de julho de 1989), o maestro que herdou de Arturo Toscanini o trono de maior regente do mundo. O coração do velho maestro desafinou, perdeu o ritmo e, por fim, emudeceu – deixando vago o trono de maior regente do século XX e órfã a centenária e vigorosa Orquestra Filarmônica de Berlim. Herbert von Karajan, maestro austríaco, o gênio da perfeição de estilo e da limpidez de som que tornou popular a música erudita ao gravar sinfonias em discos estereofônicos. Karajan regia com a obsessão da técnica. Para ele, a clareza e a precisão ao destrinchar uma partitura eram capazes de transformar um ritmo confuso numa melodia límpida.
“O desafio de meu trabalho é fazer com que a música de Schoenberg soe como a obra de Mozart”, dizia.
A exatidão de sua regência fez escola e influenciou a geração de maestros que agora assume os postos de comando das grandes orquestras do mundo. “O nível de exigência de Karajan era absurdo”, diz seu ex-aluno Seiji Ozawa, atual maestro da Sinfônica de Boston. Em sua obsessão, Karajan construiu a reputação de gênio arrogante. Quando algo saía errado nos ensaios, seu olhar de reprovação aterrorizava os músicos, tratados como meninos de colégio pelo maestro. Karajan regeu seu primeiro concerto aos 20 anos de idade. Projetou-se internacionalmente, contudo, ao flertar com o nazismo. Os melhores maestros alemães fugiram do país durante a II Guerra Mundial, e Karajan vislumbrou a oportunidade de arrumar um grande emprego.
Assumiu a Ópera de Berlim e se tornou uma espécie de maestro oficial do regime nazista. “Foi puro oportunismo de minha parte”, justificou Karajan anos depois. Com o fim da guerra, exilou-se nas montanhas do Tirol e guardou a batuta. Voltou a reger em 1954, quando assumiu o comando da Ópera de Viena, cargo que pertenceu a Wagner e Strauss.
Apagadas as cinzas da guerra, Karajan pavimentou seu caminho de maior regente do século. Já em 1955 foi alçado ao cargo de maestro vitalício da Filarmônica de Berlim, ocupando o cobiçado posto que pertenceu ao legendário Arturo Toscanini. Num ritmo alucinante, começou a gravar discos de música erudita – foram 900 deles, com 115 milhões de cópias vendidas, num legado preciosíssimo. Todas as sinfonias de Beethoven estão gravadas pela orquestra de Karajan. Tornou-se uma personalidade também por seus hábitos excêntricos. Pilotava seu jatinho Falcon 10 e dirigia sua lancha de corrida Helisara.
Casou-se três vezes e teve duas filhas. Em 1985, problemas na coluna obrigaram-no a se submeter a duas cirurgias. E o maestro começou a reger sentado. Como sua saúde se agravava a olhos vistos, a sucessão na Filarmônica de Berlim começou a ser cogitada. Karajan morreu dia 16 de julho de 1989, um ataque cardíaco matou, aos 81 anos de idade o maestro austríaco.
(Fonte: Veja, 26 de julho de 1989 – Edição 1089 – DATAS – Pág; 93)