John Cassavetes (1929-1989), cineasta americano, impulsionou o moderno cinema americano. Na celebração aos 50 anos da nouvelle vague francesa, é importante refrescar a memória cinéfila com o relevante marco histórico firmado naquele mesmo 1959, mas deste lado do Atlântico: John Cassavetes lançou Sombras, filme que firmou os pilares sobre os quais se ergueria um inovador e influente modelo de fazer cinema nos Estados Unidos.
Diferentemente dos colegas franceses, abrigados sob o manto de um movimento estético inovador, Cassavetes pregou sua revolução de forma solitária e independente, fazendo uso de princípios autorais semelhantes: rompimento com a narrativa clássica e acadêmica, o improviso permeável às ideias coletivas que brotavam no set, a intimidade e a agilidade do registro viabilizadas pela câmara portátil, a vida real contaminando a ficção. A Cassavetes interessava, em particular, as faíscas resultantes dos encontros e desencontros da vida a dois, tensão essa sempre capturada no mais elevado tom da passionalidade.
Sombras (1959), flagrante do efervescente universo beat de Manhattan, com narrativa ditada pelo ritmo da trilha jazzística de Charles Mingus, é um dos cinco títulos de Cassavetes.
Faces (1968), sobre a desintegração passo a passo de um casamento; Uma Mulher Sob Influência (1974), que traz a antológica performance de Gena Rowlands (mulher e musa de Cassavetes) como a mãe de família que sucumbe em um surto emocional; Noite de Estreia (1977), com o drama de uma veterana atriz em crise existencial; e A Morte de um Bookmaker Chinês (1976), sobre um dono de boate endividado que mergulha no submundo do crime.
Esses filmes, em particular o visceral Uma Mulher Sob Influência, são exemplos do cinema apaixonado de Cassavetes, que viabilizava seus projetos de baixíssimo orçamento com os cachês que recebia como ator em grandes produções – é o protagonista, com Mia Farrow, de O Bebê de Rosemary (1968), de Roman Polasnki. E Cassavetes unia em torno de si um grupo de amigos tão apaixonados quanto ele – além de Gena, são figuras recorrentes em seus filmes atores como Ben Gazarra, Peter Falk e Seymour Cassel.
Outros buscaram antes o caminho da independência e integridade autoral à margem da grande indústria de Hollywood. Mas poucos foram tão influentes para as gerações seguintes como foi Cassavetes (um de seus filhos, Nick, virou cineasta – são dele Diário de uma Paixão e Uma Prova de Amor).
(Fonte: Zero Hora – Ano 46 – 16 de outubro 2009 – Segundo Caderno/ Por Marcelo Perrone – Pág; 6)