Mário Soares. Adeus a um português maior
Lutou como poucos contra a ditadura, foi preso, casou na prisão, teve de deixar o país. Regressou depois do 25 de Abril para ser um pouco de tudo na política (deputado, ministro, primeiro-ministro, Presidente da República e eurodeputado).
Soares era considerado o “pai da democracia portuguesa”, por ter encarnado a história recente do país.
Mário Soares (Lisboa, 7 de dezembro de 1924 – Lisboa, 7 de janeiro de 2017), o rosto maior da democracia portuguesa, histórico dirigente socialista e ex-presidente da República de Portugal
Pilar da vida política portuguesa no século XX, Mario Soares, foi um dos principais artífices do retorno da democracia a Portugal e de sua posterior integração à Europa.
Homem de convicções e lutas, Soares, tinha 18 anos e estudava Filosofia e Direito quando se comprometeu com a oposição à ditadura de Antonio Oliveira Salazar.
Licenciado em 1957, o jovem advogado defendeu vários opositores do Estado Novo (1933-1974), o que lhe rendeu três anos de prisão. Detido novamente pela polícia política em 1968, foi deportado para a colônia africana de São Tomé e Príncipe e condenado ao exílio em 1970.
– Descolonizador –
Instalou-se, então, na França, onde lecionou em várias universidades. Em 1973, participou da fundação, na Alemanha, do Partido Socialista português, do qual foi o primeiro secretário-geral.
Quando aconteceu a revolta militar de 25 de abril de 1974 e a Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura e à guerra colonial, Soares pegou o primeiro trem para Lisboa, onde foi aclamado como herói.
No governo interino da junta militar, encarregou-se de organizar a independência das colônias e se opôs à tentativa dos militares ligados ao Partido Comunista de tomar o poder.
Ministro das Relações Exteriores até 1975, Soares foi nomeado chefe de governo em 1976, após as primeiras eleições legislativas.
Renunciou em 1978, antes de voltar a se tornar primeiro-ministro, em 1983, aplicando uma política de ajuste e reformas sob a tutela do Fundo Monetário Internacional (FMI), o que abriu caminho para a adesão do país à União Europeia, em 1986.
Soares foi eleito presidente no ano seguinte, para um primeiro mandato de cinco anos, antes de uma reeleição triunfal em 1991, com mais de 70% dos votos no primeiro turno.
Deputado europeu de 1999 a 2004, tinha 80 anos quando travou sua última batalha política, ao se candidatar às eleições presidenciais de 2006, que perdeu para o conservador Aníbal Cavaco Silva, também ex-premier e grande rival de Soares.
– Contra o capitalismo selvagem –
Este revés foi particularmente duro para Soares, que ficou em terceiro lugar, atrás de seu ex-companheiro de estrada Manuel Alegre, líder histórico do PS, que se candidatou como independente.
Decepcionado, Soares se retirou por alguns meses da vida pública, mas rompeu rapidamente o silêncio para opinar com regularidade na imprensa.
Quando o país foi duramente atingido pela crise da dívida e se encontrou à beira da falência, em 2001, denunciou a falta de solidariedade dos grandes países europeus, que, segundo ele, “esqueceram-se do projeto dos pais fundadores” para se renderem ao “capitalismo selvagem”.
Mário Soares, presidente de Portugal entre 1986 e 1996, era considerado uma das figuras políticas portuguesas mais importantes dos últimos anos por sua decisiva participação na transição à democracia quando a Revolução dos Cravos pôs fim à ditadura portuguesa (1926-1974).
Fundador do Partido Socialista (PS), até muito pouco tempo se manteve ativo através da fundação que leva seu nome, além de publicar livros e artigos sobre a situação de Portugal.
Soares foi ainda primeiro-ministro de Portugal em duas fases (1976-1978 e 1983-85) e presidente português em um período no qual aconteceu a entrada do país na União Europeia.
Quem olhar para os últimos 50 anos da história de Portugal vai encontrar sempre Mário Soares: no ataque à ditadura, na libertação democrática, na resistência ao comunismo, na opção europeia, na solidez democrática. Foi, nos momentos decisivos, o líder de que Portugal precisava – e é por isso que hoje o país lhe deve muito.
Nascido a 7 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares era filho de João Lopes Soares, um antigo padre e professor que fundou o Colégio Moderno, e de Elisa Nobre Soares, professora.
Mário Soares destacou-se desde cedo na política. Ainda como estudante universitário (licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas em 1951 e em Direito em 1957), foi secretário da Comissão Central da Candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República, em 1949, e estaria 11 anos depois na Comissão da Candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República.
Fez parte de vários movimentos de oposição à ditadura do Estado Novo, o que lhe valeu ser preso 12 vezes pela PIDE, a polícia política do regime. Cumpriu quase três anos de prisão e foi na cadeia, em 1949, que casou com Maria de Jesus Barroso. Foi deportado para São Tomé em 1968 e dois anos depois obrigado a exilar-se em França.
Foi no exílio que se tornou um dos fundadores do Partido Socialista, em 1973, e assumiu o cargo de secretário-geral dos socialistas durante praticamente 13 anos.
Regressou a Portugal três dias depois da revolução de 25 de Abril de 1974 para uma intensa atividade política, que o levou a ser uma espécie de farol da democracia portuguesa.
“Mário Soares sempre teve visão. Visão ainda no tempo da ditadura, quando conseguiu afirmar a autonomia dos socialistas no quadro da oposição. Teve visão quando, em pleno PREC [Processo Revolucionário em Curso, Verão de 1975], percebeu que a missão fundamental do PS era defender a liberdade e a democracia. Teve visão quando afirmou o desígnio europeu”, disse António Costa, então secretário-geral do PS, num depoimento ao PÚBLICO em 2014, a propósito dos 90 anos de Mário Soares.
Soares foi ministro dos Negócios Estrangeiros no I, II e III Governos provisórios, ficando com o polêmico dossiê da descolonização, e ministro sem pasta no IV Governo, do qual se demitiu na sequência do caso República. Graças à vitória do PS nas eleições de 1976, torna-se primeiro-ministro, liderando o I Governo Constitucional (entre 1976 e 1977) e o II (1978). Voltaria a chefiar o Governo, pela terceira vez entre 1983 e 1985, no chamado Bloco Central com o PSD – nestas passagens pelo Governo, conduziu Portugal à adesão à então Comunidade Econômica Europeia.
Depois de Cavaco Silva ter assumido a liderança do PSD e vencido as eleições de 1985 frente ao socialista Almeida Santos, Mário Soares lançou-se na corrida às eleições presidenciais de 1986. Zangou-se com o amigo Salgado Zenha, mas chegou à segunda volta, em que a esquerda (PCP incluído) se uniu para ajudar Soares a derrotar Freitas do Amaral.
Foi Presidente entre 1986 e 1996, depois de em 1991 ter sido reeleito com 70% dos votos. Destacou-se como um Presidente interventivo, especialmente no seu segundo mandato, em que criou as famosas presidências abertas, percorrendo o país.
Depois de deixar Belém ainda foi eurodeputado (entre 1999 e 2004) e tentou o regresso à Presidência em 2006, para tentar travar Cavaco Silva. Só que com a esquerda dividida (Manuel Alegre também se candidatou), Cavaco ganhou à primeira volta e Soares ficou em terceiro, atrás de Alegre, com quem se zangou e só faria as pazes anos mais tarde.
Mesmo afastado dos cargos políticos ativos, Soares manteve a sua influência no PS e uma voz ativa na sociedade portuguesa, tendo sido particularmente contundente no período do Governo de Passos Coelho, em que Portugal esteve sob um programa de assistência financeira.
Sob a aura de senador, tornou-se um dos críticos mais ouvidos da política de rigor implementada pelo governo anterior, de centro-direita, sob a tutela de UE e FMI.
A partir dos 90 anos, dedicou suas últimas intervenções à defesa do ex-premier José Socrates, acusado em um caso de corrupção.
Mário Soares morreu em 7 de janeiro de 2017, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha de Lisboa.
Estava internado desde terça-feira, 13 de dezembro, no Hospital da Cruz Vermelha, onde entrou em situação crítica, depois de uma indisposição. Passou dez dias nos cuidados intensivos, para onde regressou na véspera de Natal, depois de um súbito agravamento do estado de saúde e onde esteve até este sábado.
(Fonte: http://publico.uol.com.br/politica/noticia – POLÍTICA/
– 07/01/2017)(Fonte: https://noticias.terra.com.br/mundo/europa – NOTÍCIAS – MUNDO – EUROPA –7 JAN 2017)
(Fonte: http://istoe.com.br – NOTÍCIAS – MUNDO – Edição nº 2456 – AFP – 07/01/2017)