Leonardo Sciascia, escritor italiano, um dos maiores romancistas contemporâneos de seu país

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Leonardo Sciascia (nasceu em Racalmuto, em 8 de janeiro de 1921 – faleceu em Palermo, em 20 de novembro de 1989), escritor italiano, era considerado um dos maiores romancistas contemporâneos de seu país. Nascido na Sicília, Sciascia atingiu um soberbo nível expressivo em suas obras sobre a Máfia. Dono de um estilo direto e simples, era apaixonado por romances policiais, cujos ingredientes utilizava nas histórias dos 32 livros que escreveu.

Sciascia nunca foi comunista – mas ao publicar o curto e exemplar romance político-policial O Contexto”, em 1971, Sciascia foi apedrejado pelos críticos e a velha guarda do Partido Comunista Italiano. Entre outras coisas, lançaram-lhe a pecha de trotskista e simpatizante das brigadas de terroristas que começavam a ensanguentar o país.

Em contrapartida, saíram em sua defesa os jovens comunistas do próprio PCI, o que acabou produzindo um relacionamento de familiaridade e camaradagem entre o escritor e o partido, apesar de tudo. Tal relacionamento – fez com que o escritor siciliano aceitasse entrar na lista de candidato do PCI à Câmara Municipal de Palermo, em 1976. Eleito, ele não suportou as limitações do mandato. Dezoito meses depois, renunciou, alegando ser impossível combater a corrupção e os desmandos da democracia-cristã a nível local, enquanto Enrico Berlinguer (1922-1984), em Roma, promovia entendimentos com a mesma DC dentro da política do “compromisso histórico”.

“O Contexto”, de certa forma, vaticinava as atribulações do autor com a velha estrutura do PCI. Sciascia questiona o Estado italiano em tudo, desde o funcionamento da Polícia e da Justiça até o comportamento político dos que estão no poder e fora dele – a democracia-cristã, os comunistas, os terroristas.

Em O Contexto”, ele consegue misturar com rara competência elementos tidos como excludentes por supostos escritores engajados: crítica social, humor e fino enredo policial. O PCI teve suas razões para sentir-se atingido, mas exagerou sua própria importância, pois Sciascia devassou indiscriminadamente quase todas as instituições que regiam os destinos da Itália.

Sciascia faleceu dia 20 de novembro, 1989, aos 68 anos, de leucemia, em Palermo, na Italia.

(Fonte: Revista Veja, 29 de novembro de 1989 – Edição 1107 – DATAS – Pág; 143)

(Fonte: Revista Veja, 16 de janeiro de 1980 – Edição 593 – LIVROS/ Por Jorge Escosteguy – Pág: 65)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PODRES PODERES

Sciascia: denúncia da hipocrisia fascista

Uma constatação recorrente na história da literatura – a de que os grandes autores só escrevem um único livro ao longo de toda a sua carreira, “embora essa obra apareça em muitos tomos, com títulos diversos”. Este é o caso do italiano Leonardo Sciascia, um dos maiores escritores de seu país no século XX.

Quem reunir, num único volume, toda a vasta produção de Sciascia terá diante de si um “Livro das Justiças e Injustiças”. De forma obsessiva, Sciascia pontuou sua obra com um único tema – a impotência de quem se vê diante da máquina encarregada de aplicar penas intoleráveis, como  a condenação à morte.

“Portas Abertas”, último livro do escritor, é mais um capítulo de sua implacável guerra contra forças que, sob o nome de Estado, Igreja, Máfia ou Justiça, ameaçam o cidadão ao promover o triunfo da arbitrariedade.

O cenário de “Portas Abertasé, mais uma vez, a Sicília. A época, o fim dos anos 30. O fascismo dava todas as cartas. “A segurança e a ordem são tamanhas que as pessoas na Itália podem dormir com as portas abertas”, diziam, hipocritamente, os fascistas.

É neste clima que se tece a trama do livro, que gira em torno do julgamento de um homem que, depois de cometer três assassinatos, se vê ameaçado pela pena máxima, num tribunal onde todos os jurados exibem o emblema do fascismo.

Ancorado na força e no terror, um dos instrumentos prediletos dos fascistas para “manter a ordem” – a pena de morte – esbarra nos princípios humanistas de um juiz, que passa o livro lutando contra uma punição que, mais do que castigar um criminoso confesso, pretende ser usada como arma de intimidação coletiva.

ECONOMIA – A insistência de Sciascia em retornar sempre ao mesmo assunto nada tem a ver com falta de imaginação. Para voltar ao mesmo tema sem se repetir, Sciascia explorou ao máximo a depuração da linguagem.

Com uma impressionante economia de maios, o escritor conseguia suscitar reflexões que nunca se esgotavam na última página de seus romances. É o que ocorre com “Portas Abertas”. Numa prosa seca, mas desconcertante – que alçou Sciascia, um comunista desiludido com o PCI e com toda a política partidária, a um posto ao lado de nomes como Alberto Moravia (1907-1990), Carlo Emilio Gadda (1893-1973), Luigi Pirandello e Giuseppe Tomasi di Lampedusa -, o livro é antes de tudo um libelo contra a injustiça em qualquer época ou lugar.

(Fonte: Revista Veja, 4 de abril de 1990 – ANO 23 – N° 13 – Edição – LIVROS / PORTAS ABERTAS”, de Leonardo Sciascia – Pág: 77)

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