Dina Sfat (1938-1989), atriz, grande profissional de grandes recursos e uma mulher de personalidade determinada. Nascida Dina Kutner, em outubro de 1938, em São Paulo, de pai polonês e mãe israelita, Dina Sfat – o apelido foi tirado do nome da cidade natal de sua mãe – iniciou a carreira de atriz no teatro amador em 1962. No ano seguinte, estreava no Teatro de Arena dirigida por Augusto Boal, Flávio Rangel e Paulo José, com quem se casaria em 1964. “Sempre estive nos lugares certos, nas horas certas”, dizia Dina para justificar seu sucesso, na verdade fruto de suas inúmeras qualidades como atriz. No teatro fez ainda Arena Conta Zumbi, O Rei da Vela. Seis Personagens à Procura de um Autor e brilhou recentemente em Hedda Gabler. No cinema, Dina ganhou destaque como Ci, a guerrilheira de Macunaíma. Na televisão, seu rosto tornou-se uma presença marcante. Atuou em quinze novelas, entre elas Selva de Pedra, Saramandaia, Gabriela, O Astro e Os Gigantes, e nas minisséries Avenida Paulista e Rabo de Saia.
Separada desde 1981 de Paulo José, com quem teve três filhas – Isabel, Ana e Clara -, Dina tinha uma personalidade forte e determinada. Em 1981, surpreendeu os espectadores do programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, ao afirmar diante do general Dilermando Monteiro, então comandante do II Exército, que tinha medo de generais. Em 1984, recusou 10 milhões de cruzeiros de Paulo Maluf para fazer um comercial para sua campanha.
Em 1988, mesmo doente, Dina conheceu uma fase movimentada. Viajou para a União Soviética, onde gravou com Globo Repórter, mais tarde transformado em vídeo, e escreveu um livro autobiográfico, Palmas pra que te Quero, no qual falava sobre sua carreira e sua doença.
“Adoecer no Brasil é humilhante”, escreveu a atriz, que contava com a ajuda da Rede Globo na importação dos medicamentos necessários a seu tratamento. Mesmo enfrentando a doença, Dina levou sua vida até o último momento com a mesma fibra e a coragem que a projetaram em sua carreira.
A força e a vitalidade que sempre marcaram a carreira da atriz Dina Sfat se esgotaram na manhã de segunda-feira, dia 20 de março de 1989. Vítima de insuficiência hepática causada por uma série de complicações desde o aparecimento de um câncer no seio em 1986, a atriz morreu em seu apartamento no Leblon, no Rio de Janeiro, aos 50 anos. Quando a doença surgiu, na forma de um nódulo no seio direito, Dina não quis adotar métodos tradicionais de tratamento e preferiu recorrer à homeopatia, à acupuntura e à parapsicologia. Meses depois, sem obter resultados, sofreu uma mastectomia. Na época, os médicos lhe deram seis meses de vida. No final de 1987, teve que tirar os ovários e uma metástase óssea foi identificada. Mesmo muito doente, Dina não parou de trabalhar. Embora com sua participação reduzida, gravou cenas para a novela Bebê a Bordo até o último capítulo.
“Agora tenho urgência. Sei que sou uma pessoa ameaçada de morrer. É preciso aprender a viver com esta ideia”, disse ela numa de suas últimas entrevistas.
(Fonte: Veja, 29 de março, 1989 – Edição n° 1073 – DATAS – Pág; 93)