Carl von Martius, naturalista alemão que mapeou o Brasil, um meticuloso levantamento da flora brasileira, foi um dos naturalistas que percorreu boa parte do Brasil para fazer um levantamento da flora nacional, durante o século 18.

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O alemão que mapeou o Brasil

 

Argyrothamnia simoniana descrita na obra digitalizada do Flora Brasiliensis — Foto: Johannes Müller Argoviensis / Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria)

 Argyrothamnia simoniana descrita na obra digitalizada do Flora Brasiliensis — Foto: Johannes Müller Argoviensis / Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria)

O alemão que deixou um legado científico para a botânica do Brasil

Com três anos de duração e 14 mil km percorridos, expedição feita por Carl von Martius permitiu descrever metade das espécies de flora do país.

Carl von Martius, naturalista alemão que deixou um legado científico para a botânica do Brasil

Carl Friedrich Philipp von Martius nasceu em 1794, no estado da Baviera, sul da Alemanha. Quando jovem, decidiu estudar medicina, mas acabou se encantando pela botânica. Com 23 anos, veio ao Brasil na comitiva da arquiduquesa austríaca Leopoldina, que iria se casar com Dom Pedro I.

Von Martius tinha recebido da Academia de Ciências da Baviera a missão de pesquisar as províncias mais importantes do Brasil colonial para formar coleções botânicas, zoológicas e mineralógicas. O alemão fez parceria com o conterrâneo, o zoólogo Johan Baptist von Spix, com quem realizou descobertas importantes e iniciou o trabalho de documentação.

Carl von Martius chegou ao país junto com a imperatriz Leopoldina. Partiu após três anos, deixando como legado um meticuloso levantamento da flora brasileira: o maior já realizado até hoje.

 

Von Martius retratou as paisagens em litografias, compiladas na obra "Flora brasiliensis", até hoje uma referência

Von Martius retratou as paisagens em litografias, compiladas na obra “Flora brasiliensis”, até hoje uma referência

 

 

Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) chegava ao Brasil como um dos integrantes da Missão Austríaca – que acompanhava a imperatriz Leopoldina por ocasião de seu casamento com dom Pedro 1º. A aventura do jovem botânico alemão, que percorreu mais de dez mil quilômetros por um Brasil inóspito, marcaria um dos mais importantes momentos para o conhecimento da flora nacional até então exótica e inatingível no imaginário mundial.

Von Martius ajudou a decifrar o Brasil

Von Martius ajudou a decifrar o Brasil

 

A obra de Von Martius apresenta minuciosas descrições morfológicas para cada uma das espécies, o naturalista retratou as paisagens brasileiras e tipos de vegetação por meio de 59 ilustrações, sendo responsável pela primeira organização fitogeográfica do país e fornecendo as bases para a divisão dos biomas brasileiros.

Fitogeografia é um ramo da biogeografia responsável por estudar a origem, distribuição, adaptação e associação das plantas de acordo com a localização geográfica e sua evolução.

O volume de material coletado para estudo por Von Martius foi tão expressivo que a obra Flora Brasiliensis só foi concluída depois de mais de meio século de seu início.

Durante os três anos em que passou no país (entre 1817 e 1820), Von Martius fez um meticuloso levantamento da flora brasileira – o maior já realizado. E a partir deste estudo, ele dividiu o Brasil em cinco biomas (Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Selva Amazônica e Pampas), uma divisão usada até hoje.

Para marcar a data, foi aberta no último fim de semana, no Instituto Moreira Salles (IMS), no Rio, a exposição “O mapa de Von Martius ou como escrever a história natural do Brasil”. A exposição tem justamente como ponto de partida o mapa criado em 1858, em que o botânico propõe uma divisão regional para o país a partir dos biomas detalhados em sua expedição.

“Von Martius não foi o único a fazer uma proposta de regionalização do Brasil, mas teve essa visão de tentar compreender o território todo”, explica a coordenadora de iconografia do IMS e curadora da exposição, Julia Kovensky. “Com o levantamento das plantas, ele visualizou esses grandes conjuntos, definiu biomas, e transferiu isso para uma divisão territorial do país.”

Cachoeira do Rio São Francisco, chamada então de Paulo Afonso (c.1840)

Cachoeira do Rio São Francisco, chamada então de Paulo Afonso (c.1840)

Em companhia do zoólogo Johann Baptist von Spix, Von Martius fez expedições pelas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, colhendo e catalogando uma vasta quantidade de espécimes vegetais. Ele retratou as paisagens em litografias, compiladas na obra Flora brasiliensis (até hoje uma referência), reunindo 20 mil espécimes vegetais em 40 volumes. A exposição reúne 50 dessas paisagens, além do mapa.

“Estamos apresentando um pequeno conjunto de obras do primeiro volume da Flora brasiliensis, que são dedicados às paisagens brasileiras com as plantas inseridas”, explica Julia. “São litografias com paisagens de diferentes regiões do Brasil, além do mapa com os biomas e algumas obras complementares.”

As árvores que nasceram antes de Cristo na floresta às margens do Rio Amazonas (c.1840)

As árvores que nasceram antes de Cristo na floresta às margens do Rio Amazonas (c.1840)

O mapa dá um pouco da dimensão da aventura de se lançar pelo interior do país naquela época, até a região da atual fronteira com a Colômbia, saga relatada pelo naturalista nos três volumes do livro Reise in Brasilien (“Viagem pelo Brasil”), publicado entre 1823 e 1831. O trabalho vai além da questão da flora e retrata um país em transformação, que se tornara a capital do Império português poucos anos antes e se abria para o mundo.

 “Ele tinha um grande interesse por ciências naturais, mais especificamente por botânica”, conta Júlia. “Mas, como muitos outros homens de sua época, tinha uma visão muito ampla e atuou em diferentes frentes.”

De acordo com a historiadora Iris Kantor, da Universidade de São Paulo (USP), que também participou da curadoria da exposição, o levantamento feito por Von Martius produziu uma imagem do Brasil que até hoje está incorporada ao imaginário das elites. Para ela, analisar criticamente essa imagem é um desafio importante para compreender o país.

Ausstellung Carl Friedrich Philipp von Martius - Lithografie Brasilien (Moreira Salles Institut)

Floresta que sombreia as encostas das montanhas da Serra dos Órgãos, na Província do Rio de Janeiro (c.1840)

“Ele foi sem dúvida um dos pais fundadores da historiografia brasileira e de uma certa maneira de se fazer história”, afirma Iris.

Em 1843, de Munique, Von Martius encaminhou uma proposta de como se deveria escrever a História do Brasil para um concurso organizado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Seu programa de estudos incluía, pela primeira vez, a incorporação da participação popular na grande narrativa sobre a formação da nacionalidade.

“Assim, além dos indígenas e dos portugueses, ele sugeria a inclusão das populações de origem africana”, diz Iris. “Algo muito atual como, por exemplo, o estudo da história do tráfico negreiro e das feitorias portuguesas no continente africano. Ele também chamou a atenção para a necessidade de investigar os mitos e tradições indígenas, por meio da incorporação da documentação oral.”

Flora Brasiliensis

A obra Flora Brasiliensis é constituída por 15 volumes e 40 partes, originalmente publicadas em 140 fascículos, totalizando 10.367 páginas. Ela também inclui 3.811 pranchas, que ilustram 6.246 das 22.767 espécies descritas.

Durante a expedição de Von Martius, foram coletadas cerca de 20 mil amostras de plantas, de 6,5 mil espécies. No entanto, para finalizar a obra, muitas outras amostras, depositadas em herbários europeus, foram utilizadas.

Von Martius não viveu a tempo de ver o trabalho concluído. Depois da morte dele, em 1868, outros cientistas de várias nacionalidades ajudaram na conclusão do estudo, que levou 66 anos.

(Fonte: http://www.dw.com/pt-br – NOTÍCIAS/ BRASIL/ HISTÓRIA/ Por Roberta Jansen – 07.02.2017)

(Créditos autorais: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2023/11/21 – CAMPINAS E REGIÃO/ TERRA DA GENTE/ NOTÍCIA/ Por Giuliano Tamura, Terra da Gente – 21/11/2023)

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