Morre aos cem anos o antropólogo Claude Lévi-Strauss
Lévi-Strauss influenciou de maneira decisiva a filosofia, a sociologia, a história e a teoria da literatura – Eric Brochu, Divulgação
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, um dos intelectuais mais importantes do século XX, famoso antropólogo e pai do enfoque estruturalista das ciências sociais, morreu no sábado aos 100 anos, informou hoje a editora Plon, sem dar mais detalhes sobre as causas ou o lugar. Lévi-Strauss, que completaria 101 anos em 28 de novembro, influenciou de maneira decisiva a filosofia, a sociologia, a história e a teoria da literatura.
Devido à avançada idade, no ano passado, ele não participou pessoalmente dos atos comemorativos de seu centenário. Apesar de tudo, responsáveis do museu Quai Branly, onde há um auditório com o nome do antropólogo, disseram então que o intelectual se mantinha lúcido e em bom estado de saúde.
Francês nascido em Bruxelas em 1908, o autor de Tristes Trópicos trabalhou como professor na Universidade de São Paulo e na New School for Social Research de Nova York, antes de ser diretor associado do Museu do Homem de Paris e de lecionar no Collège de France até sua aposentadoria, em 1982.
Discípulo intelectual de Émile Durkheim e de Marcel Mauss, e interessado pela obra de Karl Marx, pela psicanálise de Sigmund Freud, pela linguistica de Ferdinand de Saussure e Roman Jakobson, pelo formalismo de Vladimir Propp, entre outros, era também um apaixonado pela música, geologia, botânica e astronomia.
As contribuições mais decisivas do trabalho de Lévi-Strauss podem ser resumidas em três grandes temas: a teoria da aliança, os processos mentais do conhecimento humano e a estrutura dos mitos.
A teoria da aliança defende que o parentesco tem mais a ver com a aliança entre duas famílias por casamento respectivo entre seus membros do que com a ascendência de um antepassado comum. Além disso, para Lévi-Strauss, não existe uma “diferença significativa entre o pensamento primitivo e o civilizado”, disse o professor de antropologia Rafael Díaz Maderuelo, por ocasião dos 100 anos do intelectual.
A mente humana “organiza o conhecimento em pares binários e opostos que se organizam de acordo com a lógica” e “tanto o mito quanto a ciência são estruturados por pares de opostos relacionados logicamente”, acrescentou.
Claude Lévi-Strauss, antropólogo de carreira nada convencional, que nasceu em Bruxelas, em 1908, o mais importante antropólogo do século 20.
Convidado a lecionar para as primeiras turmas da recém-fundada Universidade de São Paulo, onde chegou em 1935 e deu aulas durante todo o ano letivo, Lévi-Strauss iniciou no Brasil sua pioneira atividade de campo, investigando a formação de grupos indígenas brasileiros.
Além de São Paulo e do interior do Brasil, Lévi-Strauss trabalhou também em Nova York antes de entrar para o renomado Colégio de França, em 1959. Enquanto traça a trajetória acadêmica do antropólogo, uma de suas principais ideias reconstitui a obra desse fenômeno professor.
(Fonte: Veja, 24 de janeiro de 1990 – ANO 23 – N° 3 – Edição n° 1 114 – LIVROS – Pág; 77)