Philby: agente da KGB no serviço secreto inglês
Harold Adrian Russell Philby (Ambala, Índia, 1º de janeiro de 1912 – Moscou, 11 de maio de 1988), inglês nascido na Índia, com pais da alta classe média inglesa, Kim Philby, como era conhecido, estudou em Cambridge, fez-se passar por simpatizante do franquismo, entrou para o serviço secreto britânico em 1940 e nele teve uma carreira rápida e impecável. Criou e organizou a seção encarregada de espionar a União Soviética, foi oficial de ligação inglês com a CIA e o FBI americanos e, em 1950, a perspectiva que se lhe abria era a de ser o dirigente máximo do serviço secreto britânico. Em nenhum momento, porém, a lealdade política de Kim Philby fraquejou desde os 19 anos foi um comunista convicto e durante três décadas, até 1963, quando fugiu para Moscou, serviu como agente da KGB, o serviço secreto soviético. Kim Philby recebeu de Francisco Franco a Cruz Vermelha do Mérito Militar durante a Guerra Civil da Espanha, foi condecorado com a Ordem do Império Britânico e ganhou a Ordem de Lênin, da União Soviética.
Ainda em Cambridge, Philby desiludiu-se com a esquerda inglesa, encarnada pelo Partido Trabalhista, e converteu-se ao comunismo. Procurou orientação junto a Maurice Dobb, o historiador marxista que, em vez de aconselhá-lo a entrar no frágil Partido Comunista britânico, colocou-o em contato com uma organização comunista francesa. Da França, Philby foi para Viena em 1933, onde militou clandestinamente junto com os comunistas. De volta à Inglaterra no ano seguinte, foi recrutado para a espionagem soviética. Pouco depois, os diplomatas Donald Maclean e Guy Burgess e o historiador Anthony Blunt – colegas de Philby em Cambridge – entraram para a KGB.
Em 1940, depois de ter sido correspondente do The Times na Guerra Civil Espanhola, Philby foi recrutado pela espionagem inglesa – no que foi acompanhado por Maclean, Burgess e Blunt. Em 1949, faz a ligação entre os ingleses e a CIA e fica sabendo dos planos dos dois serviços em enviar agentes para combater as forças comunistas na Albânia: avisa os soviéticos, fazendo com que centenas de anticomunistas sejam mortos ao entrar na Albânia. Em 1951, Maclean é virtualmente descoberto como agente soviético e Burgess com quem tinha um caso amoroso se apavora e foge com ele para a URSS.
Como era muito ligado a Burgess, Philby é investigado pela espionagem inglesa, mas não se encontram provas contra ele. Só em 1963, quando atuava em Beirute, os ingleses têm certeza de que Philby é espião russo. Philby foge então para Moscou. Em janeiro passado, rompendo um silêncio de 25 anos, Philby falou pela primeira vez a um jornalista ocidental, Phillip Knightley, do The Sunday Times de Londres. Ao jornalista, o espião contou que lia o The Times diariamente, ouvia a BBC, mas que, da Inglaterra, só sentia saudades da mostarda Colman e do molho Lea & Perrins. Disse que até gostaria de visitar a Inglaterra em férias, para ver os netos (teve cinco filhos com a segunda de suas cinco mulheres), mas que não cogitava em sair de Moscou.”Aqui é a minha casa, o país ao qual servi, e aqui quero ser enterrado”, disse. Aos 76 anos, Philby, que sofria de arritmia cardíaca, morreu na quarta-feira, dia 11 de maio de 1988. Com honras militares e a patente de general da KGB, Kim Philby foi enterrado em Moscou.
(Fonte: Veja, 18 de maio de 1988 - ANO 20 – Nº 20 – Edição 1028 - DATAS - Pág; 113)
(Fonte: Veja, 16 de março de 1983 – Edição 758 – DATAS – Pág; 99)