Didier Pironi teve carreira na Fórmula 1 encerrada após brutal acidente em Hockenheim
Debaixo de muita chuva, piloto da Ferrari bateu na traseira da Renault de Alain Prost e capotou; foram múltiplas fraturas nas pernas, e piloto morreria num acidente de motonáutica em 1987
Didier Joseph Louis Pironi (nasceu em Villecresnes, em 26 de março de 1952 – faleceu em Southampton, em 23 de agosto de 1987), ex-piloto de Fórmula 1 francês que atualmente participava de competições de motonáutica. Estreou na Fórmula 1 em 1978, correndo pela Tyrrel. Mais tarde competiu pela Ligier e pela Ferrari, participando de setenta corridas e vencendo três. Em 1978, foi o ganhador das 24 Horas de Le Mans.
Quatro anos depois, quando liderava a temporada de Fórmula 1, sofreu um grave acidente durante o Grande Prêmio da Alemanha que o tirou do automobilismo.
O dia 7 de agosto é marcante na história do automobilismo, mas não por uma corrida inesquecível ou uma façanha de algum piloto, mas de uma forma triste. Foi neste dia, um chuvoso sábado em Hockenheim, que Didier Pironi sofreu o acidente que interrompeu sua carreira, durante a classificação. O francês era o líder do campeonato e jamais disputaria outra corrida. Morreria em 1987 num acidente de lancha motonáutica.
Pironi chegou a Hockenheim na liderança do campeonato, com nove pontos de vantagem para o vice-líder John Watson (McLaren). Numa temporada marcada pelo duelo entre as três equipes com carros de motor turbo (Ferrari, Renault e Brabham) e as melhores de propulsor aspirado (McLaren, Williams, Lotus e Tyrrell), o velocíssimo circuito alemão era ideal para os turbos fazerem valer a maior potência. Nesse contexto, Pironi dominou amplamente a primeira classificação, na sexta-feira, marcando 1m47s947, contra 1m48s890 do segundo colocado Alain Prost.
O tempo de Didier foi tão bom, que teria lhe dado o segundo lugar no grid de 1981, último ano de Hockenheim sem a chicane colocada na Ostkurve para reduzir a velocidade dos carros – a primeira chicane (Jim Clark) também tinha tido a velocidade diminuída. Mas Pironi deu uma escapada no fim do treino e danificado o carro. Já Niki Lauda, que era o quarto colocado no campeonato, machucou o punho num acidente e desistiu da corrida.
O sábado amanheceu com muita chuva em Hockenheim, e se isso continuasse até a tarde, na hora da segunda classificação, a quarta pole position de Pironi na temporada estaria garantida. Ainda assim, os pilotos entraram na pista para testar pneus para pista molhada no segundo treino livre. Didier, por exemplo, experimentou diversos jogos diferentes para chuva. Por volta das 10h30, deu-se o desastre.
No trecho entre a terceira chicane e a entrada do estádio, Alain Prost vinha com sua Renault a cerca de 180 km/h, numa volta de retorno aos boxes. Derek Daly (Williams) viu o carro de Prost mais lento pela esquerda e derivou para a direita. Já Pironi, que vinha logo atrás do irlandês, foi ofuscado pelo spray dos dois carros à sua frente e pensou que Daly estava lhe dando passagem. Didier seguiu pela esquerda e, a 280 km/h, atingiu a Renault de Prost. A Ferrari decolou.
No voo dramático de aproximadamente cem metros, a Ferrari saiu capotando e pousou de bico na grama. As modificações feitas na seção frontal do modelo 126 C2 após o acidente fatal de Gilles Villeneuve, de dinâmica muito parecida, foram decisivas para Pironi sobreviver ao impacto. Ainda assim, as pernas do francês foram severamente atingidas. Foram múltiplas fraturas nas duas pernas, pés, nariz e braço do lado esquerdo. O acidente não foi gravado em vídeo.
Prost, Eddie Cheever, Nigel Mansell e Nelson Piquet pararam seus carros e foram em direção aos destroços. O brasileiro inclusive ajudou a destravar o cinto de segurança. Ali viu uma cena terrível: Pironi estava consciente mas com sangue saindo pelo nariz e a perna direita esmagada. O francês urrava de dor. Nelson não teve condições de permanecer ali, e saiu andando cabisbaixo. Já Prost nunca mais conseguiu pilotar com tranquilidade na chuva e declarou anos depois que sempre que andava no molhado via a imagem do carro de Pironi voando sobre a sua cabeça.
Cinco médicos, incluindo o Dr. Sid Watkins, chegaram rapidamente ao local do acidente, mas a situação das pernas de Pironi, sobretudo a direita, era tão grave, que chegou a ser aventada a possibilidade de amputação ali mesmo na pista. Consciente, o francês implorou para não ter a perna direita amputada, e Sid Watkins evitou que isso acontecesse. Meia hora depois do acidente, Pironi foi transportado para o Hospital Universitário de Heidelberg. Numa delicada cirurgia de seis horas, as pernas de Didier foram salvas. Nenhum órgão vital foi afetado.
– Após uma cirurgia de quase seis horas, o pé de Pironi está no lugar. Até agora não surgiram complicações e temos esperanças de ter-lhe salvo a perna da amputação. Pironi está desperto e consciente de tudo o que se passou e das operações a que foi submetido – disse Watkins.
A circulação dos membros inferiores de Pironi foi restabelecida, e o francês iniciou uma lenta recuperação. Mas a carreira do francês estava interrompida. Mesmo sem correr, Didier ainda foi vice-campeão de 1982, ao lado de John Watson, com 39 pontos, apenas cinco a menos do que Keke Rosberg, dono do título daquele ano.
Três anos e meio depois do acidente, Pironi conseguiu voltar a caminhar sem a ajuda de muletas e começou a ensaiar um retorno à F1. Testou os carros da AGS em Paul Ricard e da Ligier em Dijon-Prenois. O desempenho foi bastante razoável, mas as consequências físicas do acidente ainda complicavam uma possível volta. Ainda havia um problema: caso voltasse a correr, Pironi seria obrigado a pagar de volta à seguradora o dinheiro que havia sido dado a ele após o acidente.
Didier Pironi decidiu então unir duas de suas paixões: a velocidade e o mar. Diante disso, o francês iniciou uma nova carreira, nas corridas de motonáutica. Num domingo, 23 de agosto de 1987, numa competição nas cercanias da Ilha de Wight, no sul da Inglaterra, Pironi pilotava um barco Colibri e disputava a liderança da prova com outra tripulação, quando a embarcação virou numa onda levantada pelo petroleiro “Avon” e bateu no leme deste.
Os três tripulantes, que eram Pironi, o co-piloto Jean-Claude Guenard e o jornalista Bernard Giroux, morreram no impacto, a cerca de 160 km/h. Após a morte do ex-piloto de F1, sua namorada Catherine Goux deu à luz gêmeos, que batizou de Didier e Gilles, este em menção a Gilles Villeneuve. Em 2014, Gilles entrou na equipe Mercedes como engenheiro e, no último GP da Inglaterra, teve a honra de receber o troféu pelo time ao lado de Lewis Hamilton. Uma imagem definitiva.
Dia 23 de agosto, quando a lancha que pilotava capotou e explodiu durante uma prova de motonáutica, na Ilha de Wight, na Inglaterra.
(Fonte: Revista Veja, 2 de setembro de 1987 – Edição 991 – DATAS – Pág; 99)
(Direitos autorais: https://ge.globo.com/motor/formula-1/blogs/f1-memoria/post/2020/08/07 – Globo/ MOTOR/ FÓRMULA 1/ Por Fred Sabino — Rio de Janeiro – 07/08/2020)