Giocondo Gervasi Dias (Salvador, 18 de novembro de 1913 – Rio de Janeiro, 7 de setembro de 1987), baiano comunista, sucessor de Luís Carlos Prestes na secretaria-geral do Partido Comunista brasileiro. Militante do PCB durante 53 anos, 41 deles do Comitê Central do partido, Dias viveu 32 anos na clandestinidade, onze dos quais sem se comunicar com a família, e outros cinco anos no exílio. Foi sempre, um homem do aparelho do Partido Comunista, onde era conhecido como o “grande mudo”: o dirigente que ouve muito, fala pouco e nunca escreve. Primogênito de cinco irmãos numa família pobre, Dias ficou órfão de pai aos 7 anos. Católico na infância, serviu como coroinha em igrejas de Salvador. Não conseguiu terminar sequer o curso primário porque precisava trabalhar, como balconista, para ajudar no sustento da família. Aos 18 anos, alistou-se no Exército e combateu durante a Revolução Constitucionalista de 1932 ao lado das tropas legalistas.
Dois anos depois, já promovido a cabo, entrou para o PCB. Eu não tinha nenhuma base teórica, lembrou depois. Entrei para o partido mais por causa da propaganda que faziam contra a União Soviética, dizendo que lá distribuíam terras, que se era contra os ricos e que as pessoas tinham o direito de trabalhar. Em 1935, Dias liderou a Intentona Comunista em Natal, tendo recebido quatro tiros. Fracassado o golpe, fugiu para o interior, onde resistiu à prisão e foi esfaqueado. Ficou preso quase dois anos. Em 1945, foi eleito deputado estadual na Bahia. Pouco depois que o registro do PCB foi cassado, em 1947, transferiu-se para o Rio de Janeiro e passou a viver na clandestinidade, funcionando como braço direito de Luís Carlos Prestes.
Depois de um período breve, voltou à clandestinidade em 1964, mas permaneceu no país até 1976, quando foi para a França. Lá, começaram as divergências com Prestes. Também na França Dias, muito abalado, viu morrer sua primeira mulher, com quem teve cinco filhos. Com a anistia, voltou ao Brasil em 1979 e, à medida que Prestes se afastava da linha do PCB, ficou cada vez mais evidente, entre os comunistas, que Giocondo Dias o sucederia no cargo máximo de secretário-geral.
No Rio de Janeiro, na primeira semana de setembro, houve a maior homenagem fúnebre jamais prestada a um comunista no Brasil. Aos 73 anos, o baiano Giocondo Dias, sucessor de Luís Carlos Prestes na secretaria-geral do Partido Comunista brasileiro, morreu dia 7 de setembro, de arritmia cardíaca provocada por um câncer no cérebro, em sua casa, no bairro da Tijuca. Seu corpo foi velado na Assembleia Legislativa por políticos das mais variadas tendências – do ministro Aureliano Chaves, das Minas e Energia, do PFL, ao prefeito do Rio de Janeiro, o socialista Saturnino Braga. Giocondo Dias cujo nome poderia muito bem integrar a lista dos “desaparecidos” – o rol daqueles que foram assassinados durante a ditadura militar na virada dos anos 60 para os 70 e que a polícia política sumiu com seus corpos.
Diabético, Dias começou a piorar de saúde em 1986. Em janeiro, foi para Moscou, onde os exames revelaram que tinha um tumor no cérebro. Foi tentada uma cirurgia, mas o câncer já se havia alastrado. De volta ao Brasil, passou por períodos de inconsciência. Quando lúcido, pedia para que o deixassem morrer em sua casa.
(Fonte: Veja, 16 de setembro, 1987 – Edição 993 – DATAS – Pág;89)
Giocondo Dias, presidente da Comissão Executiva Nacional do Partido Comunista Brasileiro.
(Fonte: Veja, 11 de fevereiro, 1987 Edição N° 962 DATAS Pág; 79)