Luiz Lombardi Neto, o locutor dono da misteriosa voz do SBT

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Morre o locutor Lombardi, dono da misteriosa voz do SBT

Ele começou sua carreira na televisão na década de 60 e acompanhou Silvio Santos por mais de 40 anos

SÃO PAULO –

“Ôôôôi, Lombardi!”: lá se vai um dos bordões mais clássicos da TV brasileira. Quem Silvio Santos passará a chamar, daqui em diante, para anunciar os testemunhais de seu programa? O patrão nem quer pensar nisso. Lombardi se foi aos 69 anos, sem causa de morte definida. Segundo informações do SBT, sua mulher, Eni Lombardi, encontrou-o morto ao acordar. O velório será realizado a partir das 17h30, na Câmara Municipal de Santo André, de onde sairá o cortejo fúnebre nesta quinta, 3, às 10h, até o Cemitério da Vila Pires, à Rua Miguel Couto, s/n, também na cidade do Grande ABC, onde o locutor será sepultado.
Nesta quarta, 2, dia em que Luiz Lombardi Neto era normalmente aguardado para gravar com Senor Abravanel, o dono do SBT cumpriu expediente sem chamar sequer os anúncios das empresas do Grupo Silvio Santos, missão que cabia ao mais famoso locutor do País.

“Ele nem queria gravar hoje”, contou ao Estado o assistente de palco de Silvio Santos, Roque, sobre o patrão. “A diretoria do grupo então ligou pro Silvio e falou que havia 250 pessoas (no auditório) esperando, além dos artistas convidados, e ele, em consideração ao público, acabou gravando”, completou. Ainda de acordo com Roque, Silvio Santos disse ao seu auditório: “Hoje eu não viria gravar porque é um dia muito triste pra mim, mas, em respeito a vocês, estou aqui e não quero passar essa tristeza pra vocês.”

Lombardi acompanha Silvio Santos desde os idos em que o patrão locava horário na grade de programação da Globo, sempre aos domingos. “Desde o começo, o Silvio dizia ‘é com você, Lombardi?’, e percebeu que isso começou a despertar a curiosidade das pessoas para conhecer o rosto do Lombardi”, lembra Luciano Callegari, ex-vice-presidente de Operações e Programação do SBT, que naquela época era diretor de palco do Programa Silvio Santos. “Aí o Silvio dizia pra ele: se sair uma foto sua em algum jornal ou revista, você perde o emprego”. O segredo foi mantido por mais de 20 anos, até que um papparazzo o flagrou. Mesmo assim, são raras as imagens do locutor até hoje tornadas públicas.

Algumas delas estão no site criado por um fã e colega de Lombardi. “Costumo dizer que fama e anonimato andam sempre juntos. Não tenho essa vaidade de aparecer. Sei que não sou nenhum galã”, dizia.

Lombardi estava no time dos mais fiéis súditos de Silvio Santos. Ia ao mesmo cabeleireiro do patrão, o lendário Jassa. Dos primeiros aos últimos dias desses 40 anos, nunca deixou de buscar o endosso de Silvio para tudo. “Chefe, como está a minha voz? Está boa, está boa?”, insistia.
Nascido no bairro do Bexiga, em São Paulo, o locutor morava havia anos em Santo André. Começou no rádio em 1966 e no mesmo ano foi parar na TV.
(Fonte: Cristina Padiglione, de O Estado de S. Paulo – quarta-feira, 2 de dezembro de 2009 – CADERNO2 – VARIEDADES)

Lombardi, uma voz do Brasil
Locutor do SBT tinha voz de veludo, empostada, dicção perfeita, narrava como nos antigos programas de rádio

SÃO PAULO – Num tempo que todos podem ser locutores, com seus próprios programas gravados em podcasts ou em vídeos no Youtube, nada podia ser mais anacrônico que uma voz de veludo, empostada, com a dicção perfeita, narrando como há 50 anos nos antigos programas de rádio. Não no SBT. Tem coisas que só no SBT pode. Uma delas era o Lombardi.

Onde mais seria possível ouvir sem se aborrecer alguém anunciando produtos – de carnê de compras, títulos de capitalização e cosméticos aos prêmios para os participantes: “…um lindo refrigerador, uma casa e um carro zero quilômetro!” – sem a informalidade artificial de telemarketing que impera nos merchandisings que proliferam nos programas de TV?

Na contramão de tudo o que é considerado moderno e cool, Lombardi interagia com o patrão de voz tão inconfundível quanto à dele com uma entonação grandiloquente, mas ao mesmo alegre e simpática, sobretudo nas últimas palavras da frase, onde era possível até escutar um sorriso.

Nada de falar como o público alvo, mas sim para o público alvo. A praga disseminada pelos entendidos em comunicação e que faz aberrações como senhores de cabelos brancos ou tingidos gritarem “e aí galeraaa!” na tentativa de conquistar um público jovem não tinha lugar nas narrações desse locutor que era uma das caras do SBT, mesmo que sua cara nunca aparecesse.

Por vários anos, Lombardi foi um dos maiores mistérios da TV brasileira. Por estratégia de Silvio Santos – mestre da comunicação e em criar lendas – criou-se uma aura em torno do locutor. Suas aparições públicas eram proibidas por contrato, dizia-se. A curiosidade para quem assistia pela TV era ainda maior quando Silvio resolvia conversar um pouco mais com o locutor olhando para o canto do palco onde Lombardi estava sem que as câmaras fizessem o mesmo. O privilégio de conhecer o rosto da lenda era só das companheiras de auditório, que ao contar a experiência de ir aos programas sempre ressaltavam que tinham visto o Lombardi.

De uns tempos para cá, a proibição – real ou não – deixou de existir e Lombardi deu as caras por aí, em algumas entrevistas para jornais e TV. Mesmo com o fim do mistério, a voz que se tornaria inconfundível nas mais de quatro décadas em que esteve nos programas de Silvio Santos não perderia seu carisma.

Era um prato cheio para comediantes e imitadores, já que o patrão é um dos personagens preferidos dos humoristas e, como todos sabem, imitação do Silvio que se preze tem que ter o Lombardi como complemento.

Claro que dá para imaginar Silvio Santos sem Lombardi, como é claro que o Homem do Baú seria o mesmo Silvio Santos mesmo que Lombardi não tivesse surgido no seu caminho. O mesmo talvez não acontecesse com Lombardi se Silvio não tivesse surgido na vida do locutor. Mas Silvio certamente deverá sentir saudades de dizer – e nós de ouvir – “É com você, Lombardi!”

(Fonte: Edmundo Leite, do estadao.com.br – quarta-feira, 2 de dezembro de 2009 – CADERNO2 – VARIEDADES)

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