Agustín Eastman, editor e presidente do jornal “El Mercurio”, do Chile

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Empreendedor dedicado à notícia

 

Agustín Edwards Eastman

Inovação. Eastman impulsionou portais digitais. Presidiu entidades globais de jornalismo. como a Sociedade Interamericana de Imprensa – (Foto: Divulgação / Divulgação)

 

Agustín Iván Edmundo Edwards Eastman (Paris, 24 de novembro de 1927 – 24 de abril de 2017), responsável pela edição do jornal chileno ‘El Mercurio’, jornalista assumiu a empresa aos 29 anos

Os quase 90 anos da vida de Agustín Edwards Eastman, editor e presidente do jornal “El Mercurio”, do Chile, percorreram quase a metade da existência do país e se entrelaçaram com ela em muitos aspectos. Continuador de tradição empresarial, jornalística e de compromisso público mantida por cinco gerações anteriores, ele fez honra a ela.

 

Agustín Edwards McClure

Agustín Edwards Mac-Clure dono do El Mercurio de Valparaíso (Foto: Wikipedia/ Reprodução)

Encontrou muito cedo sua vocação profissional, quando seu avô, Agustín Edwards McClure (1878-1941), o apresentou à vida do “Mercurio”, ao qual esteve ligado por mais de sete décadas. Com a morte precoce de seu pai, Agustín Edwards Budge (1899-1957), assumiu aos 29 anos a responsabilidade de encabeçar a empresa familiar. Consolidou no jornal um espaço de independência e respeito profissional no qual trabalharam centenas de jornalistas que alcançaram méritos e reconhecimento.

 

Agustín Roberto Edwards Budge

Agustín Edwards Budge (Foto: WikiTree/ Reprodução)

 

“A contratação nos meios jornalísticos de profissionais de qualidade, com independência absoluta de convicções pessoais” sintetizou seu critério para resguardar o pluralismo informativo.

Eastman redobrou a tradição de seus antecessores ao adotar as tecnologias mais avançadas de cada momento, e assumiu a necessidade de aprofundamento e interpretação da notícia que os tempos exigiam. À sua gestão, deve-se a circulação nacional do “Mercurio”, apesar da complexa geografia chilena, desde a década de 1960. Sob sua gestão, a edição foi complementada com uma série de revistas especializadas, que o próprio Eastman lançou em 1966 com a “Revista de domingo”, e a precoce introdução em suas páginas das cores e fotografias internacionais de transmissão instantânea.

Entusiasta da inovação, impulsionou os portais digitais, assim como a televisão a cabo no Chile. Suas numerosas iniciativas valeram importantes reconhecimentos, entre eles o prêmio Maria Moors Cabot, concedido pela Universidade de Columbia, de Nova York. Da mesma forma, foi participante ativo e dirigente em diferentes instâncias do jornalismo global. Presidiu a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e o Grupo de Diários da América (GDA), do qual foi um dos principais inspiradores e fundadores.

Simultaneamente, teve intensa vida empresarial e foi chamado a desempenhar funções de direção e aconselhamento de empresas produtivas, bancárias, de seguros e de transporte aéreo.

Como todo empreendedor, obteve êxitos e reveses. Em 1970, depois de ameaças graves a suas empresas e família, radicou-se com esposa e filhos nos Estados Unidos e conquistou mercados externos como vice-presidente de uma multinacional de alimentos.

Sob inspiração de ideais de liberdade, nos anos 1960, criou o Centro de Estudos Socioeconômicos (Cesec), talvez o primeiro think-tank moderno no Chile e, no cenário externo, foi participante ativo do Conselho Interamericano de Comércio e Produção e do Conselho das Américas.

Após o sequestro de um filho, em 1992, deu vida e liderou por 25 anos a Fundação Paz Cidadã, para buscar soluções técnicas para o problema da delinquência, convocando um diretório integrado por personalidades de várias ideologias políticas. A instituição teve papel decisivo na formulação da reforma processual penal que o Chile esperava por décadas. Apoiou iniciativas terapêuticas e integração social de ex-viciados. Seguindo a tradição de seus antepassados, destinou generosos recursos à caridade, muitas vezes de forma privada, principalmente para jovens de baixa renda.

Ao chefiar o conselho de direção da Universidad Federico Santa María, líder em engenharia, ciência e tecnologia, mostrou sua preocupação com a qualidade de gestão na educação superior técnica do país. Décadas depois, dedicou-se à criação da Fundação País Digital, para investir em tecnologias de informação para todas as camadas sociais.

Precisava da atividade pessoal direta, manifestada em vários planos, entre os quais destacou seu fascínio pela navegação, o que o levou, inclusive, a ser oficial da reserva da Marinha do Chile — motivo de especial orgulho para ele.

Acompanhado pela esposa, Malú del Río, estimulou incessantemente a divulgação cultural em massa. Por empenho dos dois, com estreita ligação com o Museu de Arte Moderna de Nova York, o Chile recebeu em 1968 a primeira grande exposição internacional de pintura, “De Cézanne a Miró”. Essa mesma inquietude o levou a dar apoio decisivo à promoção do esporte nas escolas, em campeonatos com estudantes de todo o país e, mais tarde, nas famosas “voltas ciclísticas no Chile”, que tiveram repercussão internacional.

PÁIS MELHOR PARA O NETOS

A paixão pelos livros se traduziu no seu apoio à Editorial Lord Cochrane e na fundação do selo editorial El Mercurio-Aguilar, seguindo depois independentemente como El Mercurio.

Apesar de sua discrição, nunca hesitou em assumir como editor o que acreditava ser a principal responsabilidade de um meio de comunicação: “Tratar de ajudar a construir o país que alguém quis entregar a seus netos”.

Seu legado jornalístico continua inestimável. Impregnou em seus jornais o sentido de serviço público, exigindo que se mantivessem uniformes, acima de paixões e interesses, e inclusive sobre conveniências dos donos, na tradição mais que secular do “Mercurio”. De seu avô, fundador do jornal de Santiago, havia herdado a vontade inflexível de alcançar constantemente novas e mais ambiciosas metas. No centenário do jornal, expressou sua crença jornalística em termos sensíveis e exemplares:

“Devemos dar a notícia completa e isenta, mas as conclusões que deduzirmos dela serão as que validamente nos ditarão nossa linha editorial, indicando não só o que vemos, mas também como vemos e por que vemos”.

Agustín Eastman morre aos 89 anos, em 24 de abril de 2017. Nos últimos meses de 2016, após uma viagem a Roma, ele antecipou uma intervenção cirúrgica em Nova York, que foi bem-sucedida. Nos dias seguintes, no entanto, complicações severas comprometeram sua recuperação. Ele foi transferido para o Chile, onde, permaneceu sob os cuidados da família.

(Fonte: (Fonte: http://oglobo.globo.com/economia – ECONOMIA/ POR O GLOBO – 26/04/2017)

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(Do Grupo de Diários da América)

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