Luís da Câmara Cascudo (Natal, 30 de dezembro de 1898 – Natal, 30 de julho de 1986), historiador, folclorista, advogado, etnólogo e professor. Escreveu mais de 160 livros sobre a cultura brasileira, entre eles o clássico Dicionário do Folclore Brasileiro, de 1954.
Durante mais de cinquenta anos foi professor na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Era o único estudioso de sua especialidade que tinha uma visão verdadeiramente nacional do folclore brasileiro.
Câmara Cascudo morreu dia 30 de julho de 1986, aos 87 anos, de ataque cardíaco, em Natal.
(Fonte: Veja, 6 de agosto de 1986 - Edição 935 - Datas - Pág; 111)
Maior estudioso da comida brasileira
Considerado um dos mais importantes pesquisadores da cultura popular brasileira
Luís da Câmara Cascudo (Natal, 30 de dezembro de 1898 – Natal, 30 de julho de 1986), historiador, folclorista, advogado, etnólogo e professor. Escreveu mais de 160 livros sobre a cultura brasileira, entre eles o clássico Dicionário do Folclore Brasileiro, de 1954.
Durante mais de cinquenta anos foi professor na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Era o único estudioso de sua especialidade que tinha uma visão verdadeiramente nacional do folclore brasileiro.
Cascudo foi um sujeito erudito que encheu cadernos de notas, observou os costumes do brasileiro sem trégua, ouviu escravos de “inesgotáveis recordações”, leu vagarosamente receitas escritas à mão.
Já dizia ele, “o alimento contém substâncias imponderáveis e decisivas para o espírito, a alegria, a disposição criadora, o bom humor.”
Câmara Cascudo morreu dia 30 de julho de 1986, aos 87 anos, de ataque cardíaco, em Natal.
(Fonte: Veja, 6 de agosto de 1986 Edição 935 Datas Pág; 111)
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/comida/2015/10- COMIDA/ Por Luiza Fecarotta, crítica da Folha – 14/10/2015)
Câmara Cascudo: o maior folclorista do Brasil
A biblioteca é um espelho de pensamento de Câmara Cascudo. Ele tinha uma visão do folclore que via o estudo da cultura popular como parte de um projeto nacionalista.
Para Cascudo, o que interessava era tecer relações entre o Brasil e o resto do mundo, e também entre cultura popular e cultura erudita. A seu modo, ele “globalizou” o folclore.
Assim, em sua biblioteca, obra sobre lendas e mitos sobre lugares distantes, como as Filipinas, se misturam aos grandes clássicos da literatura de todos os tempos.
Foi recorrendo a eles que Câmara Cascudo escreveu livros desconcertantes, como o que relaciona a Divina Comédia, do poeta italiano Dante Alighieri, com a poesia popular de Portugal e Espanha. Ele fez essa comparação para mostrar como, através da Península Ibérica, o imaginário do vate florentino foi ecoar até nos folhetos de cordel brasileiros.
Câmara Cascudo caiu no ostracismo por três motivos. O primeiro, e mais óbvio, é o fato de ele ter passado a vida toda num Estado pobre como o Rio Grande do Norte.
Dos cerca de 140 livros que publicou em vida, incluindo-se aí opúsculos e coletâneas, menos de uma dezena está em catálogo. Sua obra sumiu por um longo período dos currículos das universidades. Sua correspondência ainda espera por um estudo aprofundado.
O folclorista potiguar fez um viagem etnográfica à África portuguesa, tinha cultura enciclopédica e era missivista compulsivo.
Em Natal, Rio Grande do Norte, cidade onde o autor passou a maior parte da vida, que além da circunstância geográfica, uma questão de caráter ideológico o relegou ao esquecimento. A obra de Cascudo faz uma ponte direta entre o folclore e a cultura clássica, sem passar pelo referencial mais importante para a produção acadêmica recente (da época) das universidades brasileiras, que é o marxismo.
Por causa disso, sua produção é considerada por alguns críticos “pouco científica”. Suas posturas políticas também contribuíram para que o autor sofresse um patrulhamento da esquerda.
Na juventude, Câmara Cascudo foi monarquista. A vida toda, católico fervoroso. Nos anos 30, chefiou o Partido Integralista no Rio Grande do Norte.
Ao contrário de grande parte dos intelectuais brasileiros, Câmara Cascudo escrevia bem. Era um cultor da frase clara, harmoniosa e, mesmo nos estudos mais profundos, sacava sempre da ironia para tornar o texto mais leve. Influência dos clássicos, que leu na adolescência.
Câmara Cascudo teve educação esmerada. Nasceu numa das famílias mais ricas de Natal na virada do século XIX. Seu pai, um comerciante abastado, vivia numa chácara apelidada de “Principado do Tirol”, com lustres de cristal, sala de visitas com afrescos pintados por um artista espanhol, mosaicos belgas e caramanchões no jardim. Carros eram raros na cidade, mas a família Cascudo tinha três.
Tal como um dândi francês, o jovem Luís desfilava pela cidade a bordo de um Ford bigode, usando ternos importados, bengala, polainas e monóculo. Quando a família faliu, em 1932, Câmara Cascudo teve de trabalhar como professor para sobreviver. Mesmo assim, não perdeu a pose.
Alguns hábitos, como os charutos Havana, os vinhos franceses e o presunto italiano, perduraram até o fim da vida. Embora tivesse convites para lecionar na USP e na Sorbonne parisiense, nunca saiu de Natal. Talvez porque lá fosse rei. Todas as pessoas ilustres que passavam na cidade iam visita-lo. Colecionava assinaturas na parede de casa.
O folclorista Câmara Cascudo, foi autor de uma obra variada e instigante, foi um dos fundadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Câmara Cascudo jactava-se de ler um livro por dia, deitado numa rede. Escrevia os próprios à noite, a máquina. Por varar madrugadas, mandou colocar uma placa na porta de casa: “O professor Câmara Cascudo não recebe pela manhã.”
Câmara Cascudo é de certa forma um precursor do multiculturalismo, passou a ser estudado também nos departamentos de antropologia e de estudos medievais.
(Fonte: Revista Veja, 1° de setembro de 1999 – ANO 33 – Nº 35 – Edição 1613 – CULTURA / Por João Gabriel de Lima, de Natal – Pág: 152/155)