O “Grupo do Santa Helena”, o primeiro núcleo de artistas paulistas trabalhando em conjunto
Francisco Rebolo Gonsales (1902-1980), pintor paulista respeitado como pioneiro, foi fiel a um tema. Ele era respeitado com o carinho devido a um pioneiro da pintura paulista. Uma maneira de pintar que só apareceu na década de30, quando um grupo de artistas preferiu retratar os prosaicos arredores da cidade a pintar temas nobres. Rebolo manteve-se fiel a esse relacionamento direto com o mundo exterior, de um alegre lirismo. Filho de imigrantes da Andaluzia, cresceu na várzea da Moóca, bairro paulista, fez o curso primário ali mesmo e logo arrumou o seu primeiro emprego, como entregador numa casa de chapéus. Nasceu no dia 22 de agosto de 1902, em São Paulo.
Com 13 anos conseguiu tornar-se aprendiz de decoração, começou a trabalhar com pincéis e tintas – este foi o seu único curso de aprendizado profissional. Pouco tempo mais tarde já executava pinturas nas paredes de residências, detalhes na decoração das igrejas e projetos inteiros de decoração. Lançou-se no futebol em 1917, na Associação Atlética São Bento, mas continuou fiel à sua primeira profissão.
PAISAGEM DO SUBÚRBIO Como os negócios de pintura já estivessem melhores, ele transferiu-se em 1933 para um prédio solene, com entrada de mármore e escadarias, embora nele só tivesse uma sala modesta. Era o Edifício Santa Helena, na praça da Sé, no centro da cidade, onde começaram a visitá-lo alguns pintores, entre eles Fulvio Pennacchi. Um ano depois, mais três artistas alugaram outra sala como ateliê, Mário Zanini, Clóvis Graciano e Aldo Bonadei. Com a chegada, pouco depois, de mais outros, Alfredo Volpi, Rizzotti e Manoel Martins, completou-se o “Grupo do Santa Helena”, o primeiro núcleo de artistas paulistas trabalhando em conjunto. Essas duas salas do Santa Helena”, serviram para debates e encontros, com a presença, entre outros, de Mário de Andrade e Sérgio Milliet. Como não pude ir para Paris, fui para o subúrbio, pintar as paisagens dos subúrbios pobres, como o Canindé ou o Cambuci, o próprio Rebolo comentaria mais tarde.
O seu primeiro prêmio, no Salão Paulista de 1936, foi para uma paisagem do seu próprio quintal e outra do Canindé, e, apesar de sua presença em muitas coletivas, só em 1944 conseguiu fazer uma exposição individual. O prêmio de “Viagem ao Exterior” do Salão Nacional de 1954 permitiu-lhe realizar o grande sonho: com a mulher e a filha, embarcou para dois anos na Europa, em 1955. Só então ele tomou contato com as lições do cubismo que já o vinham preocupando e passou a estruturar suas paisagens com um certo rigor na distribuição das formas. Ao voltar, deddicou-se alguns anos à gravura para finalmente retornar à cor e às telas, que, sem sentir a idade, nunca deixou de fazer.
Como alguns outros desses pioneiros da paisagem paulista, Rebolo também sofreu uma marginalização, no início dos anos 60, e somente nos anos 70 ele foi novamente revalorizado com estudos críticos e com uma merecida retrospectiva no MAM paulista em 1973, documentando o percurso do seu trabalho. Mário de Andrade certa vez chamou-o de “suburbano de São Paulo”. De certa forma, este era um simpático elogio a essa fidelidade às pequenas emoções registradas com tal intensidade em suas paisagens. Em 1922, Rebolo foi o ponta-direita do time que deu ao Corinthians o título de “Campeão do Centenário”. Mas sua morte, de um fulminante enfarte cardíaco, dia 10 de julho de 1980, em São Paulo, não provocou sequer lembranças na crônica esportiva. Aos 77 anos, ele era respeitado com o carinho devido a um pioneiro da pintura paulista.
(Fonte: Veja, 16 de julho, 1980 – Edição n.º 619 – Datas – Pág; 80 – Arte/Por Casimiro Xavier de Mendonça – Pág; 111)