BARACK OBAMA, ex-presidente dos Estados Unidos no Fórum Cidadão Global
“Este é o melhor e o pior dos tempos”, diz Obama no Brasil
Para o ex-presidente americano, o maior desafio atual é a reconstrução de renovação de arranjos políticos e sociais que permitam que a globalização beneficie a todos
O ex-presidente americano Barack Obama esteve dia 5 de outubro, em São Paulo. Ele foi o principal palestrante do Fórum Cidadão Global, organizado pelo jornal Valor Econômico, onde falou para lideranças empresariais brasileiras. Veja a seguir, os alguns dos principais trechos de seu discurso:
Desafios globais
“De algumas formas, este é o melhor dos tempos e o pior dos tempos. O mundo é mais próspero do que nunca, mas isso veio com uma desestruturação industrial e uma estagnação em muitas economias desenvolvidas que deixou muitos trabalhadores e comunidades acreditando que as perspectivas para elas e para seus filhos serão piores, em vez de melhores, no futuro. A questão que se coloca a todos, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, na Ásia, na África é: temos a capacidade de reconstruir e renovar nossos arranjos políticos e sociais de forma que funcione para todos e não apenas para alguns?”
Desigualdade socioeconômica
“Temos que ter certeza de que essa nova economia funcione para todos os povos e nações. Eu acredito que o capitalismo e os mercados abertos são os maiores geradores de riqueza na história da humanidade. Elevaram o padrão de vida ao redor do mundo, gerando inovações e aumentando a produtividade. Mas também é verdade é que a globalização e a automação enfraqueceram a posição dos trabalhadores para garantir salários justos. Em um mundo onde apenas 1% controlam tanta riqueza quanto todo o resto, não veremos estabilidade política. Em cada país, temos que construir novos contratos sociais que deem a todas as nossa pessoas jovens a educação de que precisam. Que garantam um sistema de impostos que seja justo e que não permita que aqueles que se beneficiam dessa nova economia se esquivem de suas obrigações. Temos que modernizar nossa rede de seguridade social, porque ela não só cria estabilidade política, mas também dá suporte para que as pessoas possam arriscar sabendo que, se as coisas não saírem como esperado, ao menos terão o básico para sobreviver.”
Cooperação internacional
“Da mesma forma que lutamos para reduzir a desigualdade em nossos países, teremos que reduzir a distância entre nações ricas e pobres. A maior parte dos nossos grandes desafios demanda cooperação internacional. Tome a questão do aquecimento global. Nós acabamos de ver uma temporada de furacões devastadora. Nós nunca poderemos atribuir um furacão em particular às mudanças climáticas. Mas o que nós sabemos com certeza é que a tendência indica furacões mais fortes, temporadas de incêndios mais longas, mais inundações. É o nosso futuro se a temperatura ao redor do mundo continuar a crescer. Mas nenhum país será capaz de resolver esse problema sozinho. Teremos que trabalhar em conjunto para baixar as emissões de carbono a um nível que nos permita ganhar o tempo necessário para que sejam alcançados os avanços científicos e energéticos que resolverão esse problema de uma vez por todas.”
Ameaças globais
“Temos que reconhecer que, no cenário global, a maior ameaça não são as velhas disputas entre as grandes potências, como no passado. Mas, frequentemente, são os Estados falidos, redes terroristas ou o descontentamento em grandes populações que não tem oportunidades. O que isso significa é que não podemos resolver os problemas apenas com tanques e aviões. Eu estou muito orgulhoso de os Estados Unidos serem a maior potência militar no mundo. Isso é necessário, em alguns casos, para manter a paz. Mas além de mantermos nossa vantagem militar e tecnológica, temos também que manter aliança fortes ao redor do mundo. E para fazer isso, temos que entender que nossa segurança não depende apenas de equipamento militar. Depende também de uma diplomacia forte. E a força de nossa economia e de nossas ideias é igualmente importante para garantir a paz. É dessa forma que podemos criar um cenário de esperança, em vez de círculos de medo e desespero que vemos crescer em tantas regiões do mundo.”
Diversidade e imigração
“Precisamos renovar nosso sentido e abertura a outras culturas e aos que parecem diferentes de nós. Minhas esperança é que, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, que têm uma história multirracial, vejamos isso como uma vantagem e não como uma fraqueza. As possibilidades de pessoas com trajetórias e experiências diferentes, todas contribuindo para uma nação avançar, é o futuro. Isso inclui estar aberto a imigrantes. Como a imigração acontece, faz diferença. Ela tem que ser ordenada. Vão haver algumas tensões. Por isso, temos que ser cuidadosos em relação a levas de imigração sem controle que possam levar a conflitos políticos. Mas temos que reconhecer que, nessa nova era, em que todos estão conectados, devemos dar a eles as boas vindas. O fluxo contínuo de novas ideias e o dinamismo econômico funciona. E deveríamos continuar abertos e lidar com refugiados de países devastados pela guerra, em parte porque nossas próprias famílias, no Brasil e nos Estados Unidos, vêm desses países. E em parte porque estão fugindo de lugares onde são oprimidos.”
Tecnologia da informação
“Precisamos reconhecer como a tecnologia muda a forma como as pessoas consomem informação e que, o que achamos que era só para o bem, as vezes leva a danos e a tendências perversas em nossos países. Estamos mais conectados do que nunca, mas isso de certa forma torna mais fácil nos isolarmos em tribos, em bolhas, onde só ouvimos pessoas que pensam como nós e nunca confrontamos nossas próprias percepções das coisas, porque tudo que lemos e vemos é simplesmente o que um algoritmos nos disse que deveríamos ver. Nos tronamos tão seguros de nossas crenças que tendemos a descartar informações que não se encaixam em nossas opiniões, em vez de basearmos nossas opiniões em fatos e evidências. Isso significa que vamos ter que encontrar novas formas de cultivar o jornalismo independente. Temos que reagir às novas formas de propaganda que estão sendo turbinadas pelo cenário digital e teremos que trabalhar para ouvir as pessoas das quais discordamos, para que possamos encontrar pontos de apoio e o compromisso que a democracia requer.”
(Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2017/10 – MUNDO – NOTÍCIA – 05/10/2017)