San Diego – Cientistas americanos, num dos feitos científicos mais importantes da história da humanidade, desenvolveram a primeira célula controlada por um genoma sintético. Os pesquisadores do J. Craig Venter Institute, localizado na Califórnia, Estados Unidos, acreditam que a técnica vai permitir criar bactérias programadas para resolver problemas ambientais e energéticos, entre outras aplicações. Na opinião de alguns especialistas, a experiência representa o início de uma nova era da biologia sintética.
Os estudos foram publicados na revista Science. A equipe de pesquisadores, liderada por Craig Venter, já havia sintetizado quimicamente o genoma de uma bactéria e também um transplante de genoma de uma bactéria para outra. “Essa é a primeira criatura do planeta, uma célula que pode se replicar, cujo pai é um computador. Podemos pensar que já no ano que vem teremos vacinas de gripe feitas de células sintéticas”, declarou Craig Venter.
Na experiência, os cientistas juntaram as duas técnicas para criar o que chamaram de “célula sintética”, embora apenas o genoma da célula seja sintético. A célula que recebe o genoma é natural. Conforme observou Venter, a primeira “célula sintética” pode se transformar em um instrumento poderoso para tentar determinar o que a biologia pode fazer. Um exemplo, acrescentou ele, seria criar algas que absorvessem dióxido de carbono e que criassem novos hidrocarbonetos. Outras possíveis utilizações da técnica seriam a criação de novas substâncias químicas, de ingredientes para alimentos e de métodos para limpeza de água, explicou o cientista.
No experimento, os pesquisadores sintetizaram o genoma da bactéria M. mycoides, adicionando a ele sequências de DNA como “marcas d”água” para que a bactéria pudesse ser distinguida das naturais, ou seja, das não sintéticas. Como as máquinas sintetizadoras atuais são capazes somente de juntar sequências relativamente curtas de letras de DNA de cada vez, os pesquisadores inseriram as sequências mais curtas em células de fermento. As enzimas de correção de DNA presentes no fermento juntaram as sequências. Logo depois, as sequências de tamanho médio foram inseridas em bactérias E. coli, antes de serem transferidas de volta para o fermento. Após três rodadas desse processo, os pesquisadores conseguiram produzir um genoma com mais de 1 milhão de pares de bases de comprimento. Concluída essa última etapa, os cientistas implantaram o genoma sintético da bactéria M. mycoides em outro tipo de bactéria, denominada Myoplasma capricolum.
(Fonte: Correio do povo – ANO 115 – Nº 233 – PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2010 INTERNACIONAL – Criada célula com genoma sintético Pág; 11)