Velho vinil futurista
A primeira banda brasileira de pop eletrônico
O tempo não perdoa: está fazendo 20 anos que a primeira banda brasileira de pop eletrônico – os Agentss – gravou seu disco de estreia. Eram apenas duas músicas em um vinil de 7 polegadas, mas soavam, nos idos de 1981, como manifestação de outra galaxia. Ainda hoje, descontado o pioneirismo, essa obra-prima faz a gente sentir pena da maioria dos pretensos roqueiros nativos.
A história oficial conta que os anos 80 foram inaugurados pela Blitz, em 1982. Mas um ano antes, a Gang 90 já coloria o cenário com seu pastiche new-wave, dezenas de bandas punks sacudiram São Paulo e os Agentss iniciavam o tecnopop na América do Sul.
O cabeça, Kodiak Bachine, era uma figura excêntrica: cabelo picotado platinado, terno e ursinho de pelúcia a tiracolo. Vocalista e tecladista, Kodiak era, de fato, os Agentss, mas contava com a ajuda de dois outros músicos: o guitarrista Orion Mike (Miguel Barella) e o guitarrista/tecladista Duo (Eduardo Amarante).
“Angra”, o lado A, fora composta por Barella, e seu humor negro punk equilibrava os tons kraftwerkianos de Kodiak em “Agentss”, o lado B. Gravariam um último compacto em 1983, contratados pela Warner junto com Titãs e Ira! Vítimas de uma produção capenga (ninguém sabia gravar pop eletrônico no Brasil), disco e banda caíram no esquecimento.
Kodiak só voltou a dar as caras em 1988, num debate ao lado de Brian Eno, na Bienal de São Paulo. Lançou a coletânea Maditation, com gravações de 1988 a 1995, além de fazer trilha sonora para cinema.
(Fonte: Super Interessante 14 anos – Edição 168 – setembro 2001 – Nostalgia/ Por José Augusto Lemos – Pág; 102)
O grupo seminal pioneiro no Brasil do movimento “new-wave”
O primeiro compacto gravado em 1981, pelo AGENTSS, Luiz F. Portela tocou contrabaixo nas faixas Agentes e Angra que respectivamente contaram com as participações de Roberto L. Antônio e Armando Tibério Júnior na bateria.
A banda AGENTSS foi iniciada por Kodiak Bachine, Miguel Barella e Eduardo Amarante entre 1980 e 1981.
O grupo seminal pioneiro no Brasil do movimento “new-wave” incorporou elementos da música eletrônica e minimalista. Fazendo amplo uso de ícones e de cenografia que auxiliavam na disseminação de novíssimas idéias e conceitos musicais no universo musical Electro-Pop emergente na década de 80.
O AGENTSS estava em fina sintonia com a cena musical internacional, “sincronizado” com grupos e artistas tais como: Kraftwerk, Devo, Talking Heads, Gary Numan, The Residents, Bauhaus, The B-52’s, The Cure, Blondie, Television, Brian Eno, Robert Fripp, etc.
Em pouco tempo se tornou um “cult” entre os jovens em São Paulo, levando uma legião fiel de apreciadores que lotavam os locais onde a banda se apresentava.
A primeira apresentação foi realizada em 25 de setembro de 1982. Com apenas cinco apresentações no período de um ano, deixaram uma impressão marcante na cena local. Os músicos da banda primavam pela qualidade em suas raras performances, o que dificultava maior número de apresentações, pois não contavam com apoio de gravadora ou patrocínio.
O AGENTSS gravou dois compactos sendo o primeiro, em 1981, produção independente, que inclui as músicas Agentes e Angra. O segundo, em 1983, foi lançado pela gravadora W.E.A. contendo as músicas Professor Digital e Cidade Industrial com produção de Pena Schmidt (relançado em CD – Geração anos 80 – coletânea Warner em 2000).
O grupo se desfez, amigavelmente, no final do ano de 1983 por razões filosóficas. Como o cometa Halley que aquela época se aproximava da Terra, o AGENTSS passou rápido, deixando em seu rastro cósmico impressões marcantes nos olhos, ouvidos, corações e mentes dos que foram privilegiados em conhecê-lo.
Além das quatro canções (Agentes, Angra, Professor Digital e Cidade Industrial), o AGENTSS contava com um repertório de 20 a 30 músicas, e 1000 idéias em andamento. Os registros dessas praticamente não existem. Os poucos que permanecem são extremamente rudimentares. Gravados em fitas cassetes e similares, não permitem uma publicação decente, apesar da capacidade imensa da tecnologia atual.
No entanto, algumas dessas músicas podem vir a ser trabalhadas futuramente. Talvez sejam recuperadas atingindo um padrão mínimo de qualidade, tornando possível uma publicação.
No quesito tecnologia, o AGENTSS, também se adiantava. Apesar de não contarem com apoio de técnicos à altura dos conceitos “exóticos” que o grupo buscava. Os próprios músicos “se viravam” para conseguir obter o melhor resultado possível. Para isso uniam talento, disciplina e muita criatividade.
Quando a “nave-mãe” AGENTSS partiu, seus “A g e n t e s” se espalharam para continuar seus caminhos de formas mais diversificadas. Miguel Barella formou o grupo “Voluntários da Pátria”. Eduardo Amarante e Thomas Susemihl formaram o grupo “Azul 29” (também presente no CD – Geração anos 80 -). Posteriormente, Eduardo juntou-se a Guilherme Isnard (ex-Voluntários da Pátria) e formou a banda Zero. Kodiak Bachine seguiu solo…
(Fonte: www.kodiakbachine.com)