Wilson Moreira foi grande compositor que fez samba para o povo em forma de arte negra
Ele teve suas músicas gravadas por Clara Nunes, Elizete Cardoso, Alcione, Beth Carvalho, Jair Rodrigues, Emílio Santiago, Martinho da Vila, D. Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, Zélia Duncan, Djavan, Sandra de Sá, Dudu Nobre, Leny Andrade, Elza Soares, Moacir Luz, Jorge Aragão, entre outros.
Sambista teve as suas composições cantadas por grandes nomes da música brasileira
Wilson Moreira Serra (Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1936 – Rio de Janeiro, 7 de setembro de 2018), cantor e compositor de sambas que deu pérolas aos povos.
Moreira nasceu em 12 de dezembro de 1936 e foi criado no bairro de Realengo. Herdou de sua família a cultura musical. Seus pais e avós adoravam se divertir ao som de ritmos africanos como o jongo, caxambú e o calango.
Aos 9 anos, perdeu o pai e teve de trabalhar para ajudar em casa, mesmo assim persistiu na escola. Foi então vendedor de amendoim, cocada, entregador de marmita, engraxate, guia de cego e mais tarde seria guarda de presídio, profissão que o acompanharia por cerca de 35 anos.
O samba era a sua grande paixão. Com 12 anos já observava atentamente o batuque das escolas de samba. Passou a compor e logo seria diretor de alas e um dos primeiros integrantes da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel onde integrava a ala dos compositores e a bateria.
Aos 29 anos gravou o seu primeiro compacto, passando a ser gravado por grandes intérpretes da MPB. Em 68 transferiu-se para a Portela onde encontraria grandes parceiros e amigos como Paulinho da Viola, Candeia, Natal e muitos outros, fazendo da escola sua bandeira.
Integrou conjuntos como Cinco Só, Turma do Ganzá e Partido em Cinco. Entre seus maiores sucessos estão “Mel e Mamão com Açúcar” e “Senhora Liberdade”, ambos de parceria com o sambista Nei Lopes.
A parceria foi bem sucedida e rendeu dois discos antológicos. O primeiro, “A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes”, lançado em 80, contém clássicos como “Goiabada Cascão” e “Gostoso Veneno”. O segundo, “O Partido (Muito) Alto de Wilson Moreira e Nei Lopes”, de 1985, traz “Fidelidade Partidária” e “Eu Já Pedi”, entre muitos outros.
Em 1986 gravou o primeiro álbum individual, “Peso na Balança”. Wilson fez dois discos especialmente para o mercado japonês pela gravadora japonesa Bomba Records: “Peso na Balança” e “Okolofé”. Estes discos contavam com grandes instrumentistas brasileiros.
Teve suas músicas gravadas por Clara Nunes, Elizete Cardoso, Candeia, Alcione, Beth Carvalho, Jair Rodrigues, Emílio Santiago, Martinho da Vila, D. Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, Zélia Duncan, Djavan, Sandra de Sá, Dudu Nobre, Leny Andrade, Elza Soares, Moacir Luz, Jorge Aragão, entre outros.
Seu primeiro samba-enredo, “Bahia”, parceria com Ivan Pereira, foi um sucesso. Outro famoso, “As Minas Gerais”, foi elogiado pelo mestre Ary Barroso.
Um dos pilares do samba, o compositor Candeia (1935-1978) deu voz em disco de 1977 ao samba-enredo Ao povo em forma de arte, uma das muitas obras-primas da parceria de Wilson Moreira com Nei Lopes.
Feito para o desfile da escola de samba Quilombo no Carnaval de 1978, agremiação engajada da qual Wilson foi um dos fundadores, o samba-enredo Ao povo em forma de arte sintetiza a magnitude da obra do cantor e compositor carioca Wilson Moreira.
Wilson Moreira foi militante do partido mais alto do samba. Fez arte para o povo. Arte negra, como ressaltou com orgulho no título do álbum de 1980 que gravou com o parceiro Nei Lopes, letrista sempre preciso das melodias criadas por Wilson.
Repleta de pérolas negras como Jongo do irmão café (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1981), o cancioneiro de Wilson Moreira – composto com Nei Lopes e com diversos outros parceiros em leque que vai de A (de Adalto Magalha) a Z (de Zeca Pagodinho) – foi tão grande que é difícil dimensionar a obra do bamba, gravada pela nata do samba.
No show que fez deitada no Rio de Janeiro (RJ) no último sábado, 1º de setembro, Beth Carvalho cantou uma das iguarias dessa obra, o partido alto Goiabada cascão (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1978), lançado pela cantora há 40 anos no álbum De pé no chão (1978).
Talvez o povo, para quem Wilson fez arte, nem ligue o nome do compositor aos muitos sambas que vem cantando desde os anos 1970. Mas certamente sabe cantar Coisa da antiga (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1977), Candongueiro (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1978), Gostoso veneno (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1979), Senhora liberdade(Wilson Moreira e Nei Lopes, 1979) e Judia de mim (Wilson Moreira e Zeca Pagodinho, 1986).
Os sambas e partidos altos de Wilson Moreira foram registrados, desde 1974, nas vozes de gente bamba como Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes (1942 – 1983), Dona Ivone Lara (1922 – 2018), Dorina, Elza Soares, Martinho da Vila, Roberta Sá, Roberto Ribeiro (1940 – 1996) e Zeca Pagodinho, entre (muitos) outros nomes.
Contudo, o bamba também esteve na roda como cantor desde os anos 1960, tendo integrado conjuntos como Os Cinco Só e, mais tarde, construído discografia solo que inclui álbuns como Okolofé (1991), gravado para o Japão, onde o disco foi lançado primeiramente antes de chegar ao mercado fonográfico do Brasil.
Fiel às tradições do samba e defensor implacável da senhora liberdade, o compositor deixa obra militante, mas nunca panfletária. Obra em forma de samba, canal que propagou a arte negra de Wilson Moreira, compositor que deu pérolas aos povos.
Wilson Moreira faleceu em 7 de setembro de 2018, aos 82 anos incompletos, na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), vítima de câncer.
(Fonte: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/09/07 – RIO DE JANEIRO / NOTÍCIA / Por G1 –
(Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2018/09/07 – MÚSICA / POP & ARTE / BLOG DO MAURO FERREIRA/
Por Mauro Ferreira, G1 –