PIONEIRO DA ECOLOGIA NO BRASIL
PARA DEFENDER A NATUREZA, ELE ERA CAPAZ DE MATAR OU MORRER
Ele foi o pioneiro em termos de preservação ambiental no país e um dos mais importantes cientistas do século 20 em todo o mundo. Entre outras coisas, escreveu 22 livros e mais de 400 trabalhos, criou instituições científicas e reservas florestais e ainda desenvolveu um dos maiores acervos de infomações sobre a Mata Atlântica.
Já como cientista reconhecido, em 1951, apresentou sua tese de presevação de áreas de mata no formato de Reserva Ambiental, num dos primeiros Congressos Florestais do mundo, em Roma. De imadito, a ideia foi abraçada pelo meio científico interncional e difundida por toda a Europa. Além disso, Augusto Ruschi foi pioneiro no conceito de desenvolvimento agrícola sustentável no Brasil. É lembrado como o maior especialista em beija-flores do mundo.
Fo ele o responsável pela mais vasta bibiografia escrita sobre a ave, catalogando diversas variedades. Em 1985, o governo federal, em reconhecimento ao seu trabalho preservacionista, reproduziu fotos de ambos, do pesquisador e do pássaro, nas notas de 500 cruzados.
Cientista, agrônomo, advogado, naturalista, ecologista, conquistou reconhecimento internacional. Seu nome foi dado ao mais importante prêmio da Ecologia Nacional – Medalha Augusto Ruschi da Academia Brasileira de Ciências (entregue a cada quatro anos), virou nota de 500 cruzados e Engenheiro do Mérito Nacional, e como as Cruzadas e os Cruzados, sumiu…
Infelizmente Augusto Ruschi sumiu do nosso meio, e juntamente com ele foi-se muito da ética e respeito à vida.
Sua vida foi dedicada às descobertas, defesa e estudo das espécies brasileiras, além da visão ecológica preservacionista pioneira que consagrou-o mundialmente.
Ainda na primeira metade do século XX, Augusto Ruschi realizava excursões pelo Brasil e polemizava com personalidades acadêmicas, políticas e empresariais muitas questões relevantes sobre a importância de se pensar o homem e a natureza numa relação respeitosa e sustentável. Foi o pioneiro do manejo sustentável das florestas tropicais, da agroecologia, do controle biológico de doenças tropicais e zoonoses, das denúncias sobre o perigo dos agrotóxicos, para dizer o mínimo das soluções que propunha a uma plêiade de governantes e cientistas céticos.
Lutou e trabalhou incansavelmente como muito poucos na história da humanidade, afim de que se tomassem as medidas de contenção da poluição e da destruição – que ainda perduram – mas que muito depois do alerta do pioneiro passam a ser encaradas como prioridades.
Deixou-nos uma vasta obra escrita com 450 trabalhos e 22 livros, 2 instituições científicas – Museu de Biologia profº Mello Leitão e Estação Biologia Marinha Ruschi, 1 fundação – Fundação Brasileira de Conservação da Natureza, várias reservas entre as quais o Parque Nacional do Caparaó, e um dos maiores acervos de informações existentes sobre a floresta Atlântica.
Há muito o que se resgatar da obra deste cientista reconhecido como um dos 1000 grandes homens que construíram o saber e as idéias do século XX, e sem dúvida o principal personagem da defesa ecológica nacional.
Deixou um dos maiores acervos de imagens constituído por mais de 50.000 slides. Entre os livros publicados mais conhecidos estão: Aves do Brasil vol. I e II, Beija Flores do Espírito Santo, Beija flores do Brasil vol. I e II, Fitogeografia do Estado Espírito Santo, Orquídeas do Espírito Santo, Agroecologia, entre outros. A Estação Biologia Marinha Ruschi e a Casa Augusto Ruschi são as instituições únicas detentoras dos direitos autorais da obra deste grande cientista brasileiro.
Foi sem dúvida o maior especialista mundial sobre beija flores deixando a maior obra escrita no mundo sobre o assunto. Também foi a principal autoridade mundial sobre ecologia da floresta Atlântica, sendo o único cientista no mundo a viver 50 anos no interior da floresta e estudá-la por todo este período. Também deixou significativas contribuições em estudos de morcegos, macacos, bromélias, orquídeas e impacto ambiental.
Augusto Ruschi nasceu em Santa Teresa, em 13 de dezembro de 1915, uma pequena cidade de colonização italiana nas montanhas do Espírito Santo. Foi o oitavo entre os doze filhos do casal de imigrantes Giuseppe Ruschi e Maria Roatti. Seu pai era agrônomo, trabalhava na topografia e construção; veio para o Brasil em missão do Governo Italiano para auxiliar no desenvolvimento das colônias italianas.
Sua família tem mais de 2 mil anos de tradição no trabalho com ciência e plantas, cultivando-as e estudando-as, sendo inclusive o nome da família originário da espécie Ruscus aculeatus ou azevinho do campo. Vários ancestrais como Giovani Ruschi e Pietro Ruschi foram cientistas na Itália renascentista, fazendo parte do grupo de Michelangelo e Galileo Galilei.
Augusto Ruschi, ainda menino, apresentava uma curiosidade inata pelas flores que seu pai cultivava como hoby na Chácara Anita. Começou seus estudos em Santa Teresa, no colégio Ítalo Brasileiro, onde diversas vezes foi chamado a atenção nas aulas, pois detinha-se em brincadeiras com insetos que levava em vidrinhos e caixas de fósforos.
Com dez anos passou a residir na cidade de Vitória, para estudar no colégio estadual. Sua professora de Ciências e História Natural foi a pesquisadora e historiadora capixaba Maria Estela de Novaes. Percebendo sua paixão pela vida dos insetos, bichos e plantas, foi a grande incentivadora do jovem Ruschi em sua iniciação ao mundo das Ciências. A grande sensibilidade da mestra, aliada à sua lucidez e firme temperamento, foram os ingredientes básicos deste processo de iniciação científica que auxiliaram o jovem Gutti, como era chamado pelos íntimos. Gutti vivia pelas matas observando, desenhando e colecionando plantas, flores e animais, passando por até diversos dias em retornar. Por isso, muitas vezes foi dado como morto ou louco.
Os livros aos quais Ruschi tinha acesso na época iam se tornando insuficientes e alguns até mesmo incorretos perante seus questionamentos e observações de campo. Em conseqüência, iniciou um intercâmbio com pesquisadores do Museu Nacional e do Jardim Botânico, enviando materiais coletados aos pesquisadores, em troca de bibliografias especializadas.
Em determinada ocasião, enviou suas observações sobre uma praga dos laranjais que assolava a lavoura, descrevendo o ciclo de vida do bicho e solicitando maiores informações a respeito do assunto ao Museu Nacional. O responsável por esta área no Museu Nacional era o Professor Mello Leitão, que Passou as informações de Ruschi para o Professor Felippo Silvestre, cientista italiano e especialista que estudava formas de combater a praga que dizimava os laranjais de todo o mundo. As informações de Ruschi foram fundamentais para a solução dos problemas, pois entravam justamente na complementação de uma pesquisa mundial que se desenvolvia sobre o assunto, onde milhões de dólares foram investidos. Ruschi havia tido tempo suficiente para montar e observar mais de 500 caixas de lagartas, coisa que os laboratórios não haviam feito. Desta forma, ainda jovem, aos 12 anos, começou a se tornar conhecido e admirado por alguns cientistas do país.
Despertado pela importante contribuição do jovem Ruschi, o Prof. Mello Leitão resolveu apadrinhá-lo, contribuindo para o seu aperfeiçoamento científico e para o desenvolvimento de suas pesquisas.
Aos dezessete anos, Ruschi começou a trabalhar para o Museu Nacional e Jardim Botânico como coletor de materiais botânicos e zoológicos. Suas pesquisas foram fundamentais para o conhecimento da fauna e da flora da Mata Atlântica.
Passou a residir na cidade do Rio de Janeiro e foi Professor da Universidade Federal do Brasil (atual UFRJ), em 1937, com apenas 22 anos. Neste período, Augusto Ruschi esteve sob orientação direta do Professor José Cândido Mello Leitão, um grande cientista brasileiro, principal especialista em aracnídeos a nível mundial. A metódica e fechada personalidade, aliadas ao impecável espírito científico do Professor Mello Leitão, tornava-o pessoa com poucos amigos, pois dedicava seu tempo integralmente à Ciência.
Na sua estada no Rio de Janeiro, o jovem cientista tornou-se rapidamente amigo particular do mestre, com o qual frequentemente tinha longas conversas e trocas de informações. Orientado pelo Professor, Ruschi começou a devorar uma bibliografia que rapidamente era absorvida e mostrava-se insuficiente.
Com sua sede de conhecimento, Ruschi não demorou muito em esgotar a sua permanência no Rio de Janeiro. Sua experiência de campo contestava em muito vários enunciados teóricos da literatura disponível. Por outro lado, aos colibris, seu maior interesse, muito pouco a ciência havia se dedicado.
Sentiu que o trabalho de campo que realizava antes, nas matas virgens do Espírito Santo, era muito mais relevante para a ciência do que o trabalho nos laboratórios. Aproveitou, assim, a convalescença de uma grave doença, para retornar a sua terra natal.
Gutti estendia a sua curiosidade e inteligência pelos mais diversos ramos . Naturalista, botânico, ornitólogo, topógrafo, bacharel em Direito, Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador do Museu Nacional. Prestou serviços relevantes, também, ao Ministério da Agricultura, Ministério da Educação e Governo do Estado do Espírito Santo.
Nos anos 40, assessorou a Secretaria de Agricultura do Espírito Santo, desenvolvendo uma política de preservação do meio ambiente. Como resultado deste trabalho, implantou diversas unidades de conservação.
Para servir de suporte para a política estadual de meio ambiente e para suas pesquisas, fundou na Chácara Anita uma instituição científica em 26 de junho de 1949, na mesma data em que há 74 anos, italianos haviam colonizado o solo teresense. Denominou a instituição de Museu de Biologia Professor Mello Leitão, homenagem ao mestre. Para dar início às atividades científicas do Museu juntou todos os levantamentos que havia realizado até então e iniciou a publicação de seus trabalhos. Foram editados cerca de 400 números do Boletim do MBML. Lançou duas teses principais, uma sobre as Reservas Ecológicas, assunto pouco comum na época, e outra sobre o Desenvolvimento Agrícola Auto-sustentável em Florestas Tropicais.
A tese de Ruschi sobre as Reservas, defendia estas como espaços de preservação que o mundo não poderia prescindir, por se constituírem em reservas genéticas de espécimes da natureza ameaçadas de extinção. Foi lançada num dos primeiros Congressos Florestais de âmbito internacional, em Roma, no ano de 1951, sendo muito bem recebida nos meios científicos internacionais, que passaram a difundi-la por toda a Europa. Assim, no início dessa década começaram a surgir Reservas Florestais por todo o mundo, como uma das mais importantes políticas de preservação do meio ambiente.
Ruschi também iniciou a discussão sobre os efeitos poluidores de agrotóxicos sobre os ecossistemas. Após a Segunda Guerra Mundial, veio a necessidade de intensificar a produção de alimentos, com a utilização de adubos químicos e um controle sobre as pragas. Ruschi passou a observar a morte dos pássaros e insetos após a pulverização com agrotóxicos e outros efeitos provenientes do envenenamento da natureza. Publicou vários trabalhos sobre o assunto, sendo um dos primeiros a denunciar para a sociedade os perigos do DDT.
Augusto Ruschi publicou mais de 450 trabalhos científicos e obras de grande importância, como Aves do Brasil e Beija-Flores do Espírito Santo, livros sobre orquídeas, beija-flores, morcegos, macacos, aves e trabalhos com propostas de solução para problemas ambientais de diversas regiões do país.
Sua grande paixão e seus mais importantes trabalhos científicos foram sobre os beija-flores, as orquídeas e demais plantas polinizadas por estes pássaros. Não existia nenhuma bibliografia sobre os beija-flores e Augusto Ruschi passou a dedicar a sua vida ao levantamento de dados científicos sobre esta família de aves. Foi o primeiro no mundo a reproduzi-los e em cativeiro, e domesticá-los. Ficou internacionalmente conhecido por estas pesquisas, se transformando na grande referência mundial sobre beija-flores.
Para suas pesquisas realizou 259 excursões científicas por todos os lugares do mundo, da Patagônia ao Alasca, sempre registrando em publicações repletas de fotografias e slides, todas as suas observações sobre a natureza, os animais e as plantas, seus amigos inseparáveis.
Em suas andanças pelas florestas, Ruschi testemunhava as agressões que estas sofriam. A teimosia das pessoas em continuar a destruir o meio ambiente, sabendo que iriam inviabilizar a vida no planeta se dessem contra estes loucos. Fazia qualquer coisa para impedir a destruição. Dizia que se as matas fossem destruídas morreria de tristeza.
Cortam as matas ignorando tudo o que está dentro. Ninguém quer saber que lá têm milhares de animais, centenas de milhares de espécies de insetos, de plantas, que fazem o seu equilíbrio. E o equilíbrio natural é complexo, onde às vezes a ausência de um elemento pode causar uma falha muito grande. O homem é que perturba e desequilibra, dizia.
A indignação dele aumentava à medida em que aprofundava o assunto. Enfrentava autoridades, empresas e até a própria justiça para defender as matas virgens e as reservas ecológicas.
Transformou-se em mito nacional ao enfrentar corajosamente, em 1977, o Governador do Estado do Espírito Santo. Este baixara um decreto determinando que na Reserva de Santa Lúcia fosse implantada uma fábrica de palmitos enlatados, que seriam extraídos da própria reserva. Logo em Santa Lúcia, uma Estação Biológica do Museu Nacional, com milhares de orquídeas catalogadas e 20 mil árvores numeradas com plaquetas de identificação, reconhecida como uma das regiões mais ricas do mundo em flora epífita, trabalhada por Ruschi durante mais de 40 anos sem permitir que se cortasse um galho de árvore ou fosse retirada uma planta.
Ruschi recebeu os fiscais do governo, que vieram fazer a topografia da reserva com uma espingarda na mão, bradando: Aqui não. Se passar daí, ficam definitivamente no chão. Em defesa da natureza eu sou capaz de matar ou morrer. De nada adiantaram os argumentos dos assustados fiscais. Ruschi mandou-os de volta ao Governador com o seguinte recado: Podem voltar diretamente para o Palácio e avisem ao governador que ou ele muda de idéia, ou amanhã cedo eu vou lá matar ele pessoalmente, no Palácio.
O governador avisou a Polícia Federal e Ruschi, a imprensa nacional e internacional.
A pequena cidade de Santa Teresa foi invadida por jornalistas, que divulgaram para todo o país um dramático e realista apelo de Ruschi pela preservação da Reserva. Começaram a chegar centenas de manifestações de apoio, vindas de todo o mundo, e o Governador, diante de tamanha repercussão, recuou nas intenções : a Reserva de Santa Lúcia foi salva da ameaça de destruição .
Foi neste momento que a obra de Ruschi saiu dos livros, da pesquisa de campo e dos trabalhos científico e ganhou corpo e forma a nível da opinião pública nacional , transformando-o num símbolo contra as agressões ao meio ambiente .Conseguiu ,por várias vezes, evitar que grandes áreas florestais fossem devastadas, e dizia que no tempo que lhe restasse de vida continuaria o mesmo, defendendo a floresta brasileira e brigando por ela, porque sabia que assim também estava defendendo a humanidade.
O governador avisou a Polícia Federal e Ruschi, a imprensa nacional e internacional.
A pequena cidade de Santa Teresa foi invadida por jornalistas, que divulgaram para todo o país um dramático e realista apelo de Ruschi pela preservação da Reserva. Começaram a chegar centenas de manifestações de apoio, vindas de todo o mundo, e o Governador, diante de tamanha repercussão, recuou nas intenções : a Reserva de Santa Lúcia foi salva da ameaça de destruição .
Foi neste momento que a obra de Ruschi saiu dos livros, da pesquisa de campo e dos trabalhos científico e ganhou corpo e forma a nível da opinião pública nacional , transformando-o num símbolo contra as agressões ao meio ambiente. Conseguiu ,por várias vezes, evitar que grandes áreas florestais fossem devastadas, e dizia que no tempo que lhe restasse de vida continuaria o mesmo, defendendo a floresta brasileira e brigando por ela, porque sabia que assim também estava defendendo a humanidade.
Ruschi foi uma das poucas vozes que se ergueram no período do Governo Militar para denunciar a derrubada de áreas na Amazônia, que ele considerava o maior crime que se cometia contra a vida no planeta, assim como os equívocos no projeto de ocupação desta região.
A história de Augusto Ruschi, sua trajetória e polêmicas, não se fariam contar, caso não houvessem existido seus grandes interlocutores e amigos. Entre os principais estão Assis Chateubriandt, Mr. Crawford Greenwalt, Etiene Beraut, Fernando Lee, Louis Marden, Dr. Rebouças, Otacílio Coser, Dr. Carlos Teixeira de Campos, Anibal Moutinho, John Helal, Rubem Braga, Carlos Drumond de Andrade, Cândido Firmino de Mello Leitão, Aluísio de Mello Leitão, Konrad Lorenz, Jacques Vieillard. A vida de cada um desses homens foram povoadas de grandes feitos, histórias, descobertas, ou atitudes de grande valor ético e pessoal.
Juntos estes homens transformaram uma boa parte da história e cultura da civilização humana do século XX. Criaram novas ciências ou foram pioneiros de suas idéias como a agroecologia, bioacústica e etologia, despertaram o ambientalismo no mundo, lançaram a semente da proteção mundial da biodiversidade mundial e especialmente a brasileira, modificaram multinacionais, leis, aperfeiçoaram a vida do homem, e acima de tudo, encantaram multidões com suas histórias, fotos, ou sábios conselhos para o presente e o futuro. Augusto Ruschi foi o amigo de todos eles, que como um mago contador de histórias encantou-os deliciando-os com uma mensagem de grande poder e sabedoria que era a proteção à natureza. Esta idéia os uniu em torno de uma ONG presidida por Augusto Ruschi e Assis Chateubriandt, a Sociedade dos Amigos dos Beija Flores, com sede na própria casa do Assis.
Reuniam-se mensalmente na Casa Amarela, em São Paulo e planejaram vários atos de interferência na vida política nacional com finalidades preservacionistas e às vezes, revolucionárias.
Também foi um defensor da cultura e dos direitos das minorias indígenas, que ele conheceu bem de perto nas suas andanças pelas florestas, pelo afluentes do Amazonas, pelos Andes e pelos vales do Peru e da Colômbia. Ruschi conviveu com centenas de tribos indígenas. Ele observou que os índios que habitavam, há milhares de anos, a região, são depositários de um conhecimento sobre a natureza que não tem registro científico. Eles detêm a memória cultural da utilização da flora e da fauna na cura de enfermidades e em aplicações cotidianas.
Foi abraçando a cultura indígena que Ruschi sensibilizou novamente o país, no ano de 1986. Gravemente enfermo devido a seqüelas deixadas por doenças como esquistossomose e malária, que contraiu durante suas pesquisas pelas florestas, e abatido pelo veneno de sapos dendrobatas que tinha sido absorvido pelo seu organismo anos atrás durante uma coleta de material no Amapá, Ruschi resolveu submeter-se a um ritual indígena na esperança de que esta medicina, baseada em ervas e raízes, o ajudasse a enfrentar a doença. Já havia se submetido a todos os tratamentos médicos convencionais.
A pajelança aconteceu na Parque da Cidade, uma reserva florestal da Zona Sul do Rio de Janeiro e começou na manhã de 23 de janeiro de 1986. O Cacique Raoni e o Pajé Sapaim fizeram o ritual munidos de um arsenal de plantas trazidas especialmente da Amazônia. Num recinto fechado, tragavam cigarros de folhas que produziam uma fumaça espessa, que expiravam sobre o cientista, intercalando com cantos indígenas. O cacique e o pajé massageavam o corpo de Ruschi com um ungüento preparado a partir de frutas e, após alguns minutos, exibiram nas mãos uma gosma, primeiro branca, depois esverdeada segundo depoimento das poucas pessoas que assistiram ao tenso ritual.
A mídia nacional e internacional explorou essa situação. O país ficou impressionado com o diálogo de Ruschi com o cacique Raoni, da Tribo Txuacarramãe, e com o Pajé Sapaim, dos Camiurá, sobre plantas medicinais e métodos de tratamento, assim como o ritual que ficou conhecido nacionalmente como pajelança.
Em todos os seus anos de luta ecológica, Ruschi ainda não experimentara tamanha notoriedade. Ficou no centro das atenções nacionais por mais de uma semana, uma audiência bem maior do que a obtida quando enfrentou o Governador do Espírito Santo ou quando conseguiu o tombamento das matas de Santa Lúcia, neste mesmo Estado.
O episódio da pajelança serviu para que a imagem de Ruschi fosse amplamente divulgada junto a todas as camadas da população brasileira, assim como a grandiosidade e o pioneirismo de sua obra.
Ruschi morreu pouco depois, de cirrose hepática, com o fígado irremediavelmente comprometido devido às doenças que adquirira nas suas pesquisas pelas florestas, e vírus de hepatite B e C. Não foi encontrado no cientista nenhum traço do veneno de sapos ou de outros animais. Atendendo a um desejo seu foi enterrado nas matas da Reserva Biólogica de Santa Lúcia . Coincidentemente, foi enterrado no dia 05 de junho de 1986,no Dia Mundial do Meio Ambiente. Falava da esperança que tinha de que os beija-flores o conduzissem ao reino de Deus.
Homem da floresta, conservacionista apaixonado, cientista prestigiado internacionalmente, Ruschi preocupava-se com a continuidade de sua obra. Pensando nisso, doou o Museu de Biologia Mello Leitão e a Reserva de Santa Lúcia, à Fundação Nacional Pró-Memória, e os direitos autorais de sua obra literária, manuscritos e arquivo de fotos ao único filho que seguiu a carreira científica.
Augusto Ruschi morreu convencido de que a única esperança de sobrevivência para a humanidade era o homem mudar radicalmente a sua relação com o meio ambiente. Segundo ele, todo o esforço de nada adianta se não houver conscientização da importância da conservação da natureza entre as crianças de hoje : Não se ensina Ecologia nas escolas brasileiras embora haja uma lei que a tornou matéria obrigatória. Enquanto não se formar a criançada ma direção certa, o futuro da natureza do Brasil continuará ameaçado.
(Fonte: www.augustoruschi.org – www.revistaterra.com.br – JUNHO 2006 – ANO 14 – N° 170 – ECOLOGIA/ Por Camilla Saloto – Pág; 10/11)