Jean Roche (1913-2006), professor francês que viveu oito anos em Porto Alegre, entre 1945 e 1953. Foi suficiente para que o professor desse uma contribuição definitiva para a historiografia e para a crítica literária gaúcha. Mais que definitiva, sua contribuição foi pioneira, na medida em que explorou um novo campo tanto numa área quanto na outra.
Como historiador, realizou um raio-x da colonização alemã no Estado como nunca havia sido feita. Como estudioso da literatura brasileira, escreveu um dos primeiros ensaios apresentando uma visão panorâmica da obra de Erico Veríssimo um dos melhores amigos de Monsieur Roche em seus anos de Porto Alegre.
A facilidade com que se integrou à intelectualidade local fez com que Roche rapidamente se tornasse um dos nomes mais conhecidos nas rodas de discussão política e literária da Capital. Participou, entre outros momentos, da comitiva que recepcionou o escritor Albert Camus em Porto Alegre, em 1949. Ao partir da França rumo ao Brasil, o professor tinha como objetivo mais do que simplesmente acompanhar a mulher Nancy, designada pelo governo francês para fundar a Aliança Francesa de Porto Alegre. Roche já planejava executar aqui seu trabalho de doutorado. Foi também deste grupo de intelectuais que freqüentava que Roche ouviu a sugestão de que se dedicasse a pesquisar a colonização alemã no Rio Grande do Sul projeto que daria origem a sua obra mais conhecida, A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul. Dividindo-se entre as aulas que ministrava na UFRGS e na PUCRS, Roche desbarvava o Interior para esmiuçar a cultura alemã no Estado, não sem alguma dificuldade.
O resultado foi um trabalho que só seria concluído em 1962, já na França, sendo aprovado com louvor pela Universidade de Paris V, Sorbonne. A edição em português, em versão reduzida, foi lançada apenas em 1969, pela Editora Globo. A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul se insere no contexto da produção de análises sobre o Brasil realizadas por estudiosos franceses nos anos 50, como Claude Lévi-Strauss, que estudou a Amazônia.
Dentro da historiografia rio-grandense, a obra é classificada como a primeira a apresentar um retrato amplo da presença germânica no Estado. Até sua publicação, a obra mais relevante havia sido O Trabalho Alemão no Rio Grande do Sul, de Aurélio Porto, publicada em 1934, sem apresentar maior profundidade.
Elucidando aspectos sociais, políticos e geográficos, A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul é considerada uma obra definitiva sobre o assunto. Roche contribuiu para canalizar o assunto para uma visão rigorosamente científica.
A produção como crítico literário foi exercida por Roche até seus últimos dias, vividos na cidade de Cavaliere sur Mer, às margens do Mar Mediterrâneo. Monsieur Roche retornou diversas vezes ao Brasil, principalmente para receber títulos de Professor Honoris Causa em universidades gaúchas e baianas.
Primeira obra a apresentar um retrato amplo da presença germânica no estado do RS
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