Walther Moreira Salles (Pouso Alegre, 28 de maio de 1912 – Petrópolis, 27 de fevereiro de 2001), empresário, banqueiro e ex-embaixador, fundador do Unibanco. Filho de um comerciante do sul de Minas Gerais, ele conseguiu transformar a modesta Casa Bancária Moreira Salles – fundada por seu pai em Poços de Caldas, na década de 20, para financiar produtores de café – no quarto maior conglomerado financeiro privado do país, resultado da aplicação de seu extraordinário talento para os negócios no setor durante décadas. Jovem originário da província, Moreira Salles conseguiu abrir um caminho de sucesso entre as elites paulista e carioca, que costumavam frequentar Poços de Cadas, balneário para onde, nos anos 30, afluíam também os gaúchos de Getúlio Vargas, recém-chegados ao governo central. Nasceram aí algumas das boas relações que o levaram também a uma intensa atividade no setor público, a partir do fim dos na os 40.
Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo quando já exercia o cargo de Gerente da Casa Bancária. Moreira Salles S/A. Ocupou os cargos de Diretor da Carteira Geral do Banco do Brasil e Diretor Executivo da Superintendência da Moeda e do Crédito. Na qualidade de Conselheiro Econômico compareceu à IV Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores e à Reunião Anual dos Diretores do Fundo Monetário Internacional e do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento. Conselheiro do Ministro da Fazenda; Embaixador do Brasil junto ao Governo dos Estados Unidos por duas vezes. Foi o Primeiro Ministro da Fazenda do Governo Parlamentarista. Nesse período foi introduzida a obrigatoriedade da declaração de bens com a declaração anual de rendimentos instituído um Empréstimo Público de Emergência de caráter compulsório com base no Imposto de Renda devido pelas pessoas Física e Jurídica. Em junho de 1962 com os demais membros do Conselho de Ministros pediu demissão. Indicado novamente permaneceu no cargo até a renúncia do Primeiro Ministro do Segundo Gabinete Parlamentarísta a 14 de setembro de 1962.
Em 1952, Vargas nomeou-o embaixador do Brasil em Washington, com a missão de negociar a dívida brasileira nos Estados Unidos, em meio a uma grave crise cambial. Voltou ao posto no governo de Juscelino Kubitschek, em 1959. Exerceu o cargo de ministro da Fazenda, na curta experiência parlamentarista do governo João Goulart. O carisma nas relações pessoais foi outra de suas marcas, tendo um amplo círculo de amizades internacionais. Fundou o Instituto Moreira Salles em 1991. Três de seus filhos são ligados a área cultural: o cineasta Walther Salles Junior (diretor de Central do Brasil), o documentarista João Moreira Salles e Fernando, sócio da editora Companhia das Letras. O outro herdeiro é Pedro Moreira Salles, que comanda o Unibanco. Moreira Salles morreu no dia 27 de fevereiro de 2001, aos 88 anos, em Petrópolis.
(Fonte: Veja, 7 de março de 2001 ANO 34 N° 9 – DATAS – Edição 1690 – Pág; 98)
Walter Moreira Sales nasceu em Pouso Alegre (MG) no dia 28 de maio de 1912, filho de João Moreira Sales e de Lucrécia Vilhena de Alcântara Moreira Sales. Em 1932 ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo (SP).
Ao atingir a maioridade tornou-se sócio da Moreira Sales & Cia., assumindo o cargo de gerente da seção bancária, o que o obrigava a viajar três vezes por semana para Poços de Caldas. A casa bancária, fundada em 1924, estava voltada para operações de financiamento da produção local de café por meio de convênios com o Banco Francês e Italiano, o Banco Alemão Transatlântico e outras instituições estrangeiras sediadas em São Paulo.
Concluiu o curso de direito em 1936 e quatro anos depois assumiu o cargo de diretor do recém-fundado Banco Moreira Sales, resultado da fusão da instituição financeira de seu pai com a Casa Bancária de Botelhos e o Banco Machadense.
Em 1948 Moreira Sales foi eleito para dirigir a Carteira de Crédito Geral do Banco do Brasil. Com a posse de Getúlio Vargas em 31 de janeiro de 1951, Horácio Lafer foi nomeado para ocupar o Ministério da Fazenda e convidou Moreira Sales, com quem possuía negócios comuns, para ser o diretor executivo da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc).
Sintonizado com o esforço desenvolvido pelo ministro da Fazenda em obter financiamento internacional para projetos elaborados pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, Moreira Sales integrou a delegação brasileira que participou em Washington da IV Conferência de Consulta dos Chanceleres Americanos, convocada em 1951 por iniciativa dos Estados Unidos.
Num contexto em que aumentavam as pressões dos Estados Unidos por um alinhamento mais efetivo do Brasil ao seu programa militar, Válter Moreira Sales deixou a direção executiva da Sumoc e assumiu, em junho de 1952, o posto de embaixador em Washington. Deixou a embaixada em agosto de 1953, retornando em seguida à condução dos seus negócios bancários.
Em junho de 1959 o presidente Juscelino Kubitschek rompeu as negociações entre o governo brasileiro e o FMI, considerando inaceitáveis as exigências desta instituição para conceder o empréstimo solicitado. No mês seguinte nomeou Moreira Sales para substituir Ernâni Amaral Peixoto na embaixada em Washington, pretendendo assim manter um bom relacionamento com os Estados Unidos que, desde a vitória da Revolução Cubana, mostravam-se mais sensíveis à reivindicação brasileira de adoção de um grande plano de cooperação econômica com a América Latina. Moreira Sales permaneceu no cargo até fevereiro de 1960.
No governo de Jânio Quadros, Moreira Sales voltou a ser convocado para atuar no âmbito das relações econômicas entre o Brasil e os Estados Unidos. A renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961 precipitou uma grave crise política, solucionada uma semana depois com a adoção do regime parlamentarista, que viabilizou a posse do vice-presidente João Goulart. Tancredo Neves, nomeado primeiro-ministro, indicou Válter Moreira Sales para a pasta da Fazenda com o objetivo de tranqüilizar os meios empresariais brasileiros e estrangeiros.
A partir de 1964 Sales passou a dedicar-se exclusivamente à expansão de seu banco. Com a morte de seu pai, em 1968, assumiu o comando da instituição que, em 1975, adotou o nome de Unibanco.
Em 1980 o Unibanco representava um vasto conglomerado que atuava como banco comercial, banco de investimentos, financeira, empresa de crédito imobiliário, seguradora, corretora de valores mobiliários, empresa de leasing, distribuidora de títulos, administração de bens patrimoniais, editora, publicidade, gráfica, planejamento, comércio, transportes e serviços.
Em 1991 deixou a presidência do conselho de administração do Unibanco, sendo sucedido por Roberto Konder Bornhausen. A partir de então, tornou-se presidente de honra do conselho de administração do Unibanco.
Na década de 1990 centrou suas atenções no Instituto Moreira Sales, entidade civil sem fins lucrativos criada em 1990 e mantida pelo Unibanco. O instituto tornou-se responsável por quatro centros culturais instalados em Poços de Caldas (MG) em 1992, São Paulo em 1996, Belo Horizonte em 1997 e Rio de Janeiro em 1999, bem como pela coordenação das atividades do Espaço Unibanco de Cinema, rede de cinemas de arte localizados no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza e Porto Alegre. Moreira Sales tornou-se, em 1991, presidente da diretoria e do conselho consultivo do Instituto Moreira Sales. Tornou-se também presidente da Casa de Cultura de Poços de Caldas.
Casou-se em primeiras núpcias com Hélène Blanche Tourtois Moreira Sales, com quem teve um filho. Em segundas núpcias, com Elisa Margarida Gonçalves Moreira Sales, com quem teve três filhos. E em terceiras núpcias com Lúcia Regina Moreira Sales.
[Fonte: Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001]