Pioneiro da aeronáutica
Howard Hughes (24 de dezembro de 1905 – 5 de abril de 1976), lendário diretor, produtor, engenheiro, pioneiro da aeronáutica e gênio transtornado.
O enigma Hughes
Num dia de 1968, perto de Tonopah, Estado de Nevada, nos Estados Unidos, Melvin Dummar, gerente de um posto de gasolina, deu carona até Las Vegas para um homem magro, pálido, de uns 60 anos, que encontrou à beira da estrada. O homem estava ferido no rosto, mas recusou-se a dar qualquer explicação a respeito. Chegando à cidade, pediu a Dummar que o deixasse atrás do hotel cassino Sands, e solicitou algum dinheiro. Recebeu uma moeda de 25 cents (2,50 cruzeiros) e, antes de se despedir, disse que seu nome era Howard R. Hughes.
Dummar ficou achando que se tratava de um maluco até o inicio de maio de 1976 – quando foi internado num hospital com colapso nervoso, após ter sido contemplado num suposto testamento do excêntrico, imprevisível bilionário Howard Hughes, morto no dia 5 de abril de 1976, com cerca de 121 milhões de dólares. Seu sofrimento, porém, pode ter sido em vão. Pois o testamento, misteriosamente entregue por vias desconhecidas à igreja mórmon de Salt Lake City, no Estado de Utah, no dia 27 de abril, talvez nunca venha a ser executado, tais são as dúvidas sobre sua autenticidade e conteúdo.
O documento, redigido a mão em três folhas de um papel amarelo igual ao que Hughes usava em seus memorandos, contém onze erros de grafia em suas 260 palavras. Ele atribui um quarto da fortuna ao Instituto Médico Hughes, de Miami, um sexto a suas ex-esposas, Ella Rice e Jean Peters, outro sexto para ser dividido entre Dummar, a igreja mórmon e seu primo William Lummis (chamado de “Lommis” no documento), e outras parcelas a quatro diferentes universidades, os Escoteiros Americanos, instituições de caridade e seus assessores pessoais.
Corte nos “t” – Mas, para um documento que distribui nada menos que 2,3 bilhões de dólares de um vasto império, o testamento, redigido a 19 de março de 1968, é absurdamente vulnerável. De início, há a surpreendente designação de Noah Dietrich, 87 anos, como testamenteiro. Embora tenha trabalhado com Hughes durante trinta anos, Dietrich brigou com o patrão em 1957, e os dois, que nunca mais se viram, foram tidos desde então como arquiinimigos. Dietrich, entretanto, disse não ter ficado surpreso, devido ao respeito de Hughes por sua “integridade e habilidade”. E acrescentou: “Em outras palavras, eu construí esse maldito império”.
Seja como for, ele já começou a se movimentar para provar a validade do documento e ter assegurados seus direitos de executor – e de herdeiro. A primeira audiência sobre o assunto está prevista para o próximo dia 21 de maio de 1976, no tribunal do condado de Clark, em Las Vegas, onde os mórmons depositaram o testamento, conforme a suposta vontade de Hughes. A escolha de Dietrich, entretanto, está longe de ser o único problema. Os assessores de Hughes não entenderam, por exemplo, sua doação aos escoteiros – pois o milionário, em vida, recusou-se várias vezes a dar um único centavo à organização.
Há, também, a disposição para que o Spruce Goose (“Ganso Enfeitado”), o gigantesco hidroavião de madeira de oito motores, construído por Hughes durante a II Guerra Mundial, seja doado à cidade de Long Beach. Acontece que Hughes odiava esse apelido, e nunca o usou para referir-se ao aparelho, que teve problemas técnicos e acabou virando peça de museu. Diversos jornalistas também compararam a letra de Hughes em documentos autênticos com a usada no testamento, e constataram diferenças – como o corte nos “t” e a barriga dos “y”. Finalmente, Hughes ainda empregou, no manuscrito, a numeração ordinal por extenso, contrariando seu hábito de usar algarismos.
Anos de batalha – Mais que tudo, os colaboradores de Hughes em geral acham inacreditável que ele, um homem atormentado pelo perfeccionismo, maníaco por detalhes, que chegava a manter secreta a própria assinatura para evitar falsificações, fizesse um testamento a mão, vago e cheio de imperfeições. Em Nevada, porém, o promotor federal William Turner, que investiga o caso, já encontrou outros documentos de Hughes com erros de grafia. E uma grafóloga de Salt Lake City, que trabalhou com documentos de Hughes e num caso anterior, considera “bem provável” que ele seja mesmo o autor.
Tipicamente, assim, ninguém pode prever o que vai acontecer com a fortuna de Hughes – que inclui hotéis-cassinos em Las Vegas, minas de ouro, indústrias eletrônicas, uma linha aérea doméstica e uma indústria aeronáutica. O advogado de Dietrich, o provável testamenteiro, não tem certeza se quer sobre que Estado americano deve exercer jurisdição sobre o caso. E os principais executivos da Summa Corporation – a empresa holding do império Hughes, temendo uma pulverização da fortuna, já se declararam prontos para anos de batalhas judiciais.
Um de seus porta-vozes, Arelo Sederberg, informou que a procura de um outro testamento, que já se estende por quarenta cidades do país, continuará. Os poucos parentes de Hughes-inclusive três primos provisoriamente encarregados de gerir seus bens – parecem também dispostos a não aceitar o manuscrito sem luta. As poucas pistas seguidas, porém – como a chave de um cofre particular para guarda de documentos achada num escritório de Hughes -, deram em nada. Ao contrário do que se esperava, o mistério que envolveu Howard Hughes durante sua vida não terminou, absolutamente, com sua morte.
(Fonte: Revista Veja, 12 de maio de 1976 – Memória – Edição 401 – Pág; 41 e 43)
(Fonte: http://www.pipocamoderna.mtv.uol.com.br – Jane Russell, mito do cinema americano – 1° de março de 2011)