O homem da rede
Walter Clark (São Paulo, 14 de julho de 1936 – Lagoa, no Rio de Janeiro, 24 de março de 1997), diretor de televisão, que mudou a TV brasileira. Quando Walter Clark assumiu o cargo de diretor-geral da TV Globo, em 1965, a emissora tinha uma média de 9% da audiência, a quilômetros de distância das principais concorrentes, Excelsior e Tupi. Em 1977, quando foi demitido por Roberto Marinho, a Globo chegava a 80 pontos de audiência, a Excelsior fora fechada, a Tupi rumava para a falência – e a televisão brasileira não era mais a mesma. Clark entrou para a história a partir de três ideias simples e geniais: as afiliadas são subordinadas à sede, a televisão só dá certo se for uma rede de alcance nacional e a programação deve ser coerente.
Na TV Rio, onde trabalhou no início dos anos 60, o faturamento publicitário ficava com as retransmissoras e afiliadas, que enviavam uma ninharia para a sede. Sem dinheiro, a matriz produzia pouco, ou não produzia. No modelo criado por Walter Clark, as afiliadas enviavam o faturamento comercial para a sede, que tirava a verba necessária à produção de programas e à expansão da rede, e devolvia o justo quinhão às retransmissoras. Esse sistema comercial desenvolvido por ele visava montar uma rede de televisão. Sua ideia era a de um canal que chegasse a todo o território brasileiro, com anúncios e programas de caráter nacional. Por fim, tinha talento para fazer a programação, bolar a sequência de novelas, shows, noticiários.
“Foi de Walter Clark a ideia de criar o sanduíche: ou seja, colocar o Jornal Nacional entre duas novelas”, conta José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Boni, vice-presidente das Organizações Globo. Se era um homem de vendas e um grande programador, Clark não entendia nada de produção de televisão. Se uma sinopse de novela lhe caía nas mãos, não sabia se era boa, quem deveria dirigir e qual seria o elenco. Ele não conseguia garantir a qualidade do que ia para o ar. Quem sabia fazer isso era Boni, o criador do padrão Globo de qualidade, chamado por Walter Clark para trabalhar na rede Globo.
Em meados dos anos 70, deslumbrado com seu sucesso e poder, Clark praticamente deixou de trabalhar. Abandonou o projetode expansão da rede, vivia em festas, nas quais bebia e cheirava cocaína até cair, namorava várias mulheres, enquanto Boni e seus amigos colocavam a emissora no ar. Em 1977, Roberto Marinho descobriu que, na xícara do chá de todas as tardes na emissora, Clark na verdade colocava uísque e logo o demitiu. Depois da Globo, de onde saiu com uma indenização milionária, Clark nunca mais se acertou. Teve passagens inexpressivas pela TV Bandeirantes, pela extinta TV Rio e, por último, pela TV Educativa carioca, de onde se licenciou em 1996 por motivo de saúde. Teve cinco filhos em quatro casamentos. Uma de suas filhas, Flávia, morreu tragicamente num vazamento de gás. Clark morreu no dia 24 de março de 1997, aos 60 anos, na Lagoa, no Rio de Janeiro, de insuficiência cardiorrespiratória causada pela hipertensão.
(Fonte: Veja, 2 de abril de 1997 ANO 30 N° 13 – Edição n° 1489 Memória/ Por Neuza Sanches – Pág; 105)
Walter Clark
Diretor e produtor de TV
O empresário e diretor de televisão Walter Clark, 60, morreu na madrugada desta terça em seu apartamento na Lagoa (zona sul do Rio). Hipertenso havia quatro anos, Clark sofreu uma crise que provocou insuficiência cardiorrespiratória e o levou à morte, segundo seu médico particular, Tanus Someson Tauk.
Principal executivo da Rede Globo nos anos 60 e 70, Walter Clark criou o “Jornal Nacional”. Foi dele a ideia de introduzir um noticiário entre as novelas das 19h e das 20h e de levar para a televisão uma novela brasileira, para concorrer com os dramalhões mexicanos.
O corpo de Walter Clark foi encontrado pelos empregados, aproximadamente às 9h. Os empregados estranharam a demora de Clark em pedir os jornais, bateram à porta do quarto e, como ninguém respondeu, forçaram a entrada e encontraram o corpo do empresário na cama.
Os empregados chamaram os bombeiros, e estes a Polícia Militar, que permaneceu no prédio até o meio-dia esperando peritos da Polícia Civil. A presença dos peritos foi dispensada com a chegada do médico de Clark. O clínico Someson Tauk, que assinou o atestado de óbito, disse que Walter Clark morreu provavelmente às 3h, enquanto dormia. Segundo o médico, o estado de saúde de Clark era bem delicado, por causa da hipertensão.
Desde o ano passado Clark estava afastado da direção da TV Educativa do Rio de Janeiro por problemas de saúde. Fazia apenas participações esporádicas no programa de debates “Sem Censura”.
O advogado de Clark, Luís Eugênio Müller, disse que o amigo estava dedicado ao projeto de filmar a vida do compositor Antônio Carlos Jobim, morto em 1994. Segundo o advogado, Clark já havia fechado um contrato verbal com a família de Jobim, e os termos finais seriam decididos nesta semana.
“Ele estava muito animado, ansioso até. Foi o homem que mudou o perfil da televisão brasileira. Seu grande interesse era acompanhar sempre os novos rumos da televisão, os programas interativos, as TVs por assinatura. Se pudesse, ele avançaria no tempo para conhecer a TV do futuro”, disse o advogado.
No final da tarde, o corpo de Clark foi transferido para o cemitério São João Batista, em Botafogo (zona sul do Rio), onde será velado. O enterro está marcado para amanhã, às 11h.
Clark escreveu uma autobiografia -“O Campeão de Audiência”. Ele deixou quatro filhos: Luciana, modelo em Amsterdã, filha do casamento com Ilka Soares; Eduarda, filha de Clark e Maria do Rosário Nascimento e Silva; Fernando, estudante em Los Angeles, filho do casamento com Fernanda Bruni; e Amanda, 10, que vive em São Paulo com a mãe, Rossana Clark.
Luciana e Fernando estavam sendo aguardados para o enterro. A atriz Ilka Soares foi hoje ao apartamento de Clark, mas não quis fazer declarações.
A quinta filha de Walter Clark, Flávia, morreu há quase 20 anos, num acidente de carro, no mesmo dia do nascimento de Fernando. Em homenagem à filha, Clark deu à sua produtora o nome de “Flávia Filmes Ltda.”.
REPERCUSSÃO
Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo: “Walter Clark teve grande participação na primeira década de crescimento da TV Globo. Sua criatividade e sua sensibilidade contribuíram bastante para o êxito então alcançado, pois ocupou posição de decisiva relevância na empresa. É uma lástima que desapareça tão prematuramente e todos nós, antigos companheiros, muito deploramos a sua morte”.
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, vice-presidente de Operações da TV Globo: “Walter Clark foi um extraordinário profissional. Foi meu grande parceiro no sonho de fazer uma televisão brasileira de qualidade. Tentamos juntos na TV Rio. Eu tentei com o apoio de Cassiano Gabus Mendes no Telecentro da TV Tupi. Depois o Walter me convidou para uma nova tentativa. Foi o Walter que me trouxe para a Globo. Com o Walter, o Joe Wallach e um grupo de excelentes profissionais conseguimos realizar boa parte do nosso objetivo. Sempre tive admiração pela capacidade do Walter em perceber o futuro da televisão como uma realidade muito próxima e correr para atingi-lo rapidamente.”
Dias Gomes, dramaturgo e membro da Academia Brasileira de Letras: “A TV Globo foi sem dúvida o mais bem sucedido empreendimento de Walter Clark. Lá, seu maior mérito foi saber escolher a equipe que formou a quarta maior rede de televisão do mundo. Eu fui contratado por ele, em 1969, assim como Janete Clair, Walter Avancini, Daniel Filho, Boni e muitos outros que ajudaram a criar a TV Globo da maneira que ela é hoje. Ele foi um presidente que soube escolher seus ministros de tal maneira que, quando saiu, a TV continuou seu progresso, sem quedas, pelo menos até o final dos anos 80, quando ele começou a acusar a emissora de estagnação.”
(Fonte: www1.folha.uol.com.br – Agência Folha – Do Rio de Janeiro – 24/03/97)
Diretor-geral da Globo desde 1962 e criador de atrações como Fantástico, Walter Clark pediu demissão em 28 de maio de 1977. Ele disse a Roberto Marinho – que acumulará as funções de presidente e diretor-geral – que pretende se dedicar à família.
(Fonte: Zero Hora – ANO 46 – Nº 15.250 – 30 de maio de 1977/2007 – HÁ 30 ANOS EM ZH – Pág; 55)