Rafael Sánchez Ferlosio, foi um dos principais nomes da literatura espanhola do século XX, conhecido pela obra “El Jarama”

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Escritor espanhol Rafael Sánchez Ferlosio

 

 

Rafael Sánchez Ferlosio, em 2002. (Foto: RAÚL CANCIO)

 

Mestre singular das letras espanholas

 

 

O autor de ‘El Jarama’ e ‘Alfanhuí’ e de uma ampla e original obra ensaística ganhou o Prêmio Cervantes em 2004

 

 

Rafael Sánchez Ferlosio (Roma, 4 de dezembro de 1927 – Madri, 1° de abril de 2019), escritor espanhol, foi um dos principais nomes da literatura espanhola do século XX, conhecido pela obra “El Jarama

 

Vencedor de muitos prêmios ao longo da carreira, incluindo o Prêmio Cervantes (2004) e o Prêmio Nacional das Letras Espanholas (2009), Sánchez Ferlosio era um dos máximos expoentes da literatura do pós-guerra na Espanha, com uma obra marcada pelo realismo social.

 

Em 1955 publicou seu romance mais conhecido, “El Jarama”, considerado uma obra-prima da literatura espanhola do século XX, mas que ele renegou anos mais tarde.

“De toda minha obra, fico apenas com Alfanhul”, afirmou em uma entrevista ao jornal El País em 2017.

 

Sánchez Ferlosio era filho de Rafael Sánchez Mazas, um dos fundadores do partido fascista Falange Espanhola e ministro do ditador Francisco Franco durante um ano após a Guerra Civil espanhola (1936-1939), cujo fim completou 80 anos em 1° de abril.

 

Seu pai esteve a ponto de morrer no conflito, mas conseguiu escapar do pelotão de fuzilamento, uma história que inspirou o escritor Javier Cercas a escrever o famoso livro “Soldados de Salamina” (2001).

 

 

Filho do escritor e jornalista Rafael Sánchez Mazas, nasceu em Roma em 4 de dezembro de 1927, quando seu pai morava lá como correspondente do jornal Abc. Estudou na escola de jesuítas San José, em Villafranca de los Barros (Badajoz). Relembrando seus anos como interno, comentou certa vez: “Os jesuítas nos diziam que uma criança pura pode se condenar se cometer um ato impuro. Eles diziam isso para que não tocássemos o pipi”.

 

 

Queria dedicar-se à arquitetura, mas logo abandonou a carreira para estudar Filologia Semítica na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Complutense de Madri. Esteve ligado à chamada geração dos (anos) cinquenta, e teve uma relação muito estreita com outros escritores, como Ignacio Aldecoa (1925-1969), Jesús Fernández Santos (1926-1988) e Carmen Martín Gaite (1925-2000), com quem se casou e teve uma filha, que morreria muito jovem. Após sua separação, viveu com Demetria Chamorro, que o acompanhou até o último minuto.

 

 

Em 1951, publicou sua primeira obra literária, Industrias y Andanzas de Alfanhuí. “Vou ficar com o Alfanhuí“, disse em uma entrevista a este jornal em 2017. “Na época eu morava em casa e o lia para meu pai e minha mãe conforme ia escrevendo. Não me lembro de quantos anos eu tinha. Eles me davam apoio incondicional sobre o que escrevia. Minha mãe pagou pela edição. Custou 13.000 pesetas, 1.500 exemplares. Era um negócio particular. Alfanhuí teve uma crítica decisiva. Estava no ápice, no auge, e Camilo José Cela fez uma crítica muito boa. Ele gostou. E isso lhe deu um empurrão formidável.”

 

 

Foram suas leituras de gramática, sobretudo da obra de Karl Bühler, que no final dos anos 50 viriam a mudar tudo para ele. Seu interesse pela linguagem o arrastou para o ensaio, um gênero que não mais abandonaria e no qual alcançou, talvez, suas maiores conquistas. Logo se tornou um dos observadores mais lúcidos do que acontecia na história e na política da Espanha e em grande parte do mundo. Seus artigos, na maioria publicados no EL PAÍS, são provavelmente a melhor radiografia das vicissitudes deste país nas últimas décadas. Era um leitor obcecado de jornais. Sua carta de apresentação como ensaísta foi “Las Semanas del Jardín” (1974) e, não faz muito tempo, a editora Debate reuniu em quatro volumes indispensáveis todo o seu trabalho neste gênero: Altos Estudios Eclesiásticos; Gastos, Disgustos y Tiempo Perdido; Babel contra Babel e Qwertyuiop. Em Vendrán Más Años Malos y nos Harán Más Ciegos, publicado em 1993, reuniu pela primeira vez seus fragmentos – brilhantes iluminações, frágeis peças carregadas de beleza e lucidez – que depois, em Campo de Retamas,selecionaria de forma definitiva.

 

 

Ferlosio foi agraciado com o Prêmio Cervantes em 2004 em reconhecimento a “seu espírito livre e seu trabalho como narrador e ensaísta”. Em 2009 recebeu o Prêmio Nacional das Letras Espanholas e em 2015 a Medalha de Ouro por Mérito nas Belas Artes. Em Gog & Gun, outro de seus ensaios, escreveu: “Quem patina vai e vem como quer, na velocidade que quer e todo o tempo que quer sem ir a parte alguma, sobretudo, desfrutando corporalmente cada instante durante o exercício”. Se tivéssemos que resumir como foi na realidade este plumífero, talvez essa imagem do homem que patina seja a que melhor se ajuste a Ferlosio. Foi de um lugar para outro, e desfrutou permanentemente de seu ofício, a escrita.

 

 

Pouco disposto a falar de si mesmo e de sua obra, intitulou La Forja de un Plumífero (a forja da pena do escritor, em tradução livre) aquele que talvez seja o seu único texto autobiográfico. Aí está resumida toda a sua história. “Plumífero: pessoa que tem por ofício escrever.” Não fez outra coisa, e o resultado dificilmente encontra parâmetro na literatura escrita em espanhol no século XX. Sempre carregava pequenos cadernos onde anotava o que lhe acontecia. A partir daí, daquelas notas dispersas sobre suas leituras e sobre suas observações e ocorrências e ideias, foram surgindo seus romances, seus ensaios, seus fragmentos.

 

Trabalhava a escrita com a maior dedicação e carinho, como quem cultiva uma criatura viva, mas nunca quis se dar a menor importância. De tal modo que, passado um tempo, falava sobre algumas de suas maiores realizações literárias como se tivessem sido um grande erro. Aconteceu com El Jarama, o romance com o qual ganhou o Prêmio Nadal em 1955, e que se tornou um clássico indiscutível. “Em El Jarama, a linguagem é muito cuidadosa”, comentou em uma entrevista em 1986, “muito ouvida a fala popular, mas não tem pé nem cabeça. Não gosto nem um pouco. Seria um livro do qual, se outro o tivesse escrito, eu diria: ‘Mas que chatice!’.

 

Rafael Sánchez Ferlosio faleceu em Madri, em 1° de abril de 2019, aos 91 anos.

Sánchez Ferlosio foi um dos grandes autores das letras espanholas”, publicou no Twitter o grupo Penguin Random House.

(Fonte: https://istoe.com.br – EDIÇÃO Nº 2570 – CULTURA / Por AFP – 01/04/2019)

(Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/01/cultura – BRASIL / CULTURA / Por JOSÉ ANDRÉS ROJO – Madri – 1 ABR 2019)

(Fonte: GAÚCHAZH – ANO 55 – N° 19.362 – 2 de abril de 2019 – TRIBUTO / MEMÓRIA – Pág: 25)

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