O grande talento da era de ouro do rádio gaúcho marcou sua trajetória com atividades múltiplas em todas as mídias, durante seis décadas, e também se destacou como deputado estadual
Cândido Norberto Silva Santos (Bagé, no Rio Grande do Sul, 18 de outubro de 1927 – Porto Alegre, 1° de fevereiro de 2009), radialista por mais de seis décadas e ex-deputado estadual pelo Partido Socialista Brasileiro.
Adoentado desde 2006, quando sofreu uma queda em casa e fraturou o fêmur, afastara-se do dia-a-dia dos estúdios e redações por onde transitou por mais de seis décadas.
Cândido Norberto Silva Santos passou os últimos dias da vida ouvindo rádio. Acordava ouvindo rádio. Pegava no sono com o rádio ligado ao lado da cama, inseparável, dia e noite, do aparelho e de todos os seus significados. Poucos fizeram tanto pela magia do rádio quanto ele.
O bageense, que desembarcou em Porto Alegre em 1943 para estudar, virou repórter e construiu a mais brilhante carreira da chamada era de ouro do rádio, entre as décadas de 40 e 60, no Rio Grande do Sul. O criador do Sala de Redação da Rádio Gaúcha, em 1971, foi múltiplo. Foi repórter de jornal. em rádio, foi redator, locutor, ator de radioteatro, narrador de futebol, comentarista. Dirigiu rádio e TV, foi articulista de Zero Hora. Foi político. O amigo e colega deputado federal Ibsen Pinheiro o definiu como “o mestre do improviso”.
Em 1949, Cândido narrou pela Gaúcha a primeira partida internacional transmitida por uma rádio do Estado do Rio Grande do Sul, o jogo em que o Grêmio venceu o Nacional por 3 a 1, no Estado Centenário de Montevidéu. Era um locutor sem firulas, que contava o que via do jogo de forma cadenciada. Um ano depois elegeu-se deputado estadual pelo Partido Socialista Brasileiro. Presidiu a Assembleia Legislativa, comprou brigas políticas e transformou-se em desafeto do então governador Leonel Brizola, que cutucava nos comentários diários na Rádio Gaúcha e em discursos. Em 1966, seis meses antes de completar o quarto mandato como parlamentar, é cassado pelo regime militar.
Além da Rádio Gaúcha e de Zero Hora, trabalhou nas rádios Guaíba e Farroupilha e foi diretor da TVE. Há quatro anos, ao ser entrevistado pelo site coletiva.net, alertou que talvez não tivesse muita coisa que pudesse “interessar a terceiros”. Poucos comunicadores no Brasil tiveram tanto para contar quanto Cândido Norberto.
Em 2006, quando decidiu se aposentar, o diretor da Rádio Gaúcha, Armindo Antônio Ranzolin, apontou Cândido Norberto como seu grande ídolo nas comunicações. Cândido foi o ídolo de várias gerações de radialistas e jornalistas por ter marcado o rádio com suas inovações, desde a decisão de transformar as radionovelas em programas diários, nos anos 50, até a concretização de seu maior feito, a criação do programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha.
No dia 9 de setembro de 2007, no 4º Encontro RBS de Jornalismo, que reuniu mais de mil profissionais no teatro do Bourbon Country, Cândido emocionou-se com a homenagem da direção do Grupo e dos colegas. Estava em cadeira de rodas, mas fez questão de comparecer à festa dos 50 anos da RBS. Foi aplaudido como um dos primeiros funcionários do Grupo.
O radialista e ex-deputado Cândido Norberto faleceu dia 1° de fevereiro de 2009, no Hospital Moinhos de Vento, aos 83 anos. Ele estava internado com pneumonia e teve falência múltipla de órgãos.
(Fonte: www.zerohora.clicrbs.com.br – Memória – 1/2/09)
(Fonte: Zero Hora – Ano 45 – N°15.860 – 2 de fevereiro de 2009 – MEMÓRIA / REPORTAGEM ESPECIAL – Pág: 4/5)
Cândido Norberto dos Santos nasceu em Bagé, no dia 18 de outubro de 1927, mesmo ano de fundação da Rádio Gaúcha. Chegou a Porto Alegre em 1943, para trabalhar na Folha da Tarde, periódico da Caldas Júnior. Além de experiência, conquistou várias amizades. Cita como exemplos Flávio Alcaraz Gomes e João Bergmann, locutor da PRF-9, Rádio Difusora Portoalegrense. Durante as tardes, Norberto passava o tempo livre no estúdio da rádio jogando conversa fora com Bergmann.
Determinado dia, Bergmann não pode apresentar o seu programa como habitualmente e a chance de locução surgiu pela primeira vez. Impressionado com a voz de Cândido, o diretor da Difusora, Nelson Lança, empregou-o automaticamente. Iniciava-se, então, uma carreira que iria confundir-se com a história da evolução do rádio gaúcho.
Primeira experiência com rádio-teatro
Durante os anos 40, Cândido Norberto era diretor de broadcasting na Rádio Gaúcha. Estruturou o elenco de rádio-teatro da emissora. Conquistou nomes importantes como Walter Ferreira, Tânia Maria, primeira-dama do estilo, Aida Terezinha e Rui Figueira, que além de locutor do Repórter Esso era o responsável pela publicidade. O diferencial da Gaúcha na disputa pela audiência com a Farroupilha era a veiculação diária dos capítulos da novela. É desta época, o programa Tapete Mágico, que incluía novelas e foi um fenômeno de audiência, marcando época no dia-a-dia gaúcho.
O tradicional comentário Pensando em Voz Alta, durante anos projetou Cândido Norberto como analista do cotidiano. A partir daí, trabalhou nas rádios Guaíba e Farroupilha e nas emissoras de televisão Gaúcha e Educativa. Mas foi na Rádio Gaúcha que exerceu o ofício por mais de 50 anos. Foi locutor, redator, cronista, comentarista, rádio-ator. Até cantou, parodiando um bolero ao lado de Adroaldo Guerra e Walter Ferreira.
Em 1950, quando concorreu ao primeiro cargo político, as eleições se caracterizaram pela chamada fase de redemocratização que seguiu ao Estado Novo, regime que impunha uma forte censura aos veículos de comunicação. O chefe político da época era Getúlio Dornelles Vargas.
Formou-se em advocacia e exerceu cargos políticos. Integrou o Legislativo do Rio Grande do Sul por 16 anos, totalizando quatro mandatos consecutivos como deputado estadual pelo Partido Socialista Brasileira (PSB). Ocupou a presidência da Assembléia Legislativa e da União Parlamentar Interestadual e ainda o governo do Estado interinamente. Entretanto, seus comentários políticos na Rádio Gaúcha e na televisão custaram-lhe a troca de emissora na década de 50, quando foi trabalhar na Guaíba comandando o programa Távola Redonda. Teve o mandato cassado pelo regime militar, em 1966.
Cândido Norberto graduou-se em Jornalismo pela primeira turma do curso de Comunicação da UFRGS, atuando desde então somente no meio radiofônico. Foi responsável pela primeira transmissão esportiva internacional do rádio gaúcho, em 1949. A partida foi no Uruguai entre o Grêmio Foot-Ball Portoalegrense e o Nacional, de Montevidéo.
As transformações na Rádio Gaúcha foram feitas após a chegada de Jesuino Antônio D´Ávila, que dirigiu a Farroupilha em seus anos mais prósperos. A maior mudança, porém, ocorreu em 1970, quando Norberto idealizou o Sala de Redação, programa que ocupava o horário do almoço e consistia na leitura de notícias direto da redação do jornal Zero Hora.
O Sala de Redação seria o ponto central da reformulação da Gaúcha, tornando-a eminentemente jornalística. Entretanto, Cândido não acompanhou todo o processo de restruturação. Transferiu-se para a Rádio Farroupilha e, posteriormente, atuou na direção da TV Educativa.
Em 1993, retorna à Gaúcha, participando semanalmente do Fórum Rádio Gaúcha. Fazia, também, três comentários diários na rádio, além de atuar como cronista do jornal Zero Hora.
Entrevista gravada em outubro de 1999.
(Fonte: www.pucrs.br/famecos)