Frase
“A Dark Web tem o propósito de garantir privacidade, mas acabou sendo utilizada por quem se aproveita para ações criminosas.”
RODRIGO ANTÃO, diretor da GC Security, empresa de segurança da informação
Dark web: como atuam os criminosos brasileiros na parte mais sombria da internet
Estudo acadêmico de agente da Polícia Federal mostra que, apesar de extensas, as redes criminais podem ser rompidas atacando-se um número pequeno de usuários
A deep web volta ao noticiário brasileiro cada vez que um grande crime mostra relações com esse ambiente virtual misterioso. No caso mais recente, descobriu-se que os atiradores que perpetraram o massacre em uma escola de Suzano (SP) possivelmente pediram uma “consultoria” a outros criminosos nessa parte obscura da internet. Depois, registros de pessoas comemorando os assassinatos no ambiente virtual também apareceram e levantaram temores de que novos ataques pudessem acontecer.
Esses fóruns de disseminação de ódio, chamados chans (o termo também abriga grupos que não são criminosos), estão longe de ser o único uso constante da deep web por brasileiros. Constituem, na verdade, uma das muitas variantes das “quadrilhas especializadas” criadas por aqui, assim como no exterior, para cometer crimes virtuais difíceis de se rastrear — numa área da internet chamada dark web.
A distinção entre os termos diz respeito à identificação dos que navegam ali. Considera-se deep web toda informação virtual que não pode ser encontrada pelos métodos mais usuais na internet — como sites comuns, pesquisas no Google, redes sociais e até mesmo bancos de dados protegidos por esquemas de segurança, mas ainda assim identificáveis. Na deep web, encontram-se informações militares, de agências espaciais, pirataria e processos judiciais sigilosos, por exemplo.
Restam ainda os inúmeros terabytes de informação que constituem a dark web. É lá onde são encontradas informações anônimas escondidas por um confuso caminho de redirecionamentos e espelhamentos de conexões que visa mascarar a origem e o destino dos dados. É possível encontrar desde o vazamento de documentos como o feito por Chelsea Manning ao Wikileaks até as mais diversas atividades ilegais, como repasse de material de pedofilia.
O uso mais comum desse ambiente sombrio da rede é feito por meio do
TOR, um navegador encriptado que esconde a conexão original em várias camadas de redirecionamentos, como se fosse uma cebola (a sigla se refere justamente a
The Onion Router). Por ser um ambiente onde
dissidentes de regimes políticos autoritários podem denunciar abusos, o TOR recebe apoio financeiro de entidades como a
Electronic Frontier Foundation, uma das principais organizações de defesa da liberdade de expressão na internet, e o próprio
Facebook já permite a navegação em sua rede por meio do navegador.
O problema é que a navegação anônima garante não só privacidade, mas também um refúgio para criminosos.
“A
dark web tem o propósito de garantir anonimidade e privacidade. Nasceu para que pessoas que vivem em regimes totalitários ou sofram pressões políticas diversas possam fazer suas denúncias e atuar mais livremente. Mas acabou sendo utilizada também por gente que se aproveita desse anonimato para ações criminosas”, diz Rodrigo Antão, diretor da GC Security, empresa de segurança da informação que monitora atividades no ambiente para identificar, por exemplo, a
comercialização de dados pessoais roubados para fins fraudulentos.
Essa venda de informações, afirma Antão, é um dos usos em que o criminoso virtual brasileiro se tornou “especialista” ao atuar na dark web. “Hoje, o crime mais comum é o cibercriminoso tentar ganhar dinheiro com aquilo que consegue roubar. Planos de invasão contra empresas, dados pessoais roubados de instituições financeiras, pontos de milhagem”, exemplifica o especialista. “São quadrilhas estruturadas há bastante tempo, que também roubam bancos e cometem fraudes contra empresa de cartões”.
E há ainda o caso da pedofilia, que foi alvo da maior operação já feita por autoridades brasileiras contra crimes cometidos na dark web. Originada na Polícia Federal do Rio Grande do Sul, a Operação Darknet resultou, na soma de suas duas fases entre 2014 e 2016, em 74 prisões por repasse, venda e consumo de material pornográfico de crianças e adolescentes.
(Fonte: https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/04 – TECNOLOGIA / NOTÍCIA / FRASE / POR RAFAEL FAUSTINO – 23/04/2019)