As máximas de Nelson Rodrigues sobre sexo, casamento e futebol
Um dos melhores escritores de todos os tempos tem muita coisa para nos ensinar
Nelson Rodrigues (1912-1980), escritor, jornalista e dramaturgo, foi o maior frasista brasileiro, o nosso Rochefoucauld, foi um dos raros escritores brasileiros a agradar tanto aos intelectuais quanto ao povão.
Ele conseguiu atenção dos dois grupos escrevendo peças, crônicas e contos sobre gente como a gente, que todo dia se vê de cara com uma sucessão de tentações que colocam o caráter em teste. Infidelidade, as complicações da busca pelo sexo e as dificuldades de relações familiares eram alguns de seus temas recorrentes.
Além de tudo, ainda é o maior cronista de futebol que o Brasil já teve. Veja como alguns conselhos de sua obra podem fazer de você um homem ainda melhor.
1. Não existe dinheiro no mundo que compense uma falha grave de caráter
Ao saber da demissão de Eduardinho, sua esposa propõe encontrar o ex-chefe para convencê-lo a reconsiderar a decisão. De início, o marido diz que é um homem “com vergonha na cara” e a proíbe de intervir. Alerta a mulher de que o antigo patrão é tão tarado que “não respeita nem poste”.
Quando as dívidas apertam, ele muda de ideia. Diz que “a vergonha é um trambolho na vida de qualquer um” e dá uma brecha para ela ir falar com seu chefe. De repente, ele é readmitido.
Na última frase do conto, a esposa recusa um carinho de Eduardinho dizendo: “Eu traí você com o outro. Mas não vou trair o outro com você”. Mostrou uma falha de caráter grave e, de brinde, ganhou a repulsa da esposa.
Marido Desempregado está na coletânea de contos Não Tenho Culpa Que a Vida Seja Como Ela É (Agir, 264 páginas).
2. Jogador de futebol sofre como todos nós
“O futebol brasileiro tem de tudo, menos o seu psicanalista. Cuida-se da integridade das canelas, mas ninguém se lembra de preservar a saúde interior, o delicadíssimo equilíbrio emocional do jogador.”
Este texto, escrito em 1956, continua mais válido que nunca. Pense nisso antes de sair xingando um jogador do seu time por uma má apresentação. O conselho pode evitar vexames em campo e carreiras destruídas pelo desequilíbrio emocional.
Se um executivo importante fica menos produtivo devido a problemas pessoais, o que a empresa faz? Dá licença para o funcionário. Já quando um craque em crise joga mal, a pressão só aumenta sobre ele. Não tem como dar certo.
Pode parecer frescura, mas Nelson Rodrigues foi um homem de razão intacta, até mesmo quando chegava a atribuir a derrota de um time à dor de cotovelo de um jogador.
O Berro Impresso das Manchetes (Agir, 544 páginas).
3. Tente manter o sexo próximo do amor
O sexo, na obra de Nelson Rodrigues, é geralmente ponto de partida de tragédia. “O sexo nunca fez um santo. O sexo só faz canalhas”, escreveu.
Mas, em 1967, já havia mostrado uma saída para o canalha: “Tudo é falta de amor. […] As lesões do sentimento, a crueldade. Tudo, tudo falta de amor. […] E sempre há os que apodrecem em vida porque separaram o sexo e o amor. A toda hora esbarramos com sujeitos que praticam a variedade sexual. Esses vão morrer na mais fria, lívida, espantosa solidão”.
Para evitar que o sexo o transforme num personagem rodriguiano, é só se esforçar para não separá-lo do amor. Não é fácil, mas só há vantagem em perder a pecha de canalha.
Ser Para Sempre Fiel… está na coletânea de crônicas O Óbvio Ululante (Agir, 436 páginas).
4. Nunca coloque em xeque a fidelidade da mulher do seu amigo
Nelson Rodrigues fez questão de mostrar que a delação de uma traição só acaba em tragédia para quem dá o alerta. Em Amigo de Infância, um personagem suspeita da infidelidade da mulher de um amigo e corre a alertar o suposto corno.
Quando descobre que a desconfiança tinha fundamento, o corno de fato dá três tiros no cara que só queria que o amigo “não bancasse o palhaço”.
Amigo de Infância está na coletânea de contos A Vida Como Ela É (Agir, 512 páginas).
5. Ao antever uma discussão com a mulher, saia pela tangente
É melhor ficar calado do que testar a veracidade dessa máxima de Nelson Rodrigues: “É de fato num bate-boca que nasce na mulher a vontade de trair. Na seguinte discussão, o adultério toma a forma de uma utopia reparadora. […] Os bate-bocas não passam, e repito: os bate-bocas ficam enterrados, na carne e na alma, como sapos de macumba”.
Trecho da crônica Ah, O Vinicius de Moraes É um Ser Numeroso Que Só Anda em Bando, da coletânea O Óbvio Ululante (Agir, 436 páginas).
6. E um alerta sobre o casamento…
“Só um débil mental pode casar-se na presunção de que o casamento é divertido, variado ou simplesmente tolerável. É divertido como um túmulo.”
Trecho do romance Asfalto Selvagem (Agir, 652 páginas).
O essencial de Nelson
O berro impresso das Manchetes (Agir, 544 páginas)
Reunião de todas as crônicas esportivas de Nelson Rodrigues. As análises de jogos específicos do escritor valem para quase todas as partidas de futebol que você já viu.
O Óbvio Ululante (Agir, 436 páginas)
Publicadas em 1967 e 1968, as crônicas reunidas neste livro mostram o Nelson falando dele mesmo. Tem a maior e melhor reunião das suas frases mais lapidares.
Asfalto Selvagem (Agir, 652 páginas)