“Caiu a ficha de que não basta uma reforma para ficar tudo bem”, diz presidente do Insper
Para Marcos Lisboa, país vive desafio que só será solucionado com educação, inovação, incentivo ao empreendedorismo e reformas políticas
“SEM INOVAÇÃO, NÃO HÁ CRESCIMENTO.”
MARCOS LISBOA, presidente do Insper
Marcos Lisboa não está animado com a situação atual do país. “Muitos falam que sou pessimista. Mas essa é a realidade”, diz o presidente do Insper. Para o professor, país vive um desafio econômico que só será resolvido com educação, inovação, incentivo ao empreendedorismo e reforma política. Na sua visão, dificilmente essa geração de brasileiros verá algum resultado positivo. “O Brasil ficar rico na nossa geração é praticamente impossível”, afirma.
Lisboa se apresentou durante a 9ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente, evento realizado em (10/06) em São Paulo. Na palestra, analisou o cenário econômico brasileiro atual e listou uma série de desafios que o país deve enfrentar nos próximos anos. “Caiu a ficha de que não basta uma reforma para ficar tudo bem”, diz Lisboa, sobre a reforma da Previdência.
O presidente do Insper fez um apanhado geral dos últimos 20 anos, concluindo que o Brasil não aproveitou o bom momento da economia mundial. “Nessa década, nossa renda cresceu só um sétimo do que outros países emergentes cresceram. Se este fosse um país normal, teríamos ficado 15% a 20% mais ricos. O Brasil está ficando para trás e a gente está perdendo tempo”, diz.
Para reverter esse cenário, o economista entende que é necessário investir em quatro pilares: educação, infraestrutura, fortalecimento das instituições e intervenções públicas que facilitem o empreendedorismo. No campo da educação, Lisboa diz que o Brasil é um dos países que mais investe no setor em todo o mundo. “A má notícia é que a gente gasta mal”, afirma.
Polêmico, Lisboa defende que o Brasil encontre um foco mais claro quanto à educação. “Com todo respeito, mas filosofia e sociologia no ensino médio é muito. Precisamos focar em português e matemática”, diz. Para ele, há problemas também quanto à gestão da rede pública, “onde há muitas nomeações com pouco caráter técnico”. Mesmo assim, Lisboa entende que falta apoio à ciência, tecnologia e inovação no país. “Sem inovação, não há crescimento.”
Quanto às instituições, o professor tenta fugir da polarização, apoiando a intervenção estatal em alguns casos. “Funciona nos casos em que as instituições garantem o alinhamento entre interesses privados e eficiência social”, diz. Como exemplo, cita a eficiência do judiciário para a abertura e fechamento de empresas, além de entidades responsáveis por análise de aprovação de crédito. “Precisa ser menos burocrático e moroso”, diz.
A ação do estado, entretanto, deve ser comedida, na sua visão. “Quando o estado interfere demais, os contratos ficam mais restritos, os mercados ficam piores e os países, mais pobres”, afirma.