PRIMEIRA ‘CIDADE INTELIGENTE’, TORONTO SERÁ COBAIA PARA O FUTURO
Tentamos construir as tais “cidades inteligentes” há quase 20 anos, mas só nos últimos meses engenheiros implementaram uma série de melhorias que usam sensores interconectados para monitorar o tráfego, pedestres, clima, poluição, ocupação residencial e tratamento de esgoto. O objetivo é criar uma cidade mais eficiente, facilitando a vida de todos.
A Sidewalk Labs, uma subsidiária do Alphabet (a empresa que controla a Google), está prestes a levar a tecnologia cívica a um novo patamar em Toronto, onde faz testes da primeira cidade verdadeiramente inteligente numa área de 12 acres conhecida como Quayside, um espaço subutilizado às margens do Lago Ontário e que é geralmente considerado pouco atrativo e negligenciado.
Apesar dos problemas dos moradores de Toronto com Quayside, eles têm muitas restrições quanto a entregar o local ao experimento da Sidewalk Lab. O projeto envolveria carros e transporte público autônomos; semáforos inteligentes que coletam informações sobre pedestres, ciclistas e veículos; robôs correio e coletores de lixo; elaboradas galerias de túneis subterrâneos para fazer com que entregas sejam mais eficientes; e prédios modulares que podem ser expandidos sob demanda conforme a população aumente. Sensores serão capazes de rastrear pessoas, temperaturas das construções, uso de água e eletricidade e muito mais.
2019 marcará a implementação da proposta final dessas tecnologias, mas os locais já estão demonstrando seu descontentamento sobre quanta monitoração será feita e como o projeto será custeado.
Não é possível construir uma cidade inteligente sem a ajuda de instituições privadas. Isso significa que os dados das pessoas serão compartilhados com essas empresas para que elas possam aperfeiçoar seus serviços de entrega ou compartilhamento de veículos, mas para que elas também possam fazer anúncios melhores para seus moradores.
Seria bom que prestássemos atenção à reação dos canadenses ao anúncio desta nova empreitada. Diversos jornais publicaram artigos informativos sobre o projeto e coletaram depoimentos do público sobre a iniciativa, encorajando as pessoas a pensar sobre o que está por vir e dando tempo para que façam perguntas relevantes.
O Torontoist coletou as 35 perguntas mais recorrentes sobre essa nova tecnologia, e cabe ao Sidewalk Labs respondê-las, se desejar apoio do público. Elas incluem:
- Quem é o usuário realmente beneficiado pelo Sidewalk Labs? Quais empresas querem saber sobre como as pessoas interagem em espaços físicos? Construtoras? Cidades?
- Como a Sidewalk Labs será cobrada caso ela não cumpra seus objetivos?
- Quem vai controlar/possuir/acessar os dados capturados pelos sensores usados nesse projeto?
- Como esse projeto transformará a alfabetização digital, incluindo informações sobre dados e seus usos, como algoritmos e “machine learning”? Mais especificamente, como comunidades historicamente marginalizadas que podem não ter experiência ou contato com as implicações desse projeto participarão dos diálogos públicos sobre ele?
- A maneira como os dados serão processados pelos algoritmos será aberta?
- Quem pagará se essa tecnologia experimental não funcionar? Se o projeto for à falência, quem cobrirá os custos de pavimentação dessas ruas e do despejo dos LEDS e demais infraestrutura?
- Quem será responsável para dar uma satisfação caso a infraestrutura do projeto seja hackeada?
Está claro que os moradores de Toronto estão de olho nesse projeto e que ele só será bem sucedido com o apoio deles. É uma demonstração importante da necessidade do engajamento público com novas tecnologias que nós poderíamos tentar emular.
Tradução de Daniel Salgado