O CLK-GTR é uma versão de rua de um modelo que disputa competições na Europa. Ele concentra toda a tecnologia que a indústria automobilística já desenvolveu até hoje. Tem apenas dois lugares, e cada um deles está protegido por três airbags. Estuda-se incluir nos próximos veículos um quarto airbag, para as pernas. A carroceria é de fibra de carbono, as portas se abrem para cima, como se o carro tivesse asas, e a troca de marcha é feita com um toque de mão numa alavanca presa ao volante, que é removível como nos carros de corrida. Seu motor tem mais de 600 cavalos de potência, o que permite evoluir de zero a 100 quilômetros por hora em 3,8 segundos. Um veículo normal precisa de 20 segundos para fazer isso. Na arrancada, o corpo do motorista é pressionado para trás com uma força espantosa, algo como um peso de 60 quilos empurrando o tórax contra o banco. Em dez segundos, o ponteiro passa dos 200. É um monstro capaz de atingir 320 quilômetros por hora. A cabine onde ficam as pessoas, chamada “célula de sobrevivência”, é igual à dos carros de Fórmula 1. Ela protege o motorista e o passageiro em caso de acidente. Num dos testes de resistência encomendados pela Mercedes-Benz, a cabine suportou a força de uma prensa de 4 toneladas. Na vida real, o equipamento também foi aprovado na última edição das 24 Horas de Le Mans, quando um piloto capotou a versão de corrida do CLK-GTR. O carro deu duas voltas no ar, atingiu 12 metros de altura e se espatifou na pista 140 metros à frente. O piloto saiu ileso.
Anatomicamente perfeito Quem compra uma máquina desse padrão não vai a uma concessionária com a família e olha a tabela de preços e a lista de opcionais. O cliente é um homem muito rico que entra em contato com a Mercedes e inclui seu nome na lista de espera. Quando é chamado, como se estivesse indo ao alfaiate, voa até uma fábrica localizada em Stuttgart, onde as medidas de suas pernas e braços são tiradas para que, durante a montagem, os pedais e o volante sejam colocados na distância ideal. O cliente então é convidado a fazer um molde de seu corpo para que o banco do motorista fique anatomicamente perfeito. Só três carros são produzidos de cada vez sob a responsabilidade de uma equipe de quatro mecânicos. Eles cuidam de tudo. Depois que for entregue, o veículo continua a receber tratamento especial. As revisões devem ser constantes e só podem ser executadas por funcionários da fábrica na Alemanha.
Para quem gosta de carros confortáveis, espaçosos e silenciosos, dirigir uma máquina dessas é uma experiência terrível. O CLK-GTR é um veículo selvagem. O volante é duro e vibra a ponto de causar dores nos braços. O motor, que fica logo atrás dos bancos, é tão barulhento que os passageiros precisam usar protetor de ouvido. Como a cabine é apertada, o carro não é apropriado para pessoas com mais de 1,80 metro. A fábrica faz uma recomendação especial. O comprador deve realizar um curso de pilotagem com um especialista da Mercedes para aprender a dirigi-lo com segurança. A preocupação é justificada. Quem não souber lidar com a força do motor poderá facilmente perder o controle. “É um veículo de reações rápidas e violentas”, diz Ricardo Bock, especialista em carros e professor da Faculdade de Engenharia Industrial, de São Paulo. “Pode ser perigoso para quem não está acostumado.”