Romeu de Avelar (São Miguel dos Campos, Alagoas, no dia 23 de março de 1896 – Minas Gerais, perto da cidade de Leopoldina, em 20 de dezembro de 1972), jornalista, tradutor, historiador e escritor alagoano, autor de “Calabar – Interpretação romanceada do tempo da invasão holandesa”, “Tântalos” e “Os Devassos”. As obras, algumas consideradas raras no mercado livreiro, permaneceram por décadas fora dos catálogos das editoras brasileiras.
Filho de Metódio da Silva Morais e de Maria Andréia de Araújo Morais. Recebeu seus primeiros ensinamentos no Colégio Dias Cabral e no Liceu Alagoano. Estudou na Escola de Odontologia e na Faculdade Livre de Direito, no Rio de Janeiro. Mais tarde, em Minas Gerais, fez o curso de veterinária na Escola de Medicina-Veterinária. Casado com Lourdes Caldas de Avelar.
Sua bibliografia é extensa e composta por crônicas, peças teatrais, contos, traduções e obras de cunho histórico. Escreveu Calabar, romance que abriu a polêmica do resgate da imagem de Domingos Fernandes Calabar (1600-1635), considerado um dos maiores traidores da história do Brasil. Outro romance também polêmico foi Os Devassos, editado no Rio de Janeiro em 1923, onde revela o lado obscuro da vida mundana carioca, motivo pelo qual foi apreendido pela polícia carioca em 1924.
Além dos livros já citados, Romeu de Avelar é autor de General Gois Monteiro: o Comandante de um destino (1949) e, Crônicas de Ontem e de Hoje (1948), este lhe valeu o prêmio literário Othon Bezerra de Benezes, concedido pela Academia Alagoana de Letras.
Em 1914, em Maceió, a revista Frou-Frou era lançada, tendo como responsável pelo periódico o jornalista José Guedes Quintela (1896- ?). No grupo de colaboradores estava Romeu de Avelar, ao lado de Aljamar Mascarenhas (1897- ?) cujo pseudônimo era Berilo Prates, José Portugal Ramalho (1895- ?) que usava Joseph Ramalho como pseudônimo e Amarílio dos Santos (1895- ?). Publicada pela Tipografia Fernando Costa, a revista teve apenas um número, devido a dificuldades financeiras.
Em Maceió, foi diretor dos jornais: A Imprensa e o Diário de Maceió e As Vespas. Dirigiu também a Imprensa Oficial de seu estado natal. Foi também em Maceió em agosto de 1950, que surgiu a revista Caeté, com Romeu de Avelar aparecendo como membro do Conselho de Redação.
Além de Alagoas, ele trabalhou nos estados de Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro. Na capital mineira dirigiu o Correio Mineiro, O Movimento, Proteu, Semana Ilustrada. Em Recife foi diretor do Brasil Literário e no Rio de Janeiro dirigiu Panfleto. Foi colaborador das publicações: Revista da Semana, Ilustração Brasileira, O Malho, Vamos Ler, Noite Ilustrada. Como tradutor, trabalhou na Casa EditoraVecchi, no Rio de Janeiro.
Trajetória de vida
Romeu de Avelar é o pseudônimo do escritor Luiz de Araújo Moraes que nasceu em São Miguel dos Campos, no dia 23 de março de 1896. Ocupou a cadeira de número 32 da Academia Alagoana de Letras e a cadeira de número 14 do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.
Foi diretor-presidente da Imprensa Oficial de Alagoas, membro da Academia Alagoana de Letras e patrono da Cadeira n° 14 do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Durante a década de 1920, cursou Medicina Veterinária em Belo Horizonte, onde se tornou amigo de jovens intelectuais como Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Milton Campos e Juscelino Kubitschek. Polêmico e contestador, foi preso e censurado, o que não o impediu de publicar uma obra vasta e diversificada, transitando por vários gêneros literários como contos, romances, crônica, teatro, memória e biografia. Ele também é autor de À Sombra de um presídio, Pirongas, General Góis Monteiro – O Comandante de um Destino, entre outros. Em sua trajetória como jornalista, foi um dos responsáveis pelo lançamento da revista Frou-Frou e diretor de jornais como A Imprensa e o Diário de Maceió.
“O livro causou muita polêmica na época da publicação de sua primeira edição, lançada em 1938, porque trazia um ponto de vista crítico e absolutamente inovador sobre a invasão holandesa no Brasil seiscentista e sobre o protagonismo de Calabar na disputa territorial entre neerlandeses e a União Ibérica. Na visão de Romeu de Avelar, Calabar foi um insurreto e um clarividente que se antecipou à revolução histórica e liberal no Brasil. Neste livro, tido como a obra-prima do escritor, Calabar é um herói destemido e idealista”, explica.
Obras
Além do livro Calabar, a Imprensa Oficial Graciliano Ramos também está resgatando a coletânea de contos Tântalos, a primeira obra literária publicada por Romeu de Avelar, em 1921. Este livro, cujo título remete ao suplício do personagem Tântalo, da Odisseia de Homero, condenado a ter sede e a não poder saciá-la, elege uma galeria de personagens deslocados, sofrendo a cada passo pela impossibilidade de realizar desejos e de conviver com a paz e a alegria.
“É um título-síntese do sofrimento e deterioração humana, escrito com inventividade e erudição. O livro de Avelar mostra-nos que ele, homem nascido em 1893, soube captar e representar as ideias da passagem do século, como as de Baudelaire, ácido crítico da industrialização e urbanização. A primeira das epígrafes escolhida pelo escritor, dentre inúmeras, é uma citação do texto Paraísos Artificiais, em que o poeta francês dá ‘Viva à Fatalidade’, termo este que intitula o primeiro dos onze contos da obra”, afirma a escritora Vera Romariz, autora do texto de apresentação da nova edição da obra, pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos.
Na época do lançamento da primeira edição de Tântalos, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, então jovem repórter do jornal Diário de Minas, escreveu um artigo sobre o livro, afirmando que Romeu de Avelar era, antes de tudo, um sincero realista. “Ele vê o que pinta. Pinta o que vê. Zola fascino-o. Ora, Tântalos é um livro saturado de romantismo. Não do romantismo choramingueiro e piegas que fez da lágrima ‘uma função hidráulica sentimental’. Mas em todo caso, romantismo”, descreveu. Para Drummond, Avelar era o criador de tipos apaixonados e sofredores que fazem da vida uma tragédia que todos podem compreender. “Ele pinta estados de alma com agudeza e segurança. (…) A palavra é a argila maravilhosa de que ele se utiliza, habilmente, no afã de plasmar personagens inconfundíveis. E o certo é que as plasma admiravelmente”, escreveu..
Censurado e apreendido pela polícia carioca logo após o seu lançamento no Rio de Janeiro, em 1923, por ofender a moral e os bons costumes da sociedade carioca da época, Os Devassos é atualmente uma das obras mais raras do autor. Lançado pela lendária editora Benjamin Costallat & Miccolis, famosa pela publicação de livros arrojados, com temáticas relacionadas a sexo e violência, a obra revela o lado obscuro da sociedade carioca e o comportamento promíscuo e perdulário da elite da época. “De Romeu de Avelar pode-se vislumbrar em Os Devassos influxos estéticos da obra de Émile Zola, escritor francês naturalista, a quem admirou. Também se constata a qualidade literária encontrada na prosa de Balzac, Dostoievski e Dickens que, como ele, observavam a vida mundana para discorrerem sobre a miséria da condição humana”, afirma o poeta e crítico Rosalvo Acioli.
“É maravilhoso o fato de que hoje, quase cem anos após a publicação de Os Devassos e de Tântalos o público possa novamente ter acesso à estas obras raras de Romeu de Avelar. Principalmente, Os Devassos, que retrata tão bem o Rio antigo, dos Anos 1920 – no que era uma espécie de Belle Époque na História brasileira”, afirma Isabela de Araújo Martins Pivar, neta de Romeu de Avelar, mencionando que o escritor Ruy Castro cita esta obra no seu próximo livro Me faz Carinhos – O Rio dos anos 1920, que foi lançado em novembro de 2019.
(Fonte: https://www.tnh1.com.br/noticia/nid – ALAGOAS / Imprensa Oficial Graciliano Ramos resgata obra de Romeu de Avelar – 05/11/19)
(Fonte: https://bndigital.bn.gov.br – Biblioteca Nacional Digital – PERIÓDICOS & LITERATURA / PERSONAGENS / ROMEU DE AVELAR / por Maria do Sameiro Fangueiro)