Severo Gomes, ministro da Indústria e Comércio, em 1974, com Ernesto Geisel.

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Mudando junto com o país

Severo apoiou 64 e acabou na oposição

Severo Gomes (São Paulo, 10 de agosto de 1924 – Angra dos Reis, 12 de outubro de 1992), foi um político que mudou junto com o país. Foi ministro da Agricultura de Castello Branco, em 1966, e também voltou a Brasília com Ernesto Geisel, que o nomeou ministro da Indústria e Comércio, em 1974. Em sua primeira passagem pelo governo, Severo serviu a um regime que rejeitava o nacionalismo de seu antecessor, João Goulart. No dia 12 de outubro de 1992, deixou um governo que fazia a abertura política. Udenista de origem, em 1979 Severo filiou-se ao MDB, ganhou um mandato de senador três anos mais tarde e tornou-se porta-voz do pensamento nacionalista no Congresso. Num momento em que as preocupações ecológicas eram vistas como um tema exótico, apresentou o primeiro projeto de demarcação de terras dos índios ianomamis.

Severo tinha humildade para encarar a passagem de liberal a nacionalista, de articulador do golpe de 1964 a adversário do regime militar. Dizia que havia mudado “tarde, mas não demasiado tarde”. O ex-senador tinha uma qualidade rara, a franqueza, e outra raríssima, a disposição de sustentar sua franqueza e arcar com as consequências. Em 1977, ainda ministro de Geisel, compareceu a uma festa em São Paulo na qual fez uma crítica áspera ao regime autoritário, dizendo que a preocupação dos governos com a segurança absoluta criara um sentimento de insegurança absoluta junto à população. Chamado pelo presidente para dar explicações, confirmou o que disse, e deixou o governo uma semana depois.

SEM APOIO – Seu último cargo público foi a Secretaria de Ciência e Tecnologia do governador Luiz Antonio Fleury Filho. Pediu demissão três meses depois da posse, ao constatar que recebera uma herança envenenada – o contrato com uma empresa de Israel para a compra de robôs e equipamentos eletrônicos a preços superfaturados. Convencido de que estava diante de um escândalo, e que não tinha apoio de Fleury para apura-lo até o fim, assinou a carta de demissão. O tempo encarregou-se de mostrar que as suspeitas de Severo tinham razão de ser. Em 1991, na posse de Severo no Conselho da República, aproximou-se do ex-presidente José Sarney e disse, bem alto: “Que saudades, Sarney”. Disse alto para que Frnando Collor, que estava ao lado, pudesse engolir, contrariado, um pigarro inexistente. Nos últimos tempos. Severo estava empenhado em salvar o patrimônio da família. A tecelagem Parahyba, da qual era um dos sócios majoritários, amargava problemas financeiros há pelo menos dez anos. Atolada em dívidas, enfrentando sucessivas greves de funcionários por falta de pagamento, a Parahyba pediu concordata em 1984 e, em agosto, sofreu liquidação e dissolução judicial. Recentemente, Severo iniciara uma ação com seus advogados na esperança de recuperar o controle da empresa que passara às mãos de um irmão. O Senador Severo Gomes morreu aos 68 anos.
(Fonte: Veja, 21 de outubro de 1992 – Edição n.° 1258 – ANO 25 – N° 43 – BRASIL/ Por Marcelo Auler, de Angra dos Reis – Pág; 16/19)

12 de outubro de 1992 – Queda de helicóptero causa a morte do ex-ministro Severo Gomes e do deputado Ulysses Guimarães.
(Fonte: http://www.correiodopovo.com.br – ANO 117 – Nº 12 – 12 de outubro de 2011)

A tragédia nacional

De encontro marcado com a morte Ulysses bateu pé para ir a Angra, insistiu em voar de helicóptero e antecipou a volta em uma hora. Foi fatal
Na belíssima região de Angra dos Reis, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, a Capitania dos Portos previra que teria “céu encoberto, com chuvas e trovoadas, e ventos de 15 a 20 nós, com rajadas”. O doutor Ulysses da Silveira Guimarães, aos 76 anos, completados em 6 de outubro, mergulhou para a morte no mar na tarde do Dia da Criança e de Nossa Senhora Aparecida. O Congresso parou, bandeiras desceram a meio pau e os sinos começaram a dobrar pelo deputado. Sua trajetória, de mais de quatro décadas e onze mandatos consecutivos de deputado, serve como um quatro décadas e onze mandatos consecutivos de deputado, serve como um manual de preservação da vida democrática. Sua biografia mostra uma das personalidades mais vigorosas da política brasileira desde o pós-guerra.

O fim de Ulysses começou às 3h20 da tarde. Nessa hora, o helicóptero levantou voo do Hotel Portogalo, próximo da casa do empresário Luís Eduardo Guinle, onde Ulysses passou o feriado. Ele estava a bordo com o piloto Jorge Comeratto, Mora, sua mulher há 37 anos, e um casal de amigos, o ex-senador e ex-ministro Severo Gomes e sua mulher Henriqueta.

Dez minutos mais tarde, o piloto Comeratto, um profissional experiente, desceu no aeroporto de Angra dos Reis, abasteceu e partiu com destino a São Paulo. Antes de completar meia hora de voo, o helicóptero enfrentou chuva com granizo. “Ele vinha costeando o litoral, voando baixo, a uns 50 metros do nível da água, com farol ligado”, conta o industrial Arthur Vicintin Neto, que pescava ali perto.

Foi um fim de semana de amenidades. Ao chegar, Ulysses soube que o presidente Itamar Franco lhe telefonara. Retornou a ligação e falou vinte minutos com Itamar sobre a indicação de Lázaro Barbosa para a Agricultura. No domingo, Ulysses e Severo foram almoçar na casa do empresário Israel Klabin, na Ilha Grande. Escalado para presidir uma conferência sobre meio ambiente em novembro de 1992, em Brasília, Ulysses conversou longamente sobre o assunto com Klabin, outro interessado em questões ecológicas. Na segunda-feira fatal, Ulysses foi o primeiro a acordar. Leu um livro até que os jornais chegassem.

“SENSAÇÃO TERRÍVEL – Eram 17h30 quando Celina ligou para Archer, preocupada com a falta de notícia dos pais. Archer ligou para o hotel em Angra dos Reis para saber se o helicóptero teria retornado em função do mau tempo. A resposta foi negativa, como seriam todas as demais. Em contato com a Líder Táxi Aéreo, pediu que a empresa fizesse um rastreamento para saber onde o PT-HMK estava. A Líder não o localizou. Archer então telefonou para o Salvaero, o órgão do Ministério da Aeronáutica encarregado de operações de salvamento. Itamar Franco foi informado do sumiço do helicóptero. A Câmara dos Deputados suspendeu a sessão do dia. Os corpos começaram a ser encontrados. Os corpos começaram a ser encontrados. Primeiro, foi localizado o do piloto Comeratto, mais tarde, encontrou-se o ex-senador Severo Gomes, enterrado em São Paulo com honras militares. Até a madrugada de sábado, o corpo de Ulysses e o de Henriqueta, mulher de Severo, continuavam desaparecidos.

O impacto do helicóptero de Ulysses com o mar foi brutal. Calcula-se que o choque tenha acontecido a uma velocidade entre 180 e 200 quilômetros por hora.

(Fonte: Veja, 21 de outubro de 1992 – Edição n.° 1258 – ANO 25 – N° 43 – BRASIL/ Por Marcelo Auler, de Angra dos Reis – Pág; 16/19)

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