Pol Pot, tirano comunista que implantou os campos da morte no Camboja e dizimou sua população.

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O PEQUENO HITLER

Pol Pot (Camboja, 19 de maio de 1928 – Camboja, 15 de abril de 1998), ex-ditador do Camboja e líder da guerrilha comunista Khmer Vermelho, o tirano comunista que implantou os campos da morte no Camboja e dizimou sua população.

Cujo regime brutal e primitivo nos anos 70 lhe valeu lugar no panteão das figuras mais universalmente odiadas do século XX.
Um homem cujo feito mais notável foi o extermínio em massa de seu próprio povo. Quem o conheceu diz que, em vida, também era difícil identificar naquele homem discreto e de gestos suaves o paranóico que matou alguns de seus colaboradores mais íntimos.

Líder de uma rebelião de camponeses, Pol Pot esteve no poder entre 1975 e 1979. Foi um regime excepcionalmente brutal, num século em que não faltaram concorrentes. As organizações que tentam fazer um balanço do saldo de mortos nesse período calculam atualmente entre 1,7 milhão e 2 milhões de pessoas, cerca de 20% da população do Camboja. Durante duas décadas, Pol Pot pairou como um fantasma maligno.

Misterioso e arredio, mal aparecia, mesmo no poder. Depois, deposto por uma invasão vietnamita, embrenhou-se na selva com as tropas do Khmer Vermelho e sumiu de vez. Reapareceu em 1997 em situação patética: velho, doente, alquebrado, para ser submetido pelos antigos companheiros a um “tribunal revolucionário” e condenado à prisão perpétua.

“Ano zero” – Chamar Pol Pot de monstro ou compará-lo a Adolf Hitler, pelo furor assassino, é um recurso de linguagem para explicar as dimensões do mal que provocou. O perigo é deixar de dizer que Pol Pot não agiu sozinho. Soube tirar vantagem da geopolítica da Guerra Fria e ser aceito como um obstáculo importante ao expansionismo soviético na Ásia. Até as eleições supervisionadas pela ONU em 1993, o Khmer Vermelho era reconhecido pelos Estados Unidos como o governo legítimo do país, enquanto o Camboja, sob intervenção vietnamita, sofria pesadas sanções internacionais. Ocupava uma cadeira nas Nações Unidas e participava ativamente em seus organismos, como a Unesco. A China continuou fornecendo-lhe armas até 1990 e a Tailândia ainda lhe dava certo apoio logístico. A partir de 1979 nenhum país podia argumentar ignorância sobre o genocídio cometido pelo regime do Khmer Vermelho.

Pol Pot, nome de guerra de Saloth Sar, nasceu por volta de 1928 numa família de camponeses prósperos, na então colônia francesa do Camboja. Foi criado por uma tia, bailarina no palácio real e concubina do príncipe herdeiro. Esteve num seleto grupo de meninos enviados para estudar na França. Voltou comunista, mas ainda lecionou dez anos antes de desaparecer na clandestinidade. Ressurgiu com a tomada de Phom Penh, em 1975, depois de cinco anos de uma guerra diretamente relacionada ao que acontecia no vizinho Vietnã. A primeira providência do Khmer Vermelho foi ordenar aos cambojanos que esvaziassem as cidades e começassem a viver o “ano zero” da revolução como camponeses nas lavouras. Na sua fúria purificadora, o regime fechou escolas, aboliu o dinheiro, a propriedade privada, a imprensa, os livros, o sistema postal e proibiu qualquer forma de lazer ou adorno.

Milhares de pessoas, sobretudo os velhos, doentes e crianças, morreram na caminhada inicial. Outros morreram de malária, de fome e pura exaustão nas plantações de arroz nos confins do país. Cerca de 100 000 foram executados por crimes contra o Estado. O que aconteceu no Camboja foi uma reprodução simplista e exacerbada de modelos que Pol Pot admirava e tentou imitar, como a China de Mao Tsé-tung e a União Soviética de Stalin. O que surpreende é o radicalismo e a rapidez com que transformou sua utopia numa colossal tragédia. Não foi, com certeza, algo que um homem pudesse fazer sozinho.

Dessa vez, não podia haver dúvida.

Sobre um colchão sem lençol, num barraco da selva cambojana, a poucos quilômetros da fronteira com a Tailândia, o corpo de um velho, inerme, exibia os sinais inconfundíveis da morte. Foi mostrado para as câmeras, espetado, mexido. O objetivo era comprovar a morte de Pol Pot. O cuidado na identificação era justificado, visto que a morte de Pol Pot já tinha sido anunciado em 1997. Mas o corpo enrolado em plástico, coberto com gelo e cheirando forte a formol eliminou possíveis suspeitas, ainda que muita gente vá desconfiar para sempre da pressa com que o Khmer Vermelho, a organização que o morto liderou, decidiu cremá-lo.

A viúva de Pol Pot estava presente para contar que o encontrou morto na cama. Uma morte tão tranquila parece, de alguma forma, desconcertante num homem de seus feitos tão macabros. Quem o conheceu diz que, em vida, também era difícil identificar naquele homem discreto e de gestos suaves o paranóico que matou alguns de seus colaboradores mais íntimos.

Fica aberta, provavelmente para sempre, a questão se Pol Pot morreu dormindo, de ataque cardíaco, como sustenta o Khmer Vermelho, ou foi assassinado por seus desafetos dentro da própria organização. O certo é que a morte não podia ter ocorrido em momento mais conveniente para todos os protagonistas da tragédia cambojana.

A morte pôs fim às especulações sobre sua entrega à Justiça internacional. Os Estados Unidos tinham tornado oficial, a intenção de levá-lo a julgamento por crimes contra a humanidade. Com os últimos remanescentes do Khmer Vermelho perto da derrota final, parecia plausível que Pol Pot tivesse se transformado em moeda de troca por anistia. Ms quem gostaria de vê-lo expor num tribunal os bastidores dos campos da morte? Boa parte dos dirigentes do Camboja é de vira-casacas do Khmer Vermelho. O atual ditador, Hun Sen, desertou em 1977 e retornou ao país com o Exército vietnamita em 1979. Tem o apoio de Ieng Sary, braço direito e cunhado de Pol Pot, que trocou de lado com suas tropas em 1996. O próprio rei Sihanouk, que perdeu cinco filhos e catorze netos durante os anos de terror vermelho, aliou-se aos homens que chacinaram sua família quando assim a conveniência política o exigiu.

Três décadas de inferno

1969-1970
Ponto de passagem para as tropas norte-vietnamitas e alvo de bombardeios americanos, o Camboja é envolvido na Guerra do Vietnã. Começa a guerrilha comunista do Khmer Vermelho, liderado por Pol Pot.

1975
Os comunistas ganham no Vietnã e o Khmer Vermelho no Camboja, onde implanta um regime primitivo e excepcionalmente brutal. Começa a mortandade em massa.

1979
Tropas do Vietnã invadem o Camboja e depõem Pol Pot. O Khmer Vermelho resiste em bastiões na selva. Recebe ajuda militar e apoio diplomático da China e dos Estados Unidos.

1993
O comunismo acaba ou se reforma. Com mediação da ONU, o Camboja realiza eleições, o rei Sihanouk volta e começa uma abertura econômica.

1997
Derrotado numa disputa interna entre os remanescentes do Khmer Vermelho, Pol Pot é julgado por um “tribunal revolucionário” e condenado à prisão perpétua.
(Fonte: Veja, 22 de abril de 1998 – Edição n.° 1543 – ANO 31 – N° 16 – Internacional – Pág; 40/41)

15 de abril de 1998 – Pol Pot, ex-ditador do Camboja e líder da guerrilha comunista Khmer Vermelho, morreu aos 73 anos de ataque cardíaco. Ele foi responsável pela morte de 2 milhões de pessoas entre 1975 e 1979.

(Fonte: http://www.guiadoscuriosos.com.br/fatos_dia – 15 de abril)

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