Giovanni Berlinguer, italiano que inspirou a reforma sanitária brasileira
Giovanni Berlinguer (Sardenha, na cidade de Sassari, em 1924 – Roma, 6 de abril de 2015), médico sanitarista, bioeticista, deputado, senador, membro do parlamento europeu, inspirador da reforma sanitária brasileira, militante do Partido Comunista Italiano.
Sua vida se confunde com a história das lutas pelo direito à saúde, no mundo. Doutor Honoris Causa pela Fiocruz, a morte de Berlinguer foi recebida com pesar na ENSP.
Nascido na Sardenha, na cidade de Sassari, em 1924, Giovanni Berlinguer era filho de um advogado defensor dos direitos humanos e irmão de Enrico Berlinguer, último grande líder do Partido Comunista Italiano (PCI), do qual também Giovanni foi um militante de destaque, até a dissolução do partido, em 2007. Sua atuação política, que tem início no movimento estudantil, o traz ao Brasil pela primeira vez em 1951, como diretor da Associação Internacional dos Estudantes. Na ocasião, foi ameaçado de expulsão do país pelo então deputado Carlos Lacerda, que acusava Giovanni de ser um espião russo. Durante a ditadura militar, seus livros é que não eram bem vistos pelos donos do poder, no Brasil. Cópias de Medicina e saúde pública e de Saúde nas fábricas circulavam clandestinamente.
Na Itália, foi eleito deputado por três vezes, entre 1972 e 1979. Em 1983 foi eleito senador da República Italiana, sendo reeleito em 1987. Em 2009, foi eleito deputado do Parlamento Europeu, integrando a bancada do Partido Socialista Europeu. Até o fim de sua vida, o sanitarista foi um crítico da sociedade de mercado e da mercantilização da saúde.
– Uma situação paradoxal tem crescido nas últimas décadas. Avanços dos conhecimentos científicos garantem (melhores) epidemiologias, diagnósticos, prevenções, terapias e reabilitações. Mas todo o processo vem se tornando mais e mais seletivo. Alguns podem ser beneficiados e salvarem-se, enquanto um número muito maior de indivíduos não consegue pagar por estes recursos e morre.
Autor de dezenas livros e artigos, no campo acadêmico sua trajetória começa na saúde pública e culmina com forte atuação no campo da bioética, para a qual procurou trazer questões do cotidiano, ligadas à equidade em saúde, num momento em que a maioria dos cientistas se voltava para os casos extremos que surgiam a partir do uso de novas tecnologias na biologia. As pontes criadas por Berlinguer entre essas duas áreas fundamentais para saúde podem ser encontradas na Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, da Unesco, documento que ajudou a redigir e que afirma que “a conquista do mais alto padrão de saúde alcançável é um dos direitos fundamentais do homem, sem distinção de raça, religião, convicção política e condições socioeconômicas”.
Giovanni Berlinguer faleceu aos 90 anos em 6 de abril de 2015, em Roma.
(Fonte: http://www.ensp.fiocruz.br – ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA / NOTÍCIAS / Por Sergio Arouca – 07/04/2015)
Informe ENSP é um boletim eletrônico diário da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca.