Francisco Weffort, cientista político e ex-ministro da Cultura
Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), ex-ministro da Cultura Francisco Weffort foi um dos fundadores do PT
Francisco Weffort (1937-2021)
O professor que pensava a democracia no Brasil
Francisco Correa Weffort (Quatá, São Paulo, 17 de maio de 1937 – Rio de Janeiro, 1º de agosto de 2021), cientista político e ex-ministro da Cultura. Em 1995, assumiu o Ministério da Cultura do governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele ocupou o cargo até 2003, quando foi substituído por Gilberto Gil. Depois do fim do governo FHC, o estudioso voltou a se dedicar prioritariamente ao ensino e pesquisa em ciências políticas e sociais.
Com trajetória de destaque marcada pela atuação acadêmica e política, ele era um dos mais importantes pesquisadores e defensores da consolidação dos valores democráticos na vida política brasileira.
Natural da cidade de Quatá, no interior paulista, Weffort também foi fundador e presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), pesquisador do Centro de Estudos da Cultura Contemporânea (Cedec) e lecionou no Wilson Center e no Helen Kellogg Institute, ambas instituições nos EUA.
Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), Weffort participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), no qual ocupou o cargo de secretário-geral. Ele também participou ativamente da campanha das Diretas Já e pelo fim da ditadura militar. Em 1986, se candidatou a deputado constituinte, mas não foi eleito.
Filiado ao PT até 1994, ele deixou o partido para assumir o cargo de ministro no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) entre os anos de 1995 e 2002. Na pasta, defendeu o aumento do orçamento da Cultura e fez alterações na Lei Rouanet. Ele também implantou a Lei do Audiovisual, responsável por retomar a produção cinematográfica do Brasil.
O cientista político participou de forma ativa da campanha das Diretas Já e do protestos pela redemocratização do Brasil.
Weffort iniciou sua trajetória acadêmica em 1961, como professor da Universidade de São Paulo, lecionando em cursos de graduação até o golpe militar de 1964. Anos mais tarde, voltou a integrar o quadro de docentes da USP, onde permaneceu até 1995. Ao longo de sua carreira, lecionou ainda em prestigiadas universidades como as universidades de Essex (Inglaterra), Notre Dame (França) e de La Plata (Argentina), além do Woodrow Wilson Center (EUA).
Entre as mudanças propostas por Weffort na Lei Rouanet estavam o aumento do patamar de investimentos e a descentralização dos recursos aplicados, incentivando as empresas a investir fora do eixo Rio-São Paulo. Em 1995, o ator Guilherme Fontes conseguiu durante a gestão de Weffort a autorização para captar até 12 milhões de reais, o que se tornou um dos maiores orçamentos do cinema brasileiro, para a produção do filme Chatô – O Rei do Brasil.
Em entrevista a VEJA, em 2016, defendeu o impeachment de Dilma Rousseff. “Ela não tem nenhuma competência para a atividade política e detesta o contato com os outros políticos. Trata-se de uma administradora incompetente politicamente. Em segundo lugar, ela claramente mentiu sobre a política econômica”, disse.
Em 2016, Weffort quase foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras, mas a eleição terminou empatada com Antonio Cicero. Na segunda votação, ele não foi eleito. Weffort é dono de uma vasta produção bibliográfica. São de sua autoria as obras Formação do Pensamento Político Brasileiro, Por que Democracia e Qual Democracia? Seu último trabalho foi Crise da Democracia Representativa e Neopopulismo, escrito em parceria com o professor José Álvaro Moisés.
Gestão cultural
Segundo o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea (CPDoc) da Fundação Getúltio Vargas (FGV), durante sua gestão à frente do Ministério da Cultura, Weffort consolidou a legislação específica para a Cultura implementada a partir de 1992, que passou a ser melhor assimilada e utilizada pelos agentes culturais, empresas privadas e estatais, além do próprio governo.
Porém, foram os grandes que tiveram maior visibilidade, como a criação da Sala São Paulo, voltada para a música; a restauração da catedral da Sé, em São Paulo; a Mostra do Redescobrimento – Brasil 500 anos; o resgate da sinagoga de Recife e as exposições O Brasil dos viajantes, Rodin e Eckhout.
Foi durante a gestão de Weffort que ocorreu o que se convencionou chamar de retomada do cinema brasileiro, medido pelo percentual de filmes nacionais na programação das salas de projeção, que passou de 1,2%, em 1992, para cerca de 25% em 2001, e pelo número de espectadores de filmes brasileiros, que no mesmo período saltou de 36 mil para quase sete milhões.
Entre suas principais obras estão “Por que democracia?” (1984), “Qual democracia?” (1992) e “Formação do pensamento político brasileiro” (2006).
Ele nunca trabalhou no cinema. Mas foi um dos homens mais importantes para a História do Cinema Brasileiro.
Ele permaneceu no cargo de ministro da Cultura por sete anos, de 1995 a 2002, onde teve papel importante na retomada da produção cinematográfica no país, com a implementação da Lei do Audiovisual. Tanto a lei federal de incentivo, iniciada por Sérgio Paulo Rouanet (por isso Lei Rouanet) em 1991, e a Lei do Audiovisual, iniciada por Antônio Houaiss em 1992, já existiam antes do governo FHC. Mas só passaram a funcionar amplamente a partir de 1995.
No intuito de criar uma “cultura de investimentos” pelas leis de incentivo, Weffort estimulou empresas estatais, como a Petrobrás, o Banco do Brasil e principalmente as empresas de telecomunicações (Telebrás, Telesp, Telerj etc.) a se tornarem as principais investidoras do cinema brasileiro. O sucesso dos primeiros filmes logo chamou atenção da iniciativa privada.
Não por acaso, este período ficou conhecido pelo nome de “Retomada”, por representar o resgate da produção cinematográfica brasileira, praticamente interrompida durante o governo Collor, que fechou a Embrafilme em 1990.
A partir de 1995, com o sucesso de “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil”, “Terra Estrangeira” e “O Quatrilho”, o cinema brasileiro tomou novo rumo e embalou. De cerca de 15 filmes produzidos em 1995, o país saltou para 185 longas-metragens em 2018, último ano antes da devastação do governo Bolsonaro. E foi um salto também de qualidade. Enquanto Weffort foi ministro, o Brasil teve quatro filmes indicados ao Oscar – os longas “O Quatrilho” (em 1996), “O Que é Isso, Companheiro?” (em 1998) e “Central do Brasil” (em 1999), além do curta “Uma História de Futebol” (em 2001).
Em 2019, Bolsonaro acabou com o Ministério da Cultura, paralisou a Lei Rouanet, proibiu o patrocínio cultural de estatais, aparelhou a Ancine para congelar o Fundo Setorial do Audiovisual e vetou a renovação do Recine e da Lei do Audiovisual. Mas em agosto de 2020, o Congresso Nacional restituiu a Lei do Audiovisual, derrubando o veto obscurantista e mantendo vivo o legado de Weffort.
Weffort foi um dos ex-ministros da Cultura que protestaram contra a extinção do Ministério por Bolsonaro. “A extinção do Ministério da Cultura é um erro. A existência do Ministério tem garantido um olhar à altura da relevância da cultura e da arte na vida brasileira. Mesmo com recursos limitados, a pasta foi capaz de defender, formular, fomentar, criar e inovar a relação do Estado com a sociedade no plano da cultura, em respeito às tradições brasileiras desde o império”, dizia o texto de um manifesto assinado por ele e outros ex-ministros da pasta, que também questionava “a demonização das redes de incentivo” por Bolsonaro.
Enquanto Weffort morria, o ministro-sanfoneiro Gilson Machado, do Turismo, dava vexame como representante do Brasil numa conferência internacional de Ministros da Cultura, falando mentiras absurdas sobre a preservação da Amazônia – desmascaradas pelo vice-presidente Mourão no dia seguinte – num discurso ideológico que repercutiu negativamente em todo o mundo, ao mesmo tempo em que ignorou a pauta de Cultura do evento – de resto, irrelevante para o atual governo.
PT
No PT, o cientista político chegou a se lançar como candidato a uma vaga na Assembleia Nacional Constituinte, em 1986, mas não conseguiu conquistar a vaga por São Paulo.
Três anos depois, Weffort apoiou a candidatura de Lula à Presidência da República, embora tenha manifestado publicamente discordâncias com relação a alguns aspectos da orientação política petista.
Peça fundamental na estruturação do PT, o cientista político deixou o partido no início dos anos 1990 para se concentrar no estudo sobre novos regimes políticos.
O desligamento do PT, seguido da entrada no governo tucano, foi alvo de críticas. O cientista político chegou a ser tema de dissertação de mestrado, publicada em 2020, na Unesp, sob o título de: “Do PT ao governo FHC: a trajetória político-intelectual de Francisco Weffort”.
Nos anos 2000, ele era um dos defensores de que o PT fizesse aquilo que mais tarde seria chamado de autocrítica sobre a participação de dirigentes do partido no escândalo do mensalão.
Desde 2002, ele era casado com a socióloga Helena Severo, ex-secretária estadual de Cultura do Rio de Janeiro.
Francisco Weffort faleceu em 1º de agosto de 2021, no Rio de Janeiro, aos 84 anos, em decorrência de um infarto do miocárdio.
Ele estava internado no hospital Casa de Saúde São José.
A diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV, a professora Claudia Costin confirmou a informação no Twitter.
“Acabo de receber a triste notícia do falecimento do Francisco Weffort, cientista político, ex-ministro da Cultura e professor titular da USP. Conversávamos muito no governo Fernando Henrique Cardoso”, escreveu.
Na segunda-feira (2/8), o ex-presidente Fernando Henrique prestou uma homenagem a seu antigo ministro em suas redes sociais. “Hoje minha homenagem e minhas considerações estão voltadas especialmente ao caro Weffort, que deixa um vazio imenso em todos os que lhes eram próximos. Saudades”, escreveu.
Por meio de nota, ex-presidente Lula também destacou a importância do antigo ministro, em seu caso para a estruturação do PT. “Francisco Weffort foi um cientista político que marcou a academia brasileira, um professor por vocação, e um intelectual público dedicado a pensar sobre a democracia e o Brasil, não só estudando e refletindo sobre nossa realidade, mas também atuando como cidadão pelas causas que acreditava para um país melhor”, escreveu o petista.
Ex-ministros da Cultura também manifestaram pesar pela morte de Weffort. Sérgio Sá Leitão, que ocupou o posto no governo Temer, destacou que o cientista político “ajudou a consolidar o MinC, valorizou as instituições federais da área e potencializou a Lei Rouanet”. Marcelo Calero afirmou nas redes sociais que Weffort foi “um grande nome na construção de políticas públicas culturais”.
(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – NOTÍCIAS / BRASIL / por Felipe Branco Cruz / VEJA / fornecido por Microsoft News – 02/08/2021)
(Fonte: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/08/02 – RIO DE JANEIRO / NOTÍCIA / Por G1 Rio – 02/08/2021)
(Fonte: https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2021/08/02 – Correio Braziliense / NOTÍCIA / POLÍTICA – 02/08/2021)
(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – NOTÍCIAS / BRASIL / por Pipoca Moderna /