Merle Oberon, foi uma estrela de Hollywood da era dos filmes preto e branco

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A estrela que escondeu sua origem para fazer sucesso em Hollywood

 

Merle Oberon precisou esconder sua origem indiana para conseguir papeis em filmes americanos nas décadas de 1930 e 1940.

 

Merle Oberon, nascida Estelle Merle O’Brien Thompson (Bombaim, 19 de fevereiro de 1911 – Califórnia, 23 de novembro de 1979), foi uma estrela de Hollywood da era dos filmes preto e branco.

 

Mais conhecida por interpretar o clássico Morro dos Ventos Uivantes (1939), Oberon era uma anglo-indiana nascida em Bombaim em 1911. Mas como uma estrela da Era de Ouro de Hollywood, ela manteve seu passado em segredo, posando como uma pessoa branca durante toda a vida.

 

Mayukh Sen, escritor e acadêmico norte-americano, ouviu o nome da estrela pela primeira vez em 2009, quando descobriu que Oberon havia sido a primeira pessoa de ascendência sul-asiática a ser indicada ao Oscar.

 

Seu fascínio cresceu quando ele viu seus filmes e mergulhou em seu passado.

 

“Como uma pessoa quer, simpatizo com esse sentimento de que você precisa esconder uma parte de sua identidade para sobreviver em uma sociedade hostil que não está realmente pronta para aceitar quem você é”, diz ele.

 

Sen está trabalhando em uma biografia da atriz a partir de uma perspectiva do sul da Ásia.

 

Uma mãe que era a avó

 

Oberon, cujo nome verdadeiro era Estelle Merle O’Brien Thompson, nasceu em Bombaim em 1911, numa época em que a Índia era uma colônia britânica.

 

Sua mãe tinha origem no Ceilão – agora do Sri Lanka – e em Maori, enquanto seu pai era britânico.

 

A família se mudou para Calcutá em 1917, três anos depois que o pai de Oberon morreu. Ela começou a atuar por meio da Sociedade Teatral Amadora de Calcutá na década de 1920.

 

Depois de ver um filme mudo Angel of Darkness pela primeira vez no cinema, em 1925, Oberon se inspirou em sua protagonista, Vilma Bánky, para se tornar atriz, de acordo com Sen.

 

Ela partiu para a França em 1928, depois que um coronel do exército a apresentou ao diretor Rex Ingram, que lhe deu pequenos papéis em seus filmes.

 

A mãe de Oberon, Charlotte Selby, que tinha o tom da pele mais escura, a acompanhou como empregada.

 

Um documentário de 2002 chamado The Trouble with Merle (O problema com Marle, em tradução livre) descobriu mais tarde que Selby era, de fato, a avó de Oberon.

 

A filha de Selby, Constance, teve Oberon na adolescência, mas as duas foram criadas como irmãs por alguns anos.

 

A mentira da Tasmânia

 

A primeira grande chance de Oberon no cinema veio de Alexander Korda, um cineasta com quem ela se casaria mais tarde, que a escalou como Ana Bolena em Os Amores de Henrique VIII (1933).

 

Os agentes de Korda tiveram que inventar uma história para explicar a origem de Oberon.

 

“A Tasmânia, na Austrália, foi escolhida como seu novo local de nascimento porque estava muito longe dos Estados Unidos e da Europa e era geralmente considerada uma região ‘britânica'”, escreveu Marée Delofski, diretora de The Trouble with Merle.

 

Oberon posou como uma garota de classe alta de Hobart (capital da Tasmânia) que se mudou para a Índia depois que seu pai foi morto em um acidente de caça, disse Delofski.

 

No entanto, a atriz logo se tornou uma parte intrínseca do folclore local na Tasmânia e, pelo resto de sua carreira, a mídia australiana a seguiu de perto com orgulho e curiosidade.

 

Ela até reconheceu a Tasmânia como sua origem e raramente mencionou a Índia.

 

Mas Calcutá se lembrou dela. “Nas décadas de 1920 e 1930, havia menções passageiras nas memórias de muitos ingleses” que moravam na cidade indiana, diz a jornalista Sunanda K. Datta Ray.

 

“As pessoas diziam que ela nasceu na cidade, que era telefonista e que ganhou um concurso no restaurante Firpo”, acrescenta.

 

Chegada em Hollywood

 

Como ela fez mais filmes em Hollywood, Oberon mudou-se para os Estados Unidos e em 1935 foi indicada ao Oscar por seu papel em uma nova versão de O Anjo das Trevas.

 

Mas foi sua atuação em Morro dos Ventos Uivantes (1939), ao lado da lenda da atuação Laurence Olivier, que consolidou seu lugar na indústria.

 

Ela foi escolhida no lugar de Vivien Leigh, outra atriz nascida na Índia, porque a equipe por trás do filme sentiu que ela era um nome maior, diz Sen.

 

Uma crítica do filme publicada pelo jornal The New York Times afirmou que Oberon havia “capturado perfeitamente o espírito inquieto da heroína de (Emily) Brontë”.

 

O final da década de 1930 catapultou Oberon para a notoriedade em Hollywood, conta Sen. Seu círculo íntimo incluía figuras como o compositor musical Cole Porter e o dramaturgo Noël Coward.

 

Mudança de sotaque

 

Korda e o produtor veterano Samuel Goldwyn ajudaram Oberon a mudar seu sotaque, o que teria revelado suas origens do sul da Ásia, diz Sen.

 

O segredo de Oberon pesava muito sobre ela, mesmo que sua cor de pele clara tornasse fácil para ela se passar por branca na tela.

 

“Ela muitas vezes ainda sentia a necessidade de silenciar os murmúrios frequentes de que ela era mestiça. Os jornalistas de cinema de sua época notaram sua pele mais bronzeada”, diz Sen.

 

Alguns relatos afirmam que a pele de Oberon foi danificada por tratamentos de clareamento.

 

Depois que Oberon se feriu em um acidente de carro em 1937, o diretor de fotografia Lucien Ballard desenvolveu uma técnica que a iluminou de uma maneira que disfarçava o que havia acontecido (Oberon se divorciou de Korda e se casou com Ballard em 1945).

 

“Algumas fontes sugeriram que a técnica também era uma maneira de clarear o rosto de Merle na câmera”, diz Sen.

 

O sobrinho de Oberon, Michael Korda, que publicou um livro de memórias da família chamado Alexander Korda: Uma Vida de Sonho, em 1979, disse que ocultou detalhes do passado da tia depois que ela ameaçou deserdá-lo. Os detalhes incluem seu nome real e local de nascimento.

 

“Achei que havia água suficiente debaixo da ponte, mas ela ainda se importava muito com seu passado”, disse ele em entrevista ao Los Angeles Times.

 

Fugindo das perguntas

 

Com o passar do tempo, a farsa se tornou mais difícil de sustentar.

 

Em 1965, Oberon cancelou aparições públicas e interrompeu uma viagem à Austrália depois de saber que os jornalistas locais estavam curiosos sobre sua vida.

 

Relatos da época afirmavam que ela estava perturbada durante sua última visita à Tasmânia em 1978, pois as perguntas sobre sua identidade continuavam surgindo.

 

Mas ela nunca admitiu a verdade em público. Oberon morreu em 1979, de um acidente vascular cerebral.

 

Em 1983, sua herança anglo-indiana foi revelada em uma biografia, Princess Merle: The Romantic Life of Merle Oberon.

 

Os autores encontraram sua certidão de nascimento em Bombaim, sua certidão de batismo e fotografias de seus parentes indianos.

 

Por meio de seu livro, Sen espera transmitir as enormes pressões que Oberon enfrentou como uma mulher do sul da Ásia “navegando em uma indústria que não foi projetada para se adequar a ela e produzindo um trabalho tão emocionante enquanto lutava nessas batalhas”.

 

“Lidar com essas lutas não deve ter sido fácil. É mais útil ter empatia com ela do que julgá-la.”

(Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral- BRASIL / BBC NEWS / por Meryl Sebastian – BBC News em Déli  – 23/04/2022)

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