Alemanha inaugura primeira frota de trens movida a hidrogênio no mundo
Linha da Baixa Saxônia vai operar com 14 locomotivas que dispensam o uso do diesel
Alemanha terá 1ª frota de trens movida a hidrogênio do mundo
A Alemanha terá a 1ª frota de trens movida a hidrogênio do mundo. Serão 14 locomotivas, produzidas pela empresa francesa Alstom, que operarão em uma linha do Estado alemão de Baixa Saxônia, no norte do país. Os trens substituirão 15 locomotivas a diesel.
— A qualquer hora do dia, os passageiros farão essa viagem graças ao hidrogênio — celebrou Stefan Schrank, gerente de projetos da Alstom, à AFP.
O transporte movido a hidrogênio é considerado uma alternativa para reduzir as emissões de CO2 e substituir o diesel, que alimenta 20% das viagens ferroviárias na Alemanha. Os trens da Alstom combinam o hidrogênio armazenado a bordo com o oxigênio presente no ar, produzindo a eletricidade necessária para garantir a movimentação do vagão.
Em comunicado, a LNVG, que opera a rede ferroviária da Baixa Saxônia, informou que 5 trens já estão em funcionamento e os outros vão estar operando até o fim do ano. Os trens atenderão linha de 123 kms que passa pelas cidades de Buxtehude, Bremerhaven e Cuxhaven.
“Este projeto está dando um exemplo global, é um excelente exemplo de uma transformação bem-sucedida”, declarou o governador da Baixa Saxônia, Stephan Weil, em cerimônia realizada nesta 4ª feira (24.ago.2022). “Avançamos mais um passo no caminho para a neutralidade climática em nosso setor de transporte.”
Conforme o ministro da Economia, Trabalho, Transportes e Digitalização do Estado, Bernd Althusmann, o custo para a aquisição das 14 locomotivas foi de mais de € 85 milhões.
“O fato de o governo federal estar contribuindo com € 8,4 milhões adicionais garante que [o projeto] terá um impacto além de nossas fronteiras estaduais e além da Alemanha”, falou.
Projetados na cidade francesa de Tarbes e montados em Salzgitter, no centro da Alemanha, esses trens são testados comercialmente desde 2018, com dois deles funcionando regularmente na região. A Alstom já assinou quatro contratos para entregar dezenas transportes como esse para Alemanha, França e Itália, e a demanda continua crescendo.
— Apenas na Alemanha, entre 2, 5 mil e 3 mil trens a diesel poderiam ser substituídos por trens a hidrogênio — calcula Schrank.
Os concorrentes da Alstom também entraram no mercado. O grupo alemão Siemens, por exemplo, apresentou em maio um modelo do tipo para a empresa ferroviária Deutsche Bahn, que deve começar a operar em 2024.
— Em 2035, entre 15 e 20% do mercado europeu de rotas regionais poderá funcionar com hidrogênio — estimula Alexandre Charpentier, especialista em ferrovias da consultoria Roland Berger.
O especialista alerta, porém, que há barreiras reais para colocar esse plano em prática. Tanto na Alemanha como em toda a Europa, ainda falta a infraestrutura necessária para a produção ou transporte, o que exigirá muitos investimentos. Além disso, o recurso é mais escasso, apesar de ser um desejo de todo o setor de transportes, seja de veículos rodoviários ou aeronaves, assim como da indústria pesada — como a siderurgia e química — para reduzir as emissões de dióxido de carbono.
— Por isso não vejo um cenário em que 100% dos trens a diesel serão substituídos por trens a hidrogênio — avalia Charpentier.
Também é importante ressalta que todo o hidrogênio não é necessariamente livre de carbono. Apenas o hidrogênio verde, feito a partir de energias renováveis, é considerado sustentável. Existem outros métodos de fabricação mais comuns, mas que emitem gases de efeito estufa, pois são baseados em combustíveis fósseis. Prova da escassez do produto é que a linha da Baixa Saxônia utilizará inicialmente o hidrogênio resultante da atividade de outras indústrias, como a química.
O instituto de pesquisa francês IFP, especializado em questões energéticas, aponta que atualmente o hidrogênio “vem 95% da transformação de combustíveis fósseis”, e quase metade é oriunda da transformação de gás natural. Esse é considerado um duplo problema, pela poluição causada pelo uso do gás, e pelas dificuldades de abastecimento desta matéria-prima fóssil na Europa, em grande parte dependente do gás russo que se tornou uma arma política com a guerra na Ucrânia.
A Alemanha terá que importar massivamente para atender às suas necessidades. Recentemente, foram firmadas parcerias com a Índia e o Marrocos, e um acordo para importação de hidrogênio do Canadá esteve em pauta nesta semana durante a visita do chanceler Olaf Scholz na América do Norte.
— As decisões políticas devem priorizar qual setor vai a produção de hidrogênio — disse Charpentier.
O 1º teste comercial do novo tipo de trem foi feito em 2018. Desde então, 2 protótipos operaram na linha sem que, segundo a LNVG, houvesse problema com o funcionamento.
A empresa disse que a substituição fará com que 1,6 milhão de litros de diesel deixem de ser consumidos anualmente –o que significa redução de 4.400 toneladas de CO2 lançadas todos os anos na atmosfera.
“Temos 126 locomotivas a diesel, que usamos em várias ferrovias na Baixa Saxônia”, disse Carmen Schwabl, porta-voz da administração da LNVG, acrescentando que, para “proteger o clima”, a empresa não comprará mais trens movidos a diesel. “Também estamos convencidos de que os trens a diesel não serão mais econômicos para operar no futuro”, declarou.
“Dependendo das circunstâncias nas redes de rotas não eletrificadas, a LNVG decidirá se usará trens movidos a hidrogênio ou a bateria.”
(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/carros/compra – CARROS / por Poder360 – 24/08/2022)
(Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/noticia/2022/08 – MUNDO / ÉPOCA / NOTÍCIA / Por AFP — Berlim, Alemanha – 24/08/2022)