Lev Davidovitch Bronstein, mais conhecido pelo nome de guerra de Leon Trotsky

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A volta do leão

Moscou reabilita Leon Trotsky

O antigo bolchevique, ocupou o cargo de primeiro chefe da diplomacia soviética.

Desde 1929, ano em que foi banido da União Soviética, Lev Davidovitch Bronstein, mais conhecido pelo nome de guerra de Leon Trotsky, não pode mais voltar a seu país nem mesmo na forma de fotografia histórica. Revolucionário que teve acima de si, no papel representado nos acontecimentos de 1917, apenas a figura do próprio Vladimir Lênin, Trotsky não só pagou com a própria vida o fato de ter-se oposto a Josef Stálin – mas, além de ter sido assassinado em 1940 no México, onde vivia exilado, mereceu ainda o opróbrio de ter sua figura apagada das fotos e seu nome riscado das enciclopédias.

Uma reviravolta extraordinária com o antigo rebelde foi reentronizado no altar da revolução de forma espetacular – nada menos do que durante o desfile comemorativo dos setenta anos da tomada do poder pelos bolcheviques, realizado em novembro de 1987. Foi o mais fantástico dos gestos consumados até agora pela política renovadora do líder Mikhail Gorbachev.

Trotsky, assassinado a golpes de picareta por um agente de Moscou, Ramon Mercader, mas também de outras vítimas ilustres de Stálin, como Nikolai Bukharin, fuzilado em 1938 por se opor a coletivização forçada do setor agrícola. Nada mais expressivo, porém, do que chamar Trotsky, o maldito dos malditos, de “herói e mártir da revolução”, como fez o jornal Izvestia.

TRIUNFO DA VERDADE -– O debate histórico na União Soviética não é pacífico nem, tem a ver apenas com a História – mas com questões muito vivas que assolaram o país. Em agosto de 1987, Egor Ligachev, número 2 nominal do partido e, ao que consta, chefe da facção conservadora, sentenciou.

“Apesar dos erros, os anos 30 também devem ser associados a progressos reais”, em defesa de Stálin. “Nessa época o país se industrializou, coletivizou a agricultura e obteve níveis sem precedentes em matéria de arte, cultura, educação e literatura.”

TRIUNFO DA VERDADE – O debate histórico na União Soviética não é pacífico nem, tem a ver apenas com a História – mas com questões muito vivas que assolaram o país. Em agosto de 1987, Egor Ligachev, número 2 nominal do partido e, ao que consta, chefe da facção conservadora, sentenciou.

“Apesar dos erros, os anos 30 também devem ser associados a progressos reais”, em defesa de Stálin. “Nessa época o país se industrializou, coletivizou a agricultura e obteve níveis sem precedentes em matéria de arte, cultura, educação e literatura.”

A reabilitação de Trotsky serviria para reforçar os ataques ao burocratismo, em que ele foi um campeão. O patrono supremo da tendência da simples verdade pode ser identificado na figura de Alexander Yakovlev, tido como o inventor da glasnost e feito membro do Politburo do Partido Comunista. Numa conferência pronunciada perante uma plateia de cientistas sociais, Yakovlev denunciou os trabalhos acadêmicos em que se notam a “despersonalização dos processos históricos, os espaços em branco em torno de períodos inteiros e o esquematismo”. “Quero deixar claro que não esperamos nenhuma revisão da sociedade, do Estado, do partido ou do desenvolvimento econômico e social.
(Fonte: Veja, 16 de setembro de 1987 -– Edição 993 –- URSS -– Pág; 41)

 

 

 

 

Isaac Deutscher (Polônia, 3 de abril de 1907 -– Londres, 19 de agosto de 1967), poeta aos dezesseis anos, aos vinte anos filiado ao então proscrito PC da Polônia, aos 25 expulso pelos estalinistas “por exagerar o perigo nazista”, contribuinte de várias revistas, como as inglesas “The Economist” e “The Observer”, neste seu trabalho de biógrafo faz uma severa análise do mais temido dos líderes comunistas. Mas recusa-se até o fim a fazer uma crítica do comunismo. Onde talvez estivesse o problema central. Foi integrante do Partido Comunista Polonês, do qual foi expulso em 1932. Mudou-se para Londres, onde viveu até sua morte em 1967

Especialista em assuntos soviéticos, autor de uma biografia de Trótski em três volumes -, numa extensa e cuidadosa análise do homem e das circunstâncias históricas de seu tempo procura mostrar que o etcétera do testamento de Lênin poderia ainda conter: hipocrisia, desrespeito pela vida humana, sede de poder, mediocridade ambiciosa. Estranhamente, para o autor, essa insólita lista de defeitos não serve para alinhar Stálin ao lado de Hitler. Prefere classificá-lo como “déspota revolucionário”, família que incluiria Cromwell e Napoleão, sem os quais as revoluções inglesa e francesa, respectivamente, não se completariam. Suas conclusões são pelo menos generosas: “… não se pode colocar Stálin ao lado de Hitler entre os tiranos ques e distinguiram pela total indignidade e inutilidade.

Hitler foi o chefe de uma estéril contra-revolução, ao passo que Stálin foi a um só tempo o chefe e o explorador de uma revolução trágica, contraditória, mas criadora. Como Cromwell, Robespierr e Napoleão, ele começou como servo de um povo insurreto e se tornou senhor desse povo”. Assim, Isaac vê em Stálin a força de coesão que impediu os movimentos contra-revolucionários, a invasão da divisões hitlerianas e evitou o caos das lutas internas. Para conseguir isso, o biógrafo mostra que o etcétera dos defeitos do ditador necessitaria um complemento: Stálin era um modelo de senso prático, obstinação, disciplina e segurança. A serpente que Lênin criara, se não tinha o treino intelectual, mostraria para compensar uma força e astúcia sem limites.

O início – Joseph Stálin nasceu em 1879, filho de humildes camponeses da Geórgia. Até o fim de sua vida se alegrava de marcar essa origem de classe, olhando com desprezo os camaradas de origem pequeno-burguesa como Trótski. Os escritores de ocasião viram em seus primeiros anos pequenos episódios que revelavam o “homem de aço” (Stálin, em russo) da idade adulta. Os antiestalinistas, abundantes depois de 1956 (início da “desestalinização”), encontraram no estudante do Seminário de Teologia de Tíflis, capital do Cáucaso, o embrião do futuro tirano.

Para Isaac Deutscher, preocupado em escrever uma biografia e não um panegírico ou um panfleto, a descrição dos primeiros anos da vida de Stálin evidencia a origem de sua personalidade. Filho de servos, num tempo em que o camponês era vendido por anúncio de jornal, “os ensinamentos socialistas atraíram-no porque pareciam dar sanção moral ás suas próprias emoções (…).

Seu socialismo era frio, grave, áspero”. Mas, se esses traços de caráter seriam de grande utilidade no futuro, “estavam associados a sérias desvantagens”. A mais notável delas seria seu despreparo intelectual, que, dentro do movimento socialista nascente, poderia significar uma carreira menos brilhante e menos respeitável. Ao mesmo tempo, sua concepção mítica do povo mostrava o zêlo do seminarista – ele nascera para levar o povo da Mãe Russa à “Terra Prometida do Socialismo”, explicou Deutscher.

O caminho – Mas, entre o pseudônimo “Soselo” (Zèzinho) com que assinou versos patrióticos nos tempos de seminário e a enxurrada de epítetos (“Pai dos Povos”, “O Maior Gênio da História”, “Amigo e Mestre de Todos os Trabalhadores”, “Radioso Sol da Humanidade”) com que era chamado pelos aduladores, Stálin primeiro e depois a “mãe russa” tiveram de percorrer um caminho rude e sangrento em direção à “terra prometida”. A partir de 1901, sua contribuição à revolução bolchevista foi através dos movimentos clandestinos. Passou quinze anos na ilegalidade, adotando mais de vinte nomes falsos. Foi quando conheceu Trótski, o que se tornaria seu principal inimigo na disputa pelo poder, após a morte de Lênin.

O autor faz um relato pormenorizado da luta entre esses dois homens, o tacanho filho de camponeses e o intelectual pequeno-burguês e brilhante, na qual Trótski iria sentir toda a força do temperamento vingativo do ditador: em 1925, Stálin expulsou-o do Partido; em 1929, da União Soviética; e, em 1940, da vida. Exilado no México, Leon Trótski morria assassinado por um fanático estalinista, quando trabalhava precisamente para explicar a sua inexplicável derrota diante de um homem infinitamente menos dotado do que ele.

Segundo Deutscher, Joseph Stálin só teve em sua vida política uma ideia original: o socialismo deveria triunfar num só país. E mesmo essa ideia ele elaborou por uma deficiência: sua inteligência limitada, incapaz de pensar nos inúmeros componentes do quadro mundial. Lutando contra a inferioridade intelectual que o martirizava, desenvolveu uma oratória que não ia além de citações infindáveis de lugares-comuns do marxismo-leninismo, no que foi fielmente copiado por todos os dirigentes comunistas de seu tempo.

Quatro meses após a morte de Lênin, em 1923, a leitura de seu testamento era uma desagradável surpresa para o então secretário geral do Partido Comunista Soviético. Dele, Lênin havia escrito: “… é excessivamente rude, e esse desfeito torna-se intolerável no cargo de secretário geral. Portanto, proponho que os camaradas encontrem um meio de afastá-lo desse cargo e nomeiem outro homem (…) mais paciente, mais leal, mais cortês, mais atencioso com os camaradas, menos caprichoso, etc”. Joseph Stálin, o secretário geral, contrariando os desejos de Lênin, não somente iria permanecer no posto como iniciar uma tirania que durou mais de trinta anos, exercida sobre milhões de criaturas, no seu país e fora dele, à distância de milhares de quilômetros e no seu círculo familiar.

(Fonte: Veja, 3 de junho de 1970 -– Edição 91 -– Literatura -– Pág; 76/77)

 

 

 

Nasce, em 7 de novembro de 1879, o russo Leon Trotsky, um dos revolucionários de 1917.

(Fonte: Zero Hora – ANO 52 – Nº 17.287 – 7 de novembro de 2015 – HOJE NA HISTÓRIA – Pág: 36)

 

 

Calcula-se que o regime de Josef Stalin tenha matado cerca de 20 milhões de pessoas.

Trotsky foi mais um juntamente com a expulsão de algumas dezenas de intelectuais da União Soviética, ocorrida em 1922 – sete anos antes de Stalin subir ao poder e cinco depois da Revolução Russa.

Derrotado por Josef Stalin na briga pela sucessão de Lenin, Trotsky seria morto, em seu exílio no México, por um agente stalinista, em agosto de 1940.
(Fonte: Veja, 5 de março, 2008 –- Ano 41 -– N° 9 -– Edição 2050 -– LIVROS/ Por Moacyr Scliar -– Pág: 112/113)

(Fonte: Veja, 7 de novembro de 1979 – Edição 583 – HISTÓRIA/ Por Pedro Cavalcanti – Pág: 68/77)

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